quinta-feira, 14 de abril de 2022

Driblando a morte com palavras

 

Jair da Silva, o Craque Kiko, acaba de lançar seu novo livro "Um tempo de Muitos Começos", pela editora Kotter. Tive a alegria de prefaciá-lo. Abaltazar Rei, o protagonista, é uma personagem que precisa ser conhecida pelas leitoras e leitores. Jair da Silva é um grande estudioso da memória esportiva de Porto União da Vitória, cronista, e mais recentemente autor de romances também.


 Prefácio

Jair da Silva, o Craque Kiko, tem brindado o público com uma vasta produção literária. Das publicações sobre a memória esportiva regional - seja nas crônicas jornalísticas ou nos livros que abordam a história do futebol local - a novelas literárias com suas curiosas intrigas, não sem uma boa dose de suspense, o escritor vem se destacando entre os narradores do Vale do Iguaçu.

Em um mundo no qual a literatura, a cada dia que passa, se torna mais necessária por promover com suas fabulações uma reflexão sobre a vida que desejamos - por nos convidar a viver outras vidas e por meio desse contato imaginar outras possibilidades de existência no mundo em que vivemos -, escrever passa a ser um ato, então, de grande importância. Publicar, a despeito de todas as dificuldades inerentes, é um ato de coragem. Por isso saúdo a chegada desta nova novela que o autor traz a lume.  

Este é um livro que pode cativar os leitores desde as primeiras páginas. Nelas, uma certa poesia reproduz um ambiente paranaense que ajuda a forjar o caráter de suas personagens e a beleza do livro.

Há uma candura na figura de Abalthazar, o protagonista, que vem talvez de sua vivência interiorana, cuja simplicidade não deve ser confundida com falta de profundidade. Pelo contrário, há uma riqueza que se esconde por trás do sujeito comum, como uma boa prosa pode nascer entre uma cuia e outra de chimarrão. É isto, Jair é um bom contador de histórias. Deu vontade de tomar chimarrão com ele. Não é isso o mais importante na literatura, saber convidar o leitor a percorrer com olhos curiosos as páginas de um livro?

Quando comecei a ler “Um tempo de muitos começos”, fui logo pensando: como isso vai terminar? Para que lado irá esse personagem? É um drama? Quando concluí a leitura, imaginei: E como tudo isso vai continuar depois do fim? Como seria se pudéssemos participar da trama, transformando o destino das histórias? Pensar sobre a vida dos outros é um convite para uma transformação intimamente nossa. Por isso também a literatura é tão interessante.

As personagens deste livro são comuns. Parecidas com nossos vizinhos ou parentes aqui do Porto ou de União. São eles, somos nós que estamos aí. Quem nunca viveu um drama? Quem nunca ouviu de um conhecido um causo cujo enredo daria um filme? Serão as personagens um retrato do que somos? Ou nós é que somos personagens deste livro que chamamos de vida?

Lendo as páginas desta novela, lembrei de Guimarães Rosa, em suas Veredas: “Viver é muito perigoso”. Veredas são caminhos e quando se escolhe ir para um lado, estamos perdendo o outro, estamos sim alterando toda a rota, a nossa, e a daqueles que nos rodeiam. O livro mostra isso: A vida é feita de escolhas. Sem abrir o livro, como o Caderno Rosa que alguém guardou um dia em um cofre, fica difícil saber o final da história, fica mais difícil mudar o destino. Enquanto o tempo da vida passa, e o ponteiro vai marcando mais um, no fundo ele está dizendo: menos um, menos um. Aprendi essa lição com Mario Peixoto e reaprendo novamente com este livro. Difícil driblar o tempo, a morte, mas a literatura, com suas palavras, nos ajuda. A Sherazade, do livro “As Mil e uma Noites”, que o diga. Ela soube fazer da vida um tempo de muitos começos. Com arte, vive-se melhor. Ou ainda, com arte é mais possível viver. Mas enfim, o tempo está passando e o livro está aí em suas mãos e então é melhor você começar a lê-lo.  


Caio Ricardo Bona Moreira

 

 


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