quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Lançamento de "Esquinas" (Micronotas, 2020), de Caio Ricardo Bona Moreira



Nesta semana, acontece o lançamento oficial do meu livro "Esquinas" (100 páginas; ensaios/poemas em prosa; Editora Micronotas, 2020).


Apresentação do livro:

"Muitas coisas podem acontecer em uma esquina: um acidente, um encontro ou desencontro, uma epifania, uma desgraça, uma lembrança, ou quem sabe até uma ideia. Lá, o passante que estiver disposto a observar enxergará a síntese misteriosa do banal com o inusitado. 

A encruzilhada é o mundo do (im)possível. Basta parar para ver. Aqui, mais do que um tema ou um assunto, ela é o princípio motor ou gatilho para um conjunto de pequenos ensaios ou prosas poéticas sobre o cotidiano da rua, bem como sobre outras coisas da vida. 

George Simmel aproximou o ensaio do passeio: passear pela rua é uma ótima forma de pensar. Perambulo, logo sou. A cultura filosófica deste importante pensador da modernidade é fruto, portanto, de uma aventura. Perder-se numa cidade será sempre uma ótima forma de conhecê-la. Acho que foi Enrique Vila-Matas quem certa vez anotou: “Escrever é perder cidades”.

A deriva é uma espécie de método. A intermitência, uma riqueza. Trata-se de lançar um olhar filosófico e poético sobre o ponto de cruzamento: ou não é nele que sempre uma via termina e outra começa?

Portanto, esses lugares são um convite à viagem, ou seja, ao devaneio. O poeta se quer um catador. Os textos de “Esquinas”, inventariando seus achados, convidam o leitor a uma caminhada pelas ruas de Porto União (sc) e União da Vitória (pr), cidades que já foram uma só e hoje são cortadas por uma linha de trem. O que une as duas também as separa. 

Mas o leitor não se engane com sua geografia poética. O mapa é de se perder. Essas esquinas literárias são do mundo. Poderiam ser um canto ou uma quina qualquer de Nápoles, Barcelona, Montevidéu, Berlim, Cuiabá, Apucarana, Timbó, Teresina ou Tóquio. Uma curva na rua nos leva a uma outra e o texto vai e vem, assim, sendo tecido, enquanto o trânsito é costurado. 

A capacidade de entrelaçar, aliás, é fundamental para o exercício associativo, peça-chave da poesia. Escrever é inventar cidades. Pensar numa esquina, ou melhor, estar numa esquina pensando, será sempre uma forma enriquecedora de experimentar a vida posta em movimento. Lá, acaso e destino, realidade e ficção, arte e vida, tornam-se indiscerníveis. 

Inspirados ou não em João do Rio, poderíamos dizer: “Eu amo as esquinas”. É lá onde a rua faz a curva/cesura: é lá onde o poema (d)obra. É lá também onde um velhinho encontra o outro e tudo vira prosa."



Fragmentos:

"No encontro da Ipiranga com a Cruz Machado – não com a Avenida São João –, um velho prédio art déco assiste há quase cem anos à cidade envelhecer. Daquela esquina, a antiga construção tudo viu e tudo sabe. Talvez o leitor não acredite, mas na vidraça de uma de suas janelas é possível vislumbrar, nas tardes de abril, aquele ponto do espaço – mágico e borgeano – que contém todos os outros pontos. Ali, certa vez, concentrei meu olhar e contemplei emocionado um Aleph."

"A linha do trem: um pé aqui, outro lá. Onde estou? Nascido aqui, registrado lá, quem sou? A linha do trem que corta uma cidade em duas corta também um coração. Desterritorializado estou. Não sou catarina, não sou paraná. Tal qual franco-argelino, me divido e logo sou. Esaú e Jacó, todos os gêmeos serão sempre irmãos?"

"A esquina é o ponto de repouso que ao mesmo tempo é um ponto de tensão. Se tudo flui, nada permanece. E o que fica é esse (des)contínuo movimento, o exercício de dobrar sem cessar. A esquina une ou corta duas vias? Buda diria que unir-se significa inevitavelmente separar-se. É a natureza da vida. Penso o pensamento nascendo numa esquina. A questão, portanto, é filosófica e não deixa de ser mística. O que encontrarei e quem serei depois de dobrar a próxima quina?"


Sobre o livro, Susana Scramim escreveu:

"De modo muito inteligente e ao mesmo tempo sensível, Caio registra a vida da cidade confrontando o espaço urbano com a geografia sentimental. O resultado desse confronto se lê em Esquinas, trabalho esse que relaciono ao livro de memórias da infância de Walter Benjamin mediada pela experiência com a cidade".

"Nas esquinas de Caio, se pode observar dois fluxos de escrita: em um deles, se dedica a registrar a passagem do tempo e de suas ações no espaço urbano, no outro, se põe a reimaginar de um modo “alephiano” a materialidade das coisas, confrontada àquilo que não está mais ali e que apenas pode ser recriado"



O livro está disponível nas livrarias Arte & Letra (Curitiba) e Livros & Livros (Florianópolis).
Em Porto União e União da Vitória, o livro pode ser encontrado na Papelaria Risca de Giz, na Porto Presentes e no Sebo Macaco Studado.
Também disponível para encomendas diretamente comigo. Na cidade, entrego em casa! Para outras, envio por correio.


Coordenação Editorial: Katherine Funke
Projeto Gráfico: Pierre Themotheo
Ilustrações: Raro de Oliveira
Prefácio: Susana Scramim
Os preços variam entre R$25,00 e R$28,00.

capa aberta


Uma das ilustrações de Raro de Oliveira que integram o
livro "Esquinas"
Alguém adivinha qual?



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