segunda-feira, 25 de julho de 2016

Adorno (Ensaio como forma), apontamentos...



# Em uma da passagens de seu texto "Ensaio como Forma", Adorno escreve que, a respeito desse gênero, felicidade e jogo lhe são essenciais:  "Ele não começa com Adão e Eva, mas com aquilo sobre o que deseja falar, diz o que a respeito lhe ocorre e termina onde sete ter chegado ao fim, não onde nada mais lhe resta a dizer, ocupa, desse modo, um lugar entre os despropósitos". Sob esse ponto de vista, ele deve sempre partir de algo já formado (pré-fabricado). 

# Assim como para Baudelaire, a respeito da modernidade, para Adorno, o ensaio "não quer procurar o eterno no transitório, nem destilá-lo a partir deste, mas sim eternizar o transitório". Não é à toa que esse gênero - lembremos de Simmel - tem um papel fundamental na modernidade.

# Articular relações curiosas entre os objetos, inventar relações inauditas, imaginar reflexões inusitadas: "(...) o ensaio suspende ao mesmo tempo o conceito tradicional de método. O pensamento é profundo por se aprofundar em seu objeto, e não pela profundidade com que é capaz de reduzi-lo a uma outra coisa. O ensaio lida com esse critério de maneira polêmica, manejando assuntos que, segundo as regras do jogo, seriam considerados dedutíveis, mas sem buscar a sua dedução definitiva. Ele unifica livremente pelo pensamento o que se encontra unido nos objetos de sua livre escolha".

# TECER COMO UM TAPETE: "O ensaio exige, ainda mais que o procedimento definidor, a interação recíproca de seus conceitos no processo da experiência intelectual. Nessa experiência, os conceitos não formam um continuum de operações, o pensamento não avança em um sentido único; em vez disso, os vários momentos se entrelaçam como num tapete. (...) O ensaio procede, por assim dizer, metodicamente sem método".

# Ecos da fábula lembrada por Simmel, escavar é algo mais importante que encontrar um tesouro: "O ensaio não apenas negligencia a certeza indubitável, como também renuncia ao ideal dessa certeza. Torna-se verdadeiro pela marcha de seu pensamento, que o leva para além de si mesmo, e não pela obsessão em buscar seus fundamentos como se fossem tesouros enterrados". 

# O UNIVERSAL NO PARTICULAR: "Deus está nos detalhes"!: "O ensaio deve permitir que a totalidade resplandeça em um traço particular, escolhido ou encontrado, sem que a presença dessa totalidade tenha de ser afirmada".  

# ENSAIO: mais teoria do que arte, na visão de adorno: "O ensaio é, ao mesmo tempo, mais aberto e mais fechado do que agradaria ao pensamento tradicional. (...) Apenas nisso o ensaio é semelhante à arte; no resto, ele necessariamente se aproxima da teoria".

# PROFANAÇÕES:  "(...) a lei formal mais profunda do ensaio é a heresia. Apenas a infração à ortodoxia do pensamento torna visível, na coisa, aquilo que a finalidade objetiva da ortodoxia procurava, secretamente, manter invisível". 


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