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Na corda bamba
A corda bamba, onde o equilibrista exerce a sua
atividade, supõe sempre um risco, o de cair no chão, encerrando o espetáculo de
uma maneira inesperada. Sempre se espera que o trapezista assuma todos os riscos
e chegue até o final da corda ileso e vencedor. Mas e se a corda não figurar
uma passagem, uma linha reta entre dois pontos, mas sim o território desdobrado
do artista, que opta não por atravessar o caminho, deixando para trás o perigo,
mas por atrasar ao máximo a sua chegada, convivendo conscientemente com o
perigo da queda iminente?
Dois
argumentos poderiam confundir-se nesse gesto arriscado de manter-se na corda
bamba. O primeiro é o de que o trabalho arriscado pode deixar de ser um
espetáculo, transformando-se em algo banal. Todos poderiam dizer que o
trapezista está acostumado a realizar esse tipo de atividade, que grande parte
dos artistas de sua época especializaram-se neste tipo de atividade, e que ele
não consegue mais convencer a platéia da que esse movimento é digno do apreço
dos amantes dessa arte. Esse seria o pior acidente de sua carreira. A repetição
desse perigo transformou-o no banal. A conclusão seria a de que a corda bamba
derrubou o poeta, e que se ele sobreviveu, deve procurar repensar o seu
trabalho. O outro argumento incidiria sobre a ideia de que a opção pela corda
bamba não é ingênua. A queda do trapezista foi apenas simulada. O trapezista
mantém o equilíbrio, para o infortúnio daqueles que esperavam ansiosamente o
seu suplício. O poeta simula o gesto banal do trajeto, enganando o leitor
desatento, que não percebe que se manter na corda bamba nunca deixará de ser um
perigo. A queda é apenas pretexto para demonstrar que o poeta está consciente
dos seus movimentos, e que sabe que se cair sairá ileso.
(texto de Maria de Fátima Marcondes)
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