Orquídea (da série: Fábrica de Flores)
A orquídea ophrys, com arte e
engenho, faz do engano seu meio justo de ganhar a vida. A cada nova temporada,
na melíflua serenata dos mantras e matagais, esta alteza que chamamos flor abre
o guarda-roupa e se traveste de abelha, propagando além do visual policromado e
brejeiro - com direito a asas e antenas -, o cheiro matreiro da fêmea mãe do
mel. Jandaíra, mandaçaia, jataí ou manduri, quem sabe rainha. Finge, e finge
tão completamente que nem ela sabe mais se é flor ou apenas uma abelha
dormente. E na dormência de fêmea traduzida ou na mentira da apis mellifera transcriada, a orquídea ophrys, em decúbito ventral, mansa e
docemente recebe o zangão sem fazer zum zum. O macho com seu destro garrancho
de Pollock desenha velozmente e sem sucesso o quadro mais conhecido do anima mundi. Quando percebe o engano,
furioso, voa para longe levando a seiva que ela sábia, santa e serena,
depositou no ludibriado pobre operário. Tarde demais.
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