sexta-feira, 28 de março de 2008

ENTREVISTA COM O VAMPIRO



Curitiba. Uma madrugada como outra qualquer. Alto da Glória. O Vampiro sai do castelo. Dobra a esquina. Atravessa a rua. Esconde-se na capa preta. Ouve passos. Sabe que está sendo seguido.Encontra o Café Imperial aberto.

Pede um martelinho e dois pães de queijo. Uma jovem entra. Aproxima-se. Ah, perdição de velho! Ela, quase sem esperança, pede para entrevistar o vampiro, para um trabalho do colégio. Ele sorri e aceita. Foi Deus que mandou você. Ela fica surpresa. A rolinha quase bate palmas. Senta. Aperta as pernas. “Veja só, estou tremendo!” Ele oferece pão de queijo.“O café está quentinho?”. Ele fala o que ela quiser. Uma só condição. Ele também quer entrevistar. Ela acata. Os dois vão tirando as cadernetas dos bolsos. Ela empresta o lápis.

“O peitinho é mimosa partida ao meio”. Fala tudo o anjinho. Uma vez no banheiro, matando aula com um coleguinha. Uma outra, um selinho no professor de Educação Física, no vestiário da cancha, enquanto as meninas batiam bola. Outra, um beijo de língua na melhor amiga, em casa, enquanto faziam a lição de casa. Quando não tinha mais o que contar, inventava. Ele anotava.Ela levanta e vai pedir mais um café para ele. Quando volta, cadê o vampiro? Velho maldito, nem devolveu o lápis.

Ele atravessa a rua e dobra a esquina. Ainda sobra tempo para escrever: “Essa menina é minha perdição! O lombinho é espuma de leite! E mansinha de rédea!”. Chega no castelo, corre para a máquina e começa a escrever: “Curitiba. Uma madrugada como outra qualquer. Alto da Glória. O Vampiro sai do castelo...”.


Caio Ricardo Bona Moreira
(PUBLICADO ORIGINALMENTE EM http://www.oescambal.blogspot.com/

Um comentário:

Sophie disse...

menina safadinha essa... :)

bjo
adorei o conto