O sol que a tudo aqui ilumina
Não é o mesmo que hoje invade
Lviv, Bucha, Mariupol ou Kharkiv.
Lá, onde viveu o pai da mãe
Da mãe de minha mãe,
Hoje talvez uma bomba exploda.
Em Rava-ruska,
onde nasceu
O pai do pai
da mãe de meu pai,
Crianças estão guardadas
Nos porões como em cofres
com seus medos nucleares,
Pesadelos de Pripyat ou Chernobyl,
pais, avós e brinquedos.
Lágrimas regam a relva
E tanques desenham
outras rotas
Misturando no chão
o sangue eslavo
De quem no fundo,
E abaixo do poder, é irmão,
Porque sim,
este poema,
como uma cidade devastada,
fala mesmo é dos inocentes.
É preciso voltar os olhos para a Ucrânia
Ou refazer o caminho de volta,
Mas como voltar para a casa
Se casa já não há?
E o poema toca a dor
Como os dedos uma bandura
E ambos tiram do solo a áspera
Flor, feito um sabre em música,
Ou a szabla que a rubra mão empunha.
Enquanto isso
no topo de uma colina sagrada de Lima,
xamãs peruanos com suas folhas de coca
Preveem em seus vasos de cerâmica com fogo
Que a Rússia e os Estados Unidos solucionarão seus conflitos
c.moreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário