terça-feira, 20 de abril de 2010

Margarida (da série Flores)

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Vez e outra meu avô plantava uma flor e colhia uma poesia. A margarida é poeta e nem sabe. Sua fala, uma arte: elabora pausas, metrifica os horizontes e deixa todo mundo curioso. Não sabe escrever, mas vai longe. Tão fácil escondê-la num labirinto botânico, botá-la no bolso, ou desidratá-la em um livro. Mas não te quero peça de museu nem adereço na lapela. Imagino-te assim, livre e desimpedida, sem prazo de validade, descontada das dívidas do amor. No máximo descascá-la numa séria brincadeira de bem me quer e mal me quer. Dessa maneira, poderei te ler em braille, dedos, toque e coração. No quintal do meu avô, quem manda mesmo é a margarida. Enquanto as formigas vão inventando sua própria sintaxe e os pardais vão tecendo um inusitado idioma repleto de variações lingüísticas, a flor canta Fellings e cava a tarde sem fazer alarde, esperando o príncipe que nunca vem.
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c.moreira

4 comentários:

frô disse...

PProcurei por uma margarida para publicar no meu blog e tive o prazer de cai nesse seu post! Que delicia, que sutil, que tão vivamente simples!

Flutuo em tuas nuvens desde ja!
Beijos floridos.

Amanda Bartalena disse...

Lindo!!!! Estava pesquisando margaridas, que surpresa, que leveza!
abraço
Amanda

Madame Butterfly disse...

Que Lindo!! Estava procurando uma margarida para colocar no presente de natal da minha tia- avó que se chama Dayse, e achei essa poesia linda que vou usar tb, ok??!! A maior coincidência é que ela é poeta e o presente é um caderno para escrever poesias!!

Madame Butterfly disse...

Que Lindo!! Estava procurando uma margarida para colocar no presente de natal da minha tia- avó que se chama Dayse, e achei essa poesia linda que vou usar tb, ok??!! A maior coincidência é que ela é poeta e o presente é um caderno para escrever poesias!!