segunda-feira, 24 de novembro de 2008

FILOSOFIA DO SOLUÇO



Uma pessoa que soluça nunca sabe se vem de dentro ou de fora. Tem mais motivos para pensar na angústia que um filósofo durante uma conversa com outro filósofo, pelo menos até o momento em que um deles tenha começado a soluçar. Enquanto o “soluçante” ou “soluçador” tenta todas as simpatias, comer chocolate, tomar vinte goles de água (o que poderia fazer passar até uma terrível dor de cabeça – é claro, ela desceria para a barriga! Diria até o mais ignorante), trancar a respiração, enquanto faz tudo isso, nem sabe que momento grandioso é esse que experimenta, mais curioso que o espirro e a perna amortecida. Sempre achei mais interessante a hipótese do susto. Mais interessante e mais absurda também (as coisas absurdas geralmente me soam muito interessantes), já que o susto é quase impossível quando premeditado, salvo o grito inesperado de um experimente algoz. Mas o que se esconde por traz do soluço? Uma filosofia, quem diria. Penso: o que leva alguém a filosofar sobre o susto? Só alguém que é apaixonado por cacos, cacoetes e outros mafuás. Poderiam deduzir: é apaixonado por soluços. Ledo engano. Quem poderia gostar? O soluço é uma das coisas mais inúteis que conheço. No entanto, talvez por sê-lo, seja tão curioso. Quem perderia tempo pensando nele? Talvez Manoel de Barros já tenha poemado sobre o soluço, ou coisa parecida, o que cobriria de encantos até o soluço mais monstruoso ou aquele mais demorado, que vai e volta várias vezes ao longo do dia. Mas não percamos tempo, vamos direto ao soluço. Conheci um vizinho que gravava o próprio soluço e ficava ouvindo várias vezes depois . Outro, não menos doido, contava os segundos entre um e outro, como a criança que conta o intervalo entre o raio e o trovão para tentar perceber o final da chuva. O primeiro vizinho, aquele que gravava os soluços, começou a contá-los, fazendo uma tabela, e catalogá-los quanto à intensidade e duração. Talvez sejam uns malucos. Não sei como não se envergonharam do fato ainda. Pensando bem, devo admirá-los, pois vejo tanta insensatez naquelas atividades quanto num texto como esse que escrevo. Ainda nem sei por que resolvi escrever isso. Talvez para esperar que o meu soluço passe.

2 comentários:

Isaac Nogueira disse...

é uma boa solução pro soluço...

Eu sou a Fabiana Carneiro, disse...

Ic! Por que o óbvio nos causa estranheza quando é literalizado? Interessante, cômico, eu diria... quanta qualidade aqui, preciso de um tempinho a mais nesse blog... =D