A cidade sempre
foi musa inspiradora para muitos poetas. Na arte, desde a Antiguidade aos
tempos contemporâneos, a pólis é
personagem das mais memoráveis e sublimes. Na modernidade, quando a cidade
ganha estatuto de épico, o interesse pela vida urbana se intensifica na
literatura. Fernando Pessoa cantou Lisboa, Baudelaire transformou Paris em uma
de suas “Flores do Mal”. Jorge Luis Borges, no belo livro “Fervor de Buenos
Aires”, eternizou a capital argentina, considerando as ruas da cidade como
parte de suas entranhas. No Brasil, Gregório de Matos, em uma relação de amor e
ódio a Salvador, satirizou a sua cidade. A São Paulo modernista de Mário de
Andrade ganhou tons inconfundíveis em “Paulicéia Desvairada”. Sobre Curitiba,
Paulo Leminski escreveu: “Alguma coisa em mim não quer que Curitiba mude. Mas,
dentro de mim, há uma voz que diz: mude, Curitiba, mude…”. Outros exemplos poderiam
ser apontados, como a Itabira, de Drummond, a Porto Alegre de Mario Quintana,
entre outros. A lista é grande.
As Gêmeas do
Iguaçu não poderiam ficar de fora dessa antologia em que poetas fazem da cidade
algo mais que um berço esplêndido. Em um certo sentido, poderíamos dizer que os
escritores inventam a sua própria cidade, na medida em que transformam o
transitório da vida urbana em cenas eternas e inesquecíveis. Que seria da
cidade sem o poeta para escrever suas esquinas? Porto União foi presenteada com
os versos de Ivonnich Furlani, passando a ser reconhecida como uma Cidade
Amiga. União da Vitória acaba de ganhar uma de suas mais belas declarações de
amor, vinda justamente de um poeta.
Em uma tarde de
sol e passarinho dedico-me a ler os poemas que integram o livro “União da
Vitória, Meu Amor!”, de Affonso Reis Teixeira Filho. Até então, não conhecia
nenhum livro cujos poemas tratassem com tamanha paixão e delicadeza da nossa
cidade. É claro que outros poetas também registraram com grande beleza na voz e
no tom o nosso município. Só para citar um exemplo, o professor Serapião do
Nascimento, em novembro de 1906, por ocasião da inauguração da Ponte de Ferro,
escreveu e espalhou pela cidade um poema apaixonado cujos versos proclamam seu
amor: "Selvagem qual bugre nu / Banhada pelo
Iguaçu / À beira dele nasceste, / Linda cabocla indolente (...) / Ao som de
cantos de amores, / “Eis a União da Vitória.” A diferença é que no livro de
Affonso todos os poemas são dirigidos direta ou indiretamente à cidade.
Os poemas de
“União da Vitória, Meu Amor!” tratam desde os fenômenos naturais que atingiram
as nossas cidades até as lendas, personagens e personalidades que compõe a
nossa história. É o caso da Noiva do Rio da Areia, a Velha Maria Paçoca, a
Loira dançarina, o Treme-Treme, o Guarda Fidusca, o Doutor Wilton França, Isael
Pastuch, entre outros. Pontos específicos também aparecem, como o Morro de
Cristo, o rio Iguaçu, as pontes, as ruas, os bairros, o Colégio Túlio de
França, a Faculdade, a Maria-Fumaça, as pescarias. Não seria fortuito lembrar
que a arquitetura dos poemas de Affonso é bem elaborada, de leitura agradável,
e que faz por vezes lembrar a estrutura rítmica dos cordéis.
Em um dos
poemas, intitulado “Minha Terra”, que faz lembrar Gonçalves Dias, Affonso faz
um balanço: “Na minha União da Vitória / eu vi o tempo passar / vivi meus anos
de ouro / fiz amizades, tesouro / um dia hei de voltar”. Discordo do poeta em
apenas um ponto. Ele não precisa voltar, porque daqui nunca saiu. Se reside,
hoje, fisicamente em outra cidade, espiritualmente e afetivamente nunca daqui
se afastou. Como diria Leminski: “Pinheiro não se transplanta”. Os poemas de
Affonso provam que a cidade está no poeta como o lambari no Iguaçu.
Para finalizar,
gostaria de lembrar que os homens podem declarar o seu amor pela cidade de muitas
maneiras. Assim como o poeta escreve um livro retratando carinhosamente o chão
que nos dá guarida, outros trabalham com semelhante honestidade e ardor, por
exemplo, no âmbito da saúde e da política, como é o caso do saudoso Doutor
Warrib Motta, que recentemente partiu para outras esferas estelares. Os gestos
tanto de um quanto de outro, certamente, são cantos de amor e frutificam ao
longo do tempo em outras poesias.
Caio Ricardo Bona
Moreira
Nesta
sexta-feira, 09 de novembro, às 19h30, no Salão Nobre da Fafiuv, o poeta
lançará e autografará o livro “União da Vitória, Meu Amor!”, que será vendido
no local por R$15,00. O lançamento é uma promoção do projeto Memórias Poéticas
do Vale do Iguaçu.
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