segunda-feira, 10 de setembro de 2012

breves apontamentos sobre O Ritual da Serpente, de Aby Warburg

O que interessava a Aby Warburg, como historiador cultural, na sua pesquisa sobre os índios americanos era que, em um país que fez da cultura técnica uma admirável arma de precisão ao serviço do intelecto, sobrevivia uma cultura primitiva e pagã, que poderia, equivocadamente, ser interpretada como um sintoma de atrasado. Warburg estava se referindo à adoração por meio da dança com máscaras de fenômenos naturais, animais e plantas, a que os índios atribuíam vida anímica.
A questão levantada por Warburg é a seguinte: “Em que medida pode nos servir o estudo da concepção pagã de mundo, tal como persiste até o dia de hoje entre os índios pueblo, como parâmetro de evolução humana que transcorre do paganismo primitivo à modernidade, passando pelo paganismo da Antiguidade Clássica?”

As práticas mágicas, que fundariam a religião indígena, não só dos índios pueblo, mas de grande parte das sociedades pré-tecnológicas, surgiram a partir da falta de água e da conseqüente necessidade do homem dominar os problemas impostos pela natureza. Mas não é apenas na dança com máscaras que o simbolismo religioso da tribo aparece. As cerâmicas produzidas pela comunidade pré-tecnológica traduzem as suas concepções cosmogônicas. Warburg relata ter recebido de um dos índios um desenho que representa um elemento básico da cosmologia dos Oraibi, o universo concebido como uma grande casa. O demônio que nela surge é representado com uma serpente. No entanto, e é importante ressaltar, a cultura dos índios pueblo não figura a Warburg apenas como preenchida de magia e destituída de técnica. Ambos convivem na curiosa comunidade:

“Tal coexistência da civilização lógica com a causalidade mágico-fantástica, revela o singular estado de hibridização e transição em que se encontram os pueblo. Eles não são homens de todo primitivos, que dependem somente de seus sentidos, e para os quais não existe uma atividade referida ao futuro; porém tampouco são como o europeu, que confia seu porvir à tecnologia e às leis mecânicas ou orgânicas. Os pueblo vivem entre o mundo da lógica e da magia, e seu instrumento de orientação é o símbolo. Entre o homem selvagem e o homem racional, se situa o homem das interconexões simbólicas”.

2 comentários:

MARCO NASCIMENTO disse...

Parabéns, sensacional, você poderia narrar o rito da serpente?

http://www.josefonte-art.bolgspot.com disse...

Belo