terça-feira, 31 de maio de 2016

Adolfo Casais Monteiro e a crítica



Adolfo Casais Monteiro, nos anos 60 - década que se confirmou como demasiadamente estruturalista -, evocou, em Clareza e Mistério da Crítica, a parcialidade e a paixão como traços fundamentais do pensamento crítico, entendido como dom. A paixão é indicada como uma força que se opõe ao frio raciocínio, não significando, portanto, cegueira ou demência (1961). Como leitor da tradição romântica alemã, Casais Monteiro observa que a crítica participa do próprio movimento criador da literatura, chegando a argumentar que ela não está na dependência da obra anteriormente criada, mas que “apenas continua, a prolonga, e, assim, não se distingue dela por oposição”. Dessa forma, delega à crítica um trabalho que suplanta o mero julgamento, compreendendo que cabe a ela não necessariamente rotular uma obra, um autor, mas “atualizá-los permanentemente, conservá-los vivos”. Como a poesia, estaria no campo das intensidades não meramente judicativas ou paradigmáticas. É desse vislumbre que surge seu argumento provocador, dirigido a uma comunidade específica: “(...) velai o rosto, ó cientistas da crítica! – o bom crítico é... o artista da crítica”. As reticências com as quais o autor pontua as frases, que bem poderiam ser lidas como dois versos decassílabos, sugerem não apenas um ar de mistério, capaz de suscitar no leitor a expectativa da resposta, mas também uma ideia de união, isso porque os três pontos não têm, aqui, o propósito de divórcio.


 O bom crítico, para ele, não é apenas o artista, mas o “artista da crítica”. Logo, não defende que a crítica não deva ser exercida por críticos, no entanto tais críticos devem dispor da paixão e da imaginação, como princípios constitutivos do ato de criticar. Imaginação, criatividade e pensamento crítico seriam, assim, elementos fundamentais na atividade que envolve tanto uma esfera quanto a outra.

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