sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Depois de ler um poema de Ribamar Bernardes


O poema de Ribamar Bernardes (pela sua disposição gráfica, mas não apenas por isso) é sangue escorrendo pela parede da vida e pela página do site. Sangue coagulado com cor de tinta da pena, ou tinto como o sangue de cordeiro imolado. Poeta visceral: aquele que expõe suas próprias vísceras, vísceras que são também, e paradoxalmente, alheias. Eis a sua pena. Fere e em mim produz cicatrizes, mas sem elas que sentido em ler poesia? O sal no mar de seu nome (Riba-MAR), no entanto, é também aquele que cicatriza como quando posto pela mãe sobre a ferida depois de uma surra no filho. A violência de suas palavras é excesso de amor pela vida, é amor de mãe (poeta) pelo filho (mundo/palavra). Eu sei disso... Mas seu nome me diz outra coisa. O dicionário informa que RIBA quer dizer "Margem alta de um rio", "pequena elevação sobranceira a um rio ou mar". RIBA-MAR. A elevação que se precipita sobre o mar. Como a Garganta do Diabo, em Cascais, onde Fernando Pessoa ajudou a forjar o desaparecimento de um bruxo (Aleister Crowley). Um salto em direção ao abismo. Um convite ao caos. Do alto se vê melhor a imensidão. Eu sei disso, poeta, e sei também que tu sabes. Desejo vida longa ao poeta-amigo e a sua poesia:
Fragmento de um poema
"(...)
e
a
vida
passa
na
TV
enquanto
os
ponteiros
dos
relógio
se
movimentam
lentamente
no
século
veloz
da
América
de
Donald Trump
e
os
vermes
também
se
movimentam
lentamente
roendo
a
carne
de
Sharon Tate
PC Farias
e
Pedro Collor de Melo
lentos
os
ponteiros
vão
comendo
a
VIDA
que
passa
na
TV
e
contiuará
passando
até
que
essa
invenção
também
morra
sendo
devorada
por
vermes
eletrônicos
e
agora
são
3
e
13
e
31
32
33
segundos
daqui
a
pouco
40
dessa
noite
silenciosa
em
seu
ruído
celeste
noite
segundo
o
calendário
cristão
de
19
novembro
2016"
R. Bernardes

3 comentários:

Ribamar Bernardes disse...

Caio te envio uma escrita mais do que recente:
Jaz a festa/ ou melhor/ morre a festa/ ou seja/ a FESTA acabou/ e agora BERNARDES???/ LUZES fatigadas se despedem com olhar triste/ FOGOS são assassinados por vento gelado do inverno galpante/ MORRE BERNARDES / tudo morre/ mas dizem/ que tudo/ RENASCE/ com TEIMOSIA típica de casal discutindo a posição mais favorável em que a cama deve deitar/ e / TEIMA / casal / TEIMA / como nos velhos tempos se TEIMAVA / até os chumaços de cabelo e os gritos brilhantes se encravarem nos dentes / (já amarelados pelo tabaco / banguelas pela idade ) / mas que ainda mordem orelhas amadas / mesmo quando a FESTA / TEIMA / em se acabar /

Ribamar Bernardes disse...

Valeu a pena usada para fabricar esse fragmento a meu respeito porque
Me emocionei, me feriu e me curou
É que somente agora li. Desculpe a demora, Caio. Abraço forte nesse seu ser generoso em sua total Despretensão.

Ribamar Bernardes disse...

Valeu a pena usada para fabricar esse fragmento a meu respeito porque
Me emocionei, me feriu e me curou
É que somente agora li. Desculpe a demora, Caio. Abraço forte nesse seu ser generoso em sua total Despretensão.