domingo, 27 de março de 2011

ZOONA

ZOONA - encontro literário de Curitiba. Acontecerá
nos dias 15, 16 e 17 de abril. Durante três dias,
escritores e artistas da cidade e de outros lugares, com a intenção de
abrir um espaço simbólico que consiga festejar, refletir e mostrar
trabalhos criativos, apresentarão temas-provocações em debates de
mesa-redonda, poesia ao vivo, performances, lançamentos de livros e
mostra de video. APEGOS é apenas o começo de uma
série de atividades que comemorarão a obra e a vida dos
homenageados Wilson Bueno (1949-2010) e Valêncio Xavier (1933-2008).

terça-feira, 15 de março de 2011

Cineclube urtiga!

O Colegiado de Letras, da FAFIUV (Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - PR) inaugurará o Cineclube Urtiga no próximo sábado (19/03/2011). O Cineclube é um projeto coordenado pelos professores Luisandro Mendes de Sousa e Caio Ricardo Bona Moreira. As sessões serão quinzenais e contarão, além da projeção de um filme previamente selecionado, com debates entre os participantes. As projeções ocorrerão normalmente no Salão Nobre da Instituição. Em caso de algum outro evento na Faculdade, será utilizada alguma sala de aula.

Visando cumprir o previsto no Projeto Polítco Pedagógico (PPP) do curso, o Colegiado de Letras promoverá durante o ano letivo de 2011 a exibição de diversos filmes, inseridos dentro de ciclos temáticos ou históricos. De acordo com o PPP do curso de Letras, é tarefa do curso promover atividades culturais que integrem a comunidade acadêmica com a população, visando a difusão dos bens culturais, tecnológicos e científicos. Um dos objetivos do cineclube é também ser uma alternativa ao cinema comercial convencional, educando o gosto da comunidade para outras formas de expressão cinematográfica, que de outra forma seriam inacessíveis ao público universitário e à comunidade em geral. Assim, esse tipo de atividade funciona como um incremento na formação cultural acadêmica, que nem sempre é possível de ser contemplada em sala de aula.


O cineclube exibirá no primeiro ciclo clássicos do cinema mudo. O segundo ciclo contemplará o documentário nacional. No segundo semestre os filmes serão de dois períodos do cinema europeu, a Nouvele Vague francesa, e o Neo-realismo italiano.

O primeiro ciclo exibirá no próximo dia 19 de março (sábado), às 17:00hrs, o filme "Limite" de Mário Peixoto. Lançado em 1931, e única produção do diretor, é um marco no cinema brasileiro, tanto por sua beleza, quanto por sua narrativa ousada, influenciada pelas vanguardas européias da época.
A entrada é franca e aberta a toda comunidade.  

Programação provisória:

- março/abril
Clássicos do cinema mudo
12/03 - Limite (Mário Peixoto, 1931)
26/03 - Homem com uma câmera na mão (Dziga Vertov, 1929)
09/04 - O gabinete do Dr. Caligari (Robert, Weine, 1920)
16/04 – Metrópolis (Fritz Lang, 1927)

- maio/junho

O documentário nacional
07/05 - Cabra marcado pra morrer (Eduardo Coutinho, 1984)
21/05 - O prisioneiro da grade de ferro (Paulo Sacramento, 2004)
04/06 - Ônibus 174 (José Padilha, 2002)
18/06 – Estamira (Marcos Prado, 2006)

- Agosto/setembro (datas a serem agendadas)

Nouvele Vague
- Acossado (Jean-Luc Godard, 1959)
- Os incompreendidos (François Truffaut, 1959)
- Band a part (Jean-Luc Godard, 1964)
- Hiroshima mon amour (Alan Resnais, 1959)

- Outubro/novembro (datas a serem agendadas)

Neo-realismo italiano
- Ladrões de bicicletas (Vitorio de Sica, 1948)
- Roma, cidade aberta (Roberto Rosselini, 1945)
- A aventura (Michelangelo Antonionni, 1960)
- A estrada da vida (Fellini, 1954)

terça-feira, 8 de março de 2011

amor de carnaval

Pierro, Arlequim e Colombina, óleo sobre tela - 78 x 65 cm- 1922 - Di Cavalcanti.
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Ela morava no Vice King. Ele no Cristo Rei. Eurídice trabalhava no comércio. Orfeu, de repositor, no mercado. Ela gostava de beijar e torcia para ser promovida. Orfeu gostava de palavras cruzadas e amava música. Nos finais de semana, tocava guitarra em uma banda gauchesca. E fazia segunda voz. Foi então que, em um baile de carnaval, conheceu Eurídice. Amaram-se no portão, depois no sofá e, por fim, na cama e no chão. Casaram-se. Passou um ano e ainda se amavam, alegres ma non troppo. Aristeu, o gerente, promoveu Eurídice. O casal comemorou na choperia. No entanto, Aristeu tinha segundas intenções. Queria amar Eurídice na cama e no chão. Eurídice amava Orfeu, mas desejava Aristeu. O outro carnaval chegou. Domingo, a jovem esperou Orfeu dormir. Escondida e fantasiada foi encontrar Aristeu no Clube. Alta madrugada, Orfeu acordou e encontrou o lado esquerdo da cama vazio. Ainda teve tempo de sentir os restos de um perfume ladino e sagaz que Eurídice, há meses, deixara de usar. Seguindo os eflúvios que atestavam a fuga momentânea e planejada da mulher amada, Orfeu invadiu o Clube, decidido a resgatar Eurídice daquele Inferno. Orfeu chegou ao trono de Hades. O deus dos mortos se enfureceu com a intromissão daquele que não comprara ingresso e nem era associado do distinto estabelecimento. Mas comoveu-se com a triste música de sua lira. E permitiu que Eurídice regressasse. No entanto, o jovem Orfeu não deveria olhar para ela, ou extrair sua máscara, até que nascesse a luz do sol. Caso contrário, Eurídice voltaria para o Inferno. Aristeu sai da história e Eurídice cai nos braços de Orfeu. Eu já disse que Eurídice amava Orfeu? Pois bem, saíram felizes pela cidade a caminho de casa. Orfeu, todavia, desrespeita a ordem de Hades e olha para Eurídice, que imediatamente é tragada definitivamente pelas profundezas do Inferno. O canto de lamento do jovem fez tremer a cidade e adjacências. Triste e desiludido, todos os anos Orfeu passa o carnaval bebendo, chorando, discutindo futebol e comendo batata temperada em um bar da cidade.

segunda-feira, 7 de março de 2011

é assim que deveria começar Metamorfose, de Kafka


Para Carmen, numa madrugada de Carnaval
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"Certa manhã, após um sono conturbado, Caio Moreira acordou e viu-se em sua cama transformado em um passarinho monstruoso. Com as asas abertas, cheias de penas, deparou-se com um pescoço negro e duas pernas finas, sobre as quais tentava, em vão, se equilibrar. Abriu o bico, abaixou a cabeça e enxergou seu ventre acinzentado, acentuadamente estufado, como o peito de uma pomba. Não, não era uma pomba. Era um pardal. O quarto transformara-se numa gaiola gigante. Ao seu redor, percebeu papéis, papéis e mais papéis, a que o vulgo chama Tese..."

domingo, 6 de março de 2011

a masturbação da crítica


Várias das críticas dirigidas ao Cisne Negro, de Darren Aronofsky, insistiram em “malhar” algumas cenas consideradas bizarras e grotescas, como a do nascimento de penas pretas nas costas da bailarina Nina, protagonizada pela linda Natalie Portman, e a da masturbação. Paulo Roberto Pires, na Bravo! (Fevereiro), argumentou que a obra mais recente de Aronofsky vai da tensão psicológica ao horror gótico e obtém um “resultado francamente cafona”. João Pereira Coutinho, no Caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo, escreveu que ao confundir a natureza da arte com a arte da masturbação, “tudo que resta de Cisne Negro é um ecrã viscoso e sujo. Como um lençol de adolescente”. Ambos destacaram a bela interpretação de Portman, mas lamentaram o resultado final.

Antes mesmo de assistir ao filme, achei estranha a opção dos dois críticos, colaboradores de dois veículos informativos de grande circulação nacional, em reiterar lugares comuns, não apenas do filme, mas da própria crítica: Isso é ruim, isso é bom. E o pior, a transformarem a crítica em uma sátira de mau gosto. Não estou defendendo aqui uma crítica bem comportada, aquela que acende uma vela para o objeto que se propõe analisar. Pelo contrário, creio que uma crítica deve fazer faísca, produzir uma energia capaz de transformar a própria arte que julga necessário criticar. Não estaríamos aqui distante do Princípio da Incerteza, tal como formulou Heisenberg, cientista alemão que descobriu que o observador influência com o seu olhar o comportamento das partículas observadas. Ao modificar a obra, o crítico pode modificar um filme, bem como a nossa percepção da própria realidade. Situar-se em um lugar “de fora” da arte, como se não fizesse parte dela,  é um erro inocente de uma crítica que se julga apta para condenar ou louvar. Não seria fortuito aqui observarmos que são também os críticos masturbadores de plantão.

João Pereira Coutinho parece que só assistiu a cena da masturbação. Foi infeliz. Paulo Roberto Pires chegou a afirmar que a tensão produzida pelo filme ficaria melhor em A Bruxa de Blair. Há exageros no filme, concordo. No entanto, não devemos esquecer que o bizarro e o grotesco apontados pelos críticos fazem parte da materialização da “paranóia” de Nina. Qualquer indício de transbordamento do copo cheio é sintoma de um mergulho profundo no horror vivido pela bailarina perfeccionista. Exigir coerência interna da obra é uma coisa, cobrar sanidade de um filme que coloca em "xeque" a sua própria razão é outra. Prantear o fato dela extrapolar no bizarro pode ser infrutífero, já que estamos na ordem de uma personagem que não nos garante nada mais do que restos de uma luta interior.

Penso que não devemos olhar o filme como quem vê uma alucinada, mas como quem, alucinado, assiste a um balé de horrores. Em outras palavras, devemos assisti-lo com olhos de Nina. Se olharmos com olhos de “fora” o filme parecerá uma versão barata de um suspense-terror B. E tudo será arranhões à Bebê de Rosemary e corredores escuros de Stephen King. Se olharmos de “dentro” (e haja psicanálise para isso!), com os olhos dos dedos de Nina, tocando fundo os pêlos pubianos de um Cisne Branco/Negro, outras coisas poderemos ver. Trata-se de um filme-música. Uma obra que insiste em marcar uma zona de indiscernibilidade entre vida e arte. E mais do que isso, entre a vida que se deve viver e a arte que insiste em nos apavorar. Aí, então, poderemos perceber a transformação gradual e trágica na qual Nina se vê envolvida. Não estamos diante de um capricho, dos exageros de um diretor de forte expressão. Uma artista como ela (a Bailarina) poderia muito bem romper a fina linha que separa verdade e ficção (linha que alguns insistem em desconsiderar). Se por um lado as linhas separam, por outro, unem. Perceber a sua rápida metamorfose, acompanhada da música – como se o filme fosse o próprio balé – nos ajuda a entender melhor o que está em jogo aqui: uma reflexão sobre o limite entre o palco e a vida. E os exageros aqui podem ser criticados – eu mesmo considerei algumas cenas bastante esdrúxulas (como aquela das pernas se quebrando ou a do hospital em que a ex-bailarina interpretada por Winona Ryder tem um acesso de fúria, ou terá sido mais uma dos delírios de Nina?). Mas não podemos esquecer que estamos diante de uma razão em frangalhos. Nina é engolida pelo próprio personagem. Julgar a loucura do diretor e da bailarina, considerando o filme simplesmente como algo cafona (o que é pouco para uma crítica séria) é colocar-se em um lugar seguro – um lugar pleno de razão e sentido – o que, diga-se de passagem, não deve ser o lugar da arte e nem da crítica. Critico logo sou, masturbo-me logo existo. Por que grande parte da crítica insiste tanto em dizer sempre as mesmas coisas, em buscar os mesmos resultados, em chegar em um acordo comum? Desconfio de unanimidades. Quero ler outras coisas sobre o mesmo filme. O registro do esperado - tudo o que não espero do cinema - tudo o que não quero ver em uma crítica. Entre a masturbação de Nina e a dos críticos, fico com Natalie Portman. Fico com a música de um largo Lago dos Cisnes e com a pesada impressão de que sobrou cafonice nos comentários.

c.moreira

quinta-feira, 3 de março de 2011

Poesia, ah, a poesia

Há algum tempo, a Kiara Domit, amiga e escritora, me convidou para uma entrevista para o JMAIS. Tratava-se de uma série especial sobre poetas da região do Vale do Iguaçu. Aceitei com prazer, mesmo não me considerando um poeta com P maiúsculo. Sou apenas um arteiro. Um matuto arteiro. Vaidade? Talvez. Creio que não. Se fosse para ficar famoso, com certeza, eu escolheria um outro caminho. Um caminho mais fácil e que rendesse trocados. Como diria Leminski (acho que ele dizia mais ou menos isso), para ganhar dinheiro seria mais fácil abrir uma banca e vender banana do que fazer poesia. Se é por vaidade, é a vaidade da palavra... (uma daquelas mulheres dengosas que insistem pelo cheiro em dizer: eu estou aqui) uma palavra apressada, que se faz aos trancos e barrancos, mas que sabe que dizer ainda é uma opção... esperar é bom, mas quem gosta de ficar na porta tantas horas esperando o filme começar? Talvez valesse a pena esperar mais um pouco. Talvez a pena nem valesse. No fim das contas uma palavra a mais não vale "nem um" vintém.
"Poeta é quem se considera". A maioria nem escreve... apenas lê. Talvez o poeta escreva apenas para dizer que está aqui. Não acredito em poetas que escrevem para si próprios. Pensar demais pode ser um ponto fraco. Não pensar também. Eu quero comunicar, nem que seja por meio de uma palavra oblíqua, dissimulada - expressiva - eu quero comunicar nem que seja por meio de uma anti-comunicação... POESIA. Lembro-me das palavras de Mario Perniola: "Se for verdade que a poesia é linguagem liberada, é, porém, da mesma forma verdade que essa liberação permanece impotente e separada, não porque produz o poema, mas porque se manifesta em um falar e em uma palavra distintos do falar e da palavra comuns: a poesia monopoliza o significado em uma sociedade na qual a economia monopoliza a realidade". É preciso dizer... mesmo errando. Como dizia o grande Sérgio Sampaio: "Um livro de poesia na gaveta não adianta nada / Lugar de poesia é na calçada / Lugar de quadro é na exposição / Lugar de música é no rádio".
Confiram também as outras entrevistas... a dos poetas Issak, Amós e Emili



quarta-feira, 2 de março de 2011

Até o dia em que o cão morreu...


Hoje, depois de ver um pequeno cão ser atropelado e morrer na minha frente, na rua Matos Costa, senti vontade de reler Até o dia em que o cão morreu, do Daniel Galera, livro que me impressionou muito mais do que o filme Marley e eu. Antes, porém, pensei em ligar para alguém... bombeiros, Coala, veterinário, alguém que assoprasse um pó mágico e fizesse aquele cachorro levantar, abanar o rabo, latir e continuar... Aproximei-me da criatura - sim, cachorros são criaturas - e não tive coragem de ampará-lo, tocá-lo, tirá-lo do meio da rua. O corpo morto, seja o de um homem, o de um pássaro ou o de um cachorro sempre me pareceu sagrado e abjeto. No fundo mesmo, é a minha morte que tenho medo de tocar no corpo de um outro. O problema sou eu e não o morto. Primeiro, foi a batida. Imaginei o choque de dois automóveis. Procurei a colisão e nada encontrei. Depois o forte latido de dor. Entendi. Tratava-se da morte. O bicho ainda encontrou forças instintivas - ou foram reflexos? - para levantar as patas traseiras. E, então, ele me olhou. Ou apenas imaginei que ele me via enquanto eu o olhava? Ele me olhou por pouco tempo. Seu corpo era magro mas bonito. Seu pêlo, branco acinzentado. Aos poucos a respiração foi cessando. E um senhor corajoso se aproximou. Olhou para mim: "Está morto". Puxou o corpo inerte pelas patas trazeiras até o canto da calçada. Instisti: "Será que não está vivo? Parece que respira. Talvez possamos ligar para alguém". O homem não esboçou reação alguma, o que não representou desumanidade alguma. Pelo contrário (foi ele quem tocou no animal e não eu). O homem afirmou o destino, a morte é apenas a morte, uma tautologia que não nos fornece solução. Talvez ele agisse da mesma forma se o acidente fosse com uma pessoa, o que não caracterizaria uma desumanidade, mas apenas conferiria mais humanidade à reação frente ao bicho.  Tudo resolvido. Morri junto com aquele cachorro. Quem escreve aqui é um morto. Um cadáver adiado que procria. Um leitor de Fernando Pessoa e um homem que não tem a mínima coragem de encarar e tocar um morto, e por metonímia, a morte. Para isso veio o cão, para a inutilidade de nascer, como o tucano morto que Drummond registrou em seu último poema. O motorista que o atropelou não parou o carro. É sempre isso que nos apavora. As rodas continuarem girando depois de nossa viagem. O mundo continuará depois, frio e cego como o morto que insiste em ignorar. Os carros continuarão trafegando, homens e mulheres funcionando regularmente, as flores do bem e do mal se abrindo, qual pernas de mulher lasciva. Isso é pior que morrer. Quem disse isso? Pois bem... no livro de Daniel Galera, o protagonista, em uma determinada passagem, descobre que seu cão está morrendo: "Fiquei olhando nos olhos do cachorro, tão de perto que conseguia ver minha própria imagem refletida na superfície do olho, depois de dois ou três minutos, a imagem foi sumindo, enquanto os globos oculares ressecavam". A relação entre o personagem e o cão, no livro de Galera, é linda, pois vai da companhia gratuita até a estimação recíproca. Para finalizar, quero dizer que é a nossa imagem que vemos nos olhos de um morto: a faccies hipocratica da morte - como viu o jovem personagem. Esse foi o dia em que o cão morreu: 02/03/2011. Perdoem o texto cafona e pouco elaborado. Não estou querendo fazer literatura aqui. Quem leu as entrelinhas, entendeu que falo também de mim e de você.

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Elegia a um tucano morto
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Carlos Drummond de Andrade
Ao Pedro
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O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e a indiferença de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.

terça-feira, 1 de março de 2011

ATLAS: como carregar o mundo nas costas?


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O panfleto político-cultural SOPRO, publicado pela editora Cultura e Barbárie, editada por Alexandre Nodari e Flávia Cera, apresentou em dezembro de 2010 a tradução (feita pelo próprio Nodari) de um interessante texto de Georges Didi-Huberman. Trata-se de uma apresentação da exposição "ATLAS: Como levar o mundo nas costas", em cartaz até março deste ano no Museu Reina Sofia, em Madri, Espanha. No texto, Didi-Huberman retoma a figura de Atlas que, segundo a mitologia grega, foi punido por tentar, junto com seu irmão Prometeu, enfrentar os Deuses do Olimpo com a finalidade de tomar deles o poder e dá-lo aos homens. Reza a lenda que Atlas foi obrigado a sustentar com seus ombros o peso da abóboda celeste inteira. O que lhe deu um conhecimento ao mesmo tempo fantástico e pavoroso. O fato fez surgir um paradoxo, a possibilidade do conhecimento e a impossibilidade de sua representação. Saber em excesso pode ser uma forma de sofrimento. É a Musa da Impossibilidade que nos fala Alberto Manguel, ao se referir ao ato da escrita. Heautontimonumeros, de Baudelaire... somos, ao mesmo tempo, carrascos e vítimas de nós mesmos. Outra imagem retomada por Didi-Huberman é o projeto magnífico Atlas Mnemosyne, de Aby Wargurg, uma grande mesa de montagem das imagens de nossa história. Aliás, Didi-Huberman é um dos grandes leitores de Warburg. Segundo o historiador da arte, a exposição rediscute de maneira criativa o procedimento de montagem do Atlas Mnemosyne, convidando-nos, por meio da desmontagem, a imaginar modelos alternativos de se conceber a história . Vale a pena conferir: