segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

À memória dos trisavós Paulo Sedor, João Pastuchen, e seu povo





O sol que a tudo aqui ilumina
Não é o mesmo que hoje invade 
Lviv, Bucha, Mariupol ou Kharkiv. 
Lá, onde viveu o pai da mãe
Da mãe de minha mãe,
Hoje talvez uma bomba exploda. 
Em Rava-ruska, 
onde nasceu
O pai do pai 
da mãe de meu pai,
Crianças estão guardadas
Nos porões como em cofres
com seus medos nucleares,
Pesadelos de Pripyat ou Chernobyl,
pais, avós e brinquedos.
Lágrimas regam a relva
E tanques desenham
outras rotas 
Misturando no chão 
o sangue eslavo
De quem no fundo, 
E abaixo do poder, é irmão,
Porque sim, 
este poema,
como uma cidade devastada, 
fala mesmo é dos inocentes. 
É preciso voltar os olhos para a Ucrânia
Ou refazer o caminho de volta,
Mas como voltar para a casa
Se casa já não há? 
E o poema toca a dor
Como os dedos uma bandura
E ambos tiram do solo a áspera 
Flor, feito um sabre em música, 
Ou a szabla que a rubra mão empunha. 
Enquanto isso 
no topo de uma colina sagrada de Lima,
xamãs peruanos com suas folhas de coca
Preveem em seus vasos de cerâmica com fogo
Que a Rússia e os Estados Unidos solucionarão seus conflitos

c.moreira

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