Jair da Silva, o Craque Kiko, acaba de lançar seu novo livro "Um tempo de Muitos Começos", pela editora Kotter. Tive a alegria de prefaciá-lo. Abaltazar Rei, o protagonista, é uma personagem que precisa ser conhecida pelas leitoras e leitores. Jair da Silva é um grande estudioso da memória esportiva de Porto União da Vitória, cronista, e mais recentemente autor de romances também.
Jair da Silva, o
Craque Kiko, tem brindado o público com uma vasta produção literária. Das
publicações sobre a memória esportiva regional - seja nas crônicas
jornalísticas ou nos livros que abordam a história do futebol local - a novelas
literárias com suas curiosas intrigas, não sem uma boa dose de suspense, o
escritor vem se destacando entre os narradores do Vale do Iguaçu.
Em um mundo no
qual a literatura, a cada dia que passa, se torna mais necessária por promover
com suas fabulações uma reflexão sobre a vida que desejamos - por nos convidar
a viver outras vidas e por meio desse contato imaginar outras possibilidades de
existência no mundo em que vivemos -, escrever passa a ser um ato, então, de
grande importância. Publicar, a despeito de todas as dificuldades inerentes, é
um ato de coragem. Por isso saúdo a chegada desta nova novela que o autor traz
a lume.
Este é um livro
que pode cativar os leitores desde as primeiras páginas. Nelas, uma certa
poesia reproduz um ambiente paranaense que ajuda a forjar o caráter de suas
personagens e a beleza do livro.
Há uma candura na
figura de Abalthazar, o protagonista, que vem talvez de sua vivência
interiorana, cuja simplicidade não deve ser confundida com falta de
profundidade. Pelo contrário, há uma riqueza que se esconde por trás do sujeito
comum, como uma boa prosa pode nascer entre uma cuia e outra de chimarrão. É
isto, Jair é um bom contador de histórias. Deu vontade de tomar chimarrão com
ele. Não é isso o mais importante na literatura, saber convidar o leitor a
percorrer com olhos curiosos as páginas de um livro?
Quando comecei a
ler “Um tempo de muitos começos”, fui logo pensando: como isso vai terminar? Para
que lado irá esse personagem? É um drama? Quando concluí a leitura, imaginei: E
como tudo isso vai continuar depois do fim? Como seria se pudéssemos participar
da trama, transformando o destino das histórias? Pensar sobre a vida dos outros
é um convite para uma transformação intimamente nossa. Por isso também a
literatura é tão interessante.
As personagens deste
livro são comuns. Parecidas com nossos vizinhos ou parentes aqui do Porto ou de
União. São eles, somos nós que estamos aí. Quem nunca viveu um drama? Quem
nunca ouviu de um conhecido um causo cujo enredo daria um filme? Serão as
personagens um retrato do que somos? Ou nós é que somos personagens deste livro
que chamamos de vida?
Lendo as páginas
desta novela, lembrei de Guimarães Rosa, em suas Veredas: “Viver é muito
perigoso”. Veredas são caminhos e quando se escolhe ir para um lado, estamos
perdendo o outro, estamos sim alterando toda a rota, a nossa, e a daqueles que
nos rodeiam. O livro mostra isso: A vida é feita de escolhas. Sem abrir o
livro, como o Caderno Rosa que alguém guardou um dia em um cofre, fica difícil
saber o final da história, fica mais difícil mudar o destino. Enquanto o tempo
da vida passa, e o ponteiro vai marcando mais um, no fundo ele está dizendo: menos
um, menos um. Aprendi essa lição com Mario Peixoto e reaprendo novamente com
este livro. Difícil driblar o tempo, a morte, mas a literatura, com suas
palavras, nos ajuda. A Sherazade, do livro “As Mil e uma Noites”, que o diga.
Ela soube fazer da vida um tempo de muitos começos. Com arte, vive-se melhor.
Ou ainda, com arte é mais possível viver. Mas enfim, o tempo está passando e o
livro está aí em suas mãos e então é melhor você começar a lê-lo.
Caio Ricardo Bona Moreira
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