Texto de Caio Ricardo Bona Moreira (UNESPAR) apresentado no I Encontro Internacional de Estudos Poloneses, na Universidade Federal do Paraná, em 02 de dezembro de 2019
Resumo:
O presente trabalho propõe uma leitura
do romance “Ciúme da Morte”, do escritor Ladislau Romanowski, nascido no
interior do Paraná (Mallet) e filho de imigrantes poloneses. Publicado em 1943,
no mesmo ano em que veio a lume “O Ser e o Nada”, de Jean Paul Sartre, o livro
de Romanowski foi contemplado em 1945 com o Prêmio Raul Pompeia, da Academia
Brasileira de Letras. Segundo o parecer da Comissão Julgadora, a tessitura de
“Ciúme da Morte” lembra os romances de Dostoiévski, e sua técnica seria
semelhante a dos livros de Aldous Huxley. A partir de uma perspectiva
comparatista, intentamos desenvolver uma análise que estabeleça possíveis
relações entre o romance de Ladislau Romanowski e a obra desses autores. Ao
inserir o escritor paranaense em uma rede que vai de Dostoiévski a Huxley,
entre outros que exploraram o universo da loucura e da angústia em suas
narrativas, como Graciliano Ramos ou mesmo Érico Veríssimo - que traduziu
Huxley e a quem Romanowski dedicou “Ciúme da morte” -, teremos a possibilidade
de retirá-lo da província, promovendo, assim, uma contra-leitura à crítica que
Dalton Trevisan dirigiu ao autor na revista modernista Joaquim, nos anos 40.
Palavras-chave: Ladislau
Romanowski – Literatura Paranaense – Romance Psicológico.
“-
Eu não matei! Juro que sou inocente!” (ROMANOWSKI, 1977, p. 17). Com essa
frase, proferida em desespero pelo médico Armando, internado como louco e
assassino em um manicômio, inicia-se o romance Ciúme da Morte, de Ladislau Romanowski, publicado pela Coeditora
Brasílica, em 1943. O livro alterna duas narrativas, a de Dr. Armando, e a de
seu amigo José de Vasconcelos, o Juca, com quem o protagonista trabalhara em um
jornal chamado Gazeta. Depois de visitar o possível criminoso e de receber dele
um manuscrito no qual o médico narrava a própria vida - da infância até o
fatídico dia em que acabou no hospício -, Juca inicia uma viagem de Porto
Alegre a Águas da Guarda, onde se hospeda em um hotel de águas termais. Durante
a viagem e hospedagem, o segundo narrador, Juca, intercala a leitura do
manuscrito de Dr. Armando com a descrição de suas experiências amorosas, bem
como com a narração de uma jornada mental de reflexões sobre a vida e sobre o
amigo. Estamos diante de dois narradores com personalidades diferentes, mas que
igualmente tencionam os limites entre a razão e a loucura. Mais de uma vez,
Juca se questiona em seu texto se o louco na verdade não seria ele próprio. Dr.
Armando, por sua vez, integra uma linhagem de personagens loucos que na
literatura brasileira vai de Simão Bacamarte, de Machado de Assis, até os mais
contemporâneos, passando, por exemplo, por Fileto, de No Hospício, de Rocha Pombo, e Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Um
dos aspectos mais curiosos do livro parece ser a apresentação de um enredo construído
sobre o discurso de um homem cuja sanidade é posta em questão. Se Dr. Armando é
louco, que garantia de verdade ou razão há em sua narrativa, como justificativa
para os atos cometidos? O livro é narrado sempre em primeira pessoa. Até que
ponto podemos acreditar nela? Como em Shakespeare, razão e loucura parecem se
amalgamar produzindo a tragédia que é o próprio livro. Seria a opção pela
loucura uma forma do autor abordar verdades insuportáveis pelo senso comum, ou
melhor, pulsões psicanaliticamente profundas? Seria a condição de loucura uma
possibilidade para o narrador conquistar o que deseja por cima de toda e
qualquer moral? Aprendemos com Foucault sobre as relações entre a loucura e o
poder, bem como seus desdobramentos sociais. Muitas perguntas poderiam se somar
a estas, mas como nosso tempo é curto contento-me em ensaiar um olhar sobre a
obra, confrontando-a com outras, e analisando mesmo que superficialmente suas
potencialidades estéticas, promovendo, assim, um resgate do romance deste ilustre
paranaense, nascido no município de Mallet, no interior do Estado e
infelizmente um tanto quanto esquecido.
Toda
a narrativa do livro pode ser lida como o fruto de fantasias patológicas ou
como o relato de uma vida movida pela paixão que levou Armando à perdição. O
que vem antes, o crime ou a loucura? Vejamos um pouco mais a sinopse. Ao saber
da doença terminal de sua noiva, o médico, tomado de furores irracionais,
comete dois crimes. No primeiro, realiza uma experiência que acaba levando um
doente à morte, na tentativa de testar um tratamento para a noiva. No outro,
possui sexualmente a amada com tamanha violência que acaba matando-a. À medida
que Dr. Armando descreve sua vida, aproximando-se do assassinato da amada, a
narrativa vai ganhando ares surreais – como um intenso diálogo com a morte
materializada como uma personagem – e ares trágicos que fazem lembrar por vezes
uma peça teatral de Nelson Rodrigues. Aliás, Vestido de Noiva, do dramaturgo carioca, foi encenada pela primeira
vez justamente em 1943.
No
dia 24 de outubro daquele ano, o jornal paulista Correio da Manhã anunciava em
uma resenha anônima a publicação de Ciúme
da Morte, observando que há um drama gigantesco nas páginas deste livro, em
que um sujeito incompreendido e possivelmente louco narra no hospício “o drama
cruciante de sua existência atormentada e o desfecho doloroso de um grande
amor”. Segundo a resenha, estamos diante de uma narrativa produzida por um
homem genial “a quem os homens talvez por falta de compreensão encerraram entre
quatro paredes de um manicômio” (Correio da Manhã, 1943, p. 37).
Ainda
em 1943, foram publicados O Ser e o Nada,
de Jean Paul Sartre, O jogo das contas de
vidro, de Herman Hesse, e O pequeno
príncipe, de Saint-Exupéry. O livro de Romanowski, que no período de
lançamento ganhou o elogio de Afrânio Peixoto, é hoje um romance pouco
conhecido entre as obras da literatura brasileira que vieram à lume na chamada
segunda geração modernista, aquela que, segundo os manuais literários, vigorou
com força entre 1930 e 1945. Pouco comparável a qualquer um dos livros que
integraram o chamado Regionalismo de 30, Ciúme
da Morte parece se ligar a uma linhagem romanesca menos reconhecida da
literatura brasileira dos anos 30 e 40 que é a linhagem intimista, uma espécie
de corpo estranho na produção cultural do período.
Acostumados
a pensar nos romances de 30 apenas pelo viés social e regionalista, boa parte
dos leitores acaba por desconsiderar uma série de obras que, explorando um viés
psicológico, prefiguram temporalmente e esteticamente a literatura, por
exemplo, de Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Com isso não quero sugerir uma
suposta parecença entre as obras de uns e outros, mas apenas sinalizar para o
fato de que Rosa e Lispector não são os primeiros a romper no romance com uma
longa tradição especificamente social, regional ou naturalista, que sempre fez
tradição na literatura brasileira. Luis Bueno, aliás, já aprofundou essa
discussão no ensaio “Guimarães, Clarice e antes”:
(...) os anos 30
são a época do romance social, de cunho neonaturalista, preocupado em
representar, quase sem intermediação, aspectos da sociedade brasileira na forma
de narrativas que beiram a reportagem ou o estudo sociológico. É claro que,
nesse tempo, houve também uma outra tendência na qual pouco se fala, uma
“segunda via” do romance brasileiro, para usar a significativa expressão de
Luciana Stegagno Picchio, o chamado romance intimista ou psicológico, mas tão
secundário que não teve forças para estabelecer-se como via possível no
desenvolvimento do romance no Brasil (2001, 251).
Numa
linhagem intimista e psicológica, alternativa ao sistema naturalista na nossa
literatura, Bueno inclui, por exemplo, romances como Sob o olhar malicioso dos trópicos, de Barreto Filho, A mulher que fugiu de Sodoma, de José
Geraldo Vieira, entre outros livros de escritores como Lúcia Miguel Pereira, Mário
Peixoto, Cyro dos Anjos, Octávio de Faria, Lúcio Cardoso, Cornélio Pena e
porque não dizer Dyonélio Machado, em Os
Ratos, e Graciliano Ramos, em Angústia.
Aliás, boa parte da obra do autor de Vidas
Secas - bem como alguns outros romances de 30 -, poderiam escapar facilmente da nomenclatura “regionalista” que
consolidou o cânone na segunda geração modernista. Difícil categorizar certas obras
como meramente regionalistas ou intimistas. Romanowski poderia muito bem
figurar entre esses autores cuja obra pode ser colocada como alternativa ao
modelo predominantemente social e regional. Interessante perceber a influência
de Dostoiévski em muitos desses autores do romance regionalista e ou intimista,
o que demonstra a força de sua obra na produção literária brasileira do século
XX.
Altino Flores e Ladislau Romanowski
Alfredo
Bosi chamou a atenção para o fato de que ao lado da ficção regionalista, do
ensaísmo social e do aprofundamento da lírica moderna, o romance introspectivo,
vinha se afirmando lentamente entre os anos 30 e 50, “raro em nossas letras
desde Machado de Assis e Raul Pompeia” (1994, p. 386). Certamente, um dos
fatores que propiciaram a intensa produção do romance psicológico está ligado
ao advento Revolução de 30: “caíram as máscaras mundanas que empetecavam as
histórias medíocres do pequeno realismo belle
époque (...)” (1994, p. 389). Segundo Bosi, o renovado convite à
introspecção far-se-ia com “o esteio da Psicanálise afetada muitas vezes pelas
angústias religiosas dos novos criadores” (1994, p. 389).
Ciúme da Morte
exercita um aprofundamento psicológico que se direciona para o crescimento
gradativo de uma tensão que gera no leitor um mal-estar que pode ser encontrado
com facilidade no autor de Irmãos
Karamazov. Aliás, em dois momentos específicos o autor russo é evocado nas
páginas de Romanowski. No primeiro momento, Dostoievski aparece entre um
conjunto de autores lidos com voracidade pelo Dr. Armando no tempo em que
frequentou a Faculdade. Entre Nietzsche, Schopenhauer, Voltaire, Edgar Alan
Poe, Freud e Hoffmann aparece o autor de Crime
e Castigo. Em um segundo momento, quando depois da personagem realizar uma
experiência em um doente levando-o à morte, surge o sentimento de culpa pelo suposto
crime a assolar sua consciência:
A maleta que eu
levava na mão pesava-me, como se dentro dela estivesse levando o peso de meu
crime. Sim, eu levava nela o cadáver do homem que acabara de matar, em consequência
de minha ambição! Precisava ver-me livre dela... Mas jogá-la fora seria deixar
sinal por onde passei miserável, covarde, fraco... Isso não era prudente. Tive
a impressão de que se havia encarnado em mim o Raskolnikolf, a personagem
impressionante do “Crime e Castigo”, de Dostoievski (1977, p. 328).
Essa
é apenas uma das possíveis aproximações entre as personagens de um romance e
outro. As paisagens de noturna tensão psicológica em Ciúme da Morte caminham para um nonsense que me faz recordar por
exemplo certas cenas de Cisne Negro,
dirigido por Darren Aronofsky, bem como de alguns filmes de Lars Von Trier, ou
dos filmes brasileiros Nina, de
Heitor Dhalia e Durval Discos, de
Anna Muylaert.
Vale
lembrar que em 1943 José Lins do Rego publica Fogo Morto, e Jorge Amado Terras
do Sem Fim. Em uma outra linhagem vemos encenada pela primeira vez o já
citado Vestido de Noiva, uma peça com
nítidas intenções psicológicas. Também em 1943 vemos publicado o romance Dias Perdidos, de Lúcio Cardoso, cujo
protagonista rememora com profunda angústia uma vida carregada de secretas
culpas. Sete anos antes de Ciúme da Morte,
Graciliano Ramos edita o romance Angústia,
que faz do monólogo interior uma experiência narrativa intensamente voltada
para os dramas psicológicos. Aliás, este romance de Graciliano e Ciúme da Morte, por si só, já renderiam uma
leitura bastante pertinente. Ambos, diga-se de passagem, leitores de
Dostoiévski.
Dalton
Trevisan, no segundo número da revista modernista Joaquim, publicou o artigo
“Emiliano, poeta medíocre”, um dos mais fervorosos ataques ao Paranismo, tendo
como alvo principal o poeta simbolista. Depois de considerar este movimento
como uma escola sem importância para a poesia paranaense e brasileira, bem como
de rebaixar a obra de Perneta, o artigo alude a Ladislau Romanowski com o
intuito não apenas de criticá-lo, mas também de situar a literatura paranaense
anterior à produção da revista em um contexto provinciano. Cito a passagem:
Me entendam bem
os chauvinistas. Porque em arte, não há prata de casa, é-se
Dostoiewski ou
L. Romanowski, é-se Rimbaud ou … e pobre de quem lê “Ciúme da Morte”, em vez de
Dostoiewski, por causa que um é comunista russo e, o outro, nasceu em Mal.
Mallet… E, pois, hélas! Não se perca tempo, vamos aos valores supremos, a essas
experiências decisivas de Rilke, Aragon, Drummond de Andrade (1946, p. 17).
Naturalmente,
Trevisan intentava inserir-se em uma concepção literária mais cosmopolita, e
como sua proposta literária demarcava um projeto nitidamente modernista, vanguardista,
o escritor negava uma certa tradição, fundada principalmente pelo simbolismo, mas
também aquela produção literária que estava de fora do paideuma joaquiniano.
Romanowski integrava um conjunto de escritores que não estava à altura do que
buscavam os jovens escritores modernistas do Paraná. Trevisan percebia uma
certa presença de Dostoiévski na literatura de Romanowski, em especial em Ciúme da Morte, mas por outro lado
apontava a distância entre elas. Ler Ciúme
da Morte e não Dostoiévski - por Romanowski
ter nascido em Mallet - para o editor de Joaquim era lamentável. Curiosamente,
é por meio de uma contra-leitura a Dalton Trevisan que situamos o horizonte do
presente trabalho.
Descobrir,
redescobrir, aprofundar, resgatar a produção de Romanowski
são gestos que, por uma quase ironia dos acasos ou do destino, brotam
justamente no Simpósio de um encontro internacional destinado a pensar a
cultura polonesa – com ênfase no Estado do Paraná – e acredito que os motivos
que movem nosso interesse pelo autor de origem eslava não está de todo
desvinculado de seu espaço social de nascimento, no interior do Paraná, bem
como sua ancestralidade polonesa. Mas não se trata, penso eu, apenas em lê-lo a
partir dessa ligação identitária com o espaço de origem ou com o aspecto
cultural que se materializa a partir de uma ligação genética. Trata-se também
de partir dessa possibilidade de aproximação quase conterrânea com o autor
apenas para de certa forma tirá-lo da província, situando sua literatura fora
do espaço reservado ao regional, ao local – como se o autor fosse uma espécie
de patrício – para ensaiar uma dimensão crítica capaz justamente de resgatar seus objetos artísticos. Ciúme
da Morte, por sinal, não aponta para nenhuma ligação palpável com a cultura
polonesa e ou paranaense, ao contrário de outros livros seus.
Ler
a obra de Romanowski a partir de uma perspectiva comparada, trazendo para o
debate sua relação por exemplo com Dostoiévski e Aldous Huxley não para colocá-lo
ao lado de clássicos internacionais numa intenção de acender uma vela ao
paranaense, exaltando-o, mas para cotejá-lo com outras experiências na expectativa
de lê-lo mais e melhor, reitero fora da província. Aliás, o livro, ao ser
premiado pela Academia Brasileira de Letras, nos convida à sua leitura
independente de ser escrito por um paranaense.
Imagens raras de Ladislau Romanowski
Na
sessão de 28 junho de 1945, a ABL outorgou ao livro Ciúme da Morte o prêmio Raul Pompéia de melhor romance. O volume 69
dos Anais da Academia traz o parecer da Comissão. Segundo os relatores A.
Austregésilo, Múncio Leão e J. C. de Macedo Soares, a técnica usada pelo
romance de Romanowski é a mesma dos livros de Aldous Huxley e a tessitura
lembra os romances de Dostoiévski, “cuja pena muito impressionou o escritor”: “A
não ser alguns descuidos de linguagem, alguns exageros descritivos, e certos
transbordamentos de subjetivos postos nas meditações do Dr. Armando, poderíamos
dizer que o livro é bom e merece a outorga por parte da Academia do Prêmio Raul
Pompeia” (1945, p. 17).
Os
imortais da Academia observaram alguns elementos que revelavam boas qualidades
do autor, a saber, as descrições paisagísticas, as considerações filosóficas e
mórbidas do Dr. Armando, a análise do caráter de Lorena, bem como as posturas
intriguistas de Dona Finoca. Nota-se, portanto, que um dos elementos que mais
chamaram a atenção dos avaliadores foi a construção das personagens, bem como
seus aprofundamentos psicológicos, o que de certa forma lhe chegara via
Dostoiévski.
Se por um lado as aproximações a Dostoiévski
são óbvias, as relações com Aldous Huxley são mais sutis, no entanto, não menos
importantes. Lembremos que o parecer da Academia aponta para a influência da
técnica de Huxley no livro de Romanowski. Vale observar que Ciúme da Morte é dedicado também para
Érico Veríssimo que havia traduzido para o português o romance Contraponto, de Huxley, de 1932. É
justamente esse livro no qual o autor norte-americano adaptou a técnica do
contraponto musical para a literatura, o que nos leva a inferir que o parecer
da Academia tinha em vista principalmente essa obra quando comparou Huxley e
Romanowski. Sabemos que o contraponto nada mais é que a sobreposição de duas ou
mais vozes melódicas em uma composição musical. Estamos aqui diante da
polifonia, um dos conceitos chaves da obra de Bakhtin ao abordar a obra de Dostoiévski.
Até que ponto a polifonia na obra dos quatro autores, Dostoiévski, Romanowski,
Érico Veríssimo e Aldous Huxley, poderia ser pensada de forma comparativa. Eis
uma proposta interessante que ultrapassada nosso espaço e tempo neste momento.
Em
Contraponto, também chamado de
romance-sinfonia, Huxley intercala várias narrativas, com diversos personagens,
analisando suas relações conjugais bem como a vida intelectual no período entre
guerras. As histórias de várias personagens vão se cruzando, gerando uma
impressão polifônica. Romanowski ao intercalar as duas narrativas de Ciúme da Morte, acaba que fazendo o
mesmo. Observemos também que cada um dos narradores modula uma linha melódica
particular. Armando é esquizofrênico, impulsivo, louco, Juca é racional,
meditativo, ponderado, no entanto, ambos são movidos por paixões.
Essa
experiência do contraponto teria chegado a Romanowski possivelmente via Érico
Veríssimo. Segundo Gérson Werlang, ao travar contato com Contraponto, de
Huxley, “Erico ficou profundamente entusiasmado com a possibilidade de dar uma
estruturação musical a uma obra sua”. O que o levou a escrever Caminhos Cruzados, provavelmente lido
por Romanowski. Como o escritor paranaense morou em Porto Alegre é possível que
os autores tenham travado contato na capital gaúcha, rendendo uma possível
amizade. São perspectivas que se traduzem em possibilidades para futuras
leituras, passíveis de promoverem ao mesmo tempo o resgate da obra de
Romanowski, e a sua retirada do lugar provinciano que Dalton Trevisan o
colocou, ensaiando, assim, uma contra-leitura modernista
capaz de ampliar nosso olhar sobre ele.
Referências:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 40 ed. São Paulo:
Cultrix, 2002.
BUENO, Luis. Guimarães,
Clarice e antes. In: Teresa (Revista
de Literatura Brasileira n. 2). Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas: Universidade de São Paulo.
São Paulo: Ed. 34, 2001.
CORREIO DA MANHÃ. Livros novos: resenha
sobre Ciúme da Morte. In: Jornal Correio
da Manhã. 24 de outubro de 1943. São Paulo. (p. 37)
ROMANOWSKI, Ladislau. Ciúme da Morte. 2 ed. Curitiba: Parga
Editora e Dist. De Livros Ltda, 1977.
TREVISAN, Dalton.
Emiliano, poeta medíocre. In: Revista
Joaquim (número 2). Curitiba, 1946. (p.17).
WERLANG, Gérson. A música em Caminhos
Cruzados e O Prisioneiro. In: Revista
Literatura e Autoritarismo (n.7). Universidade Federal de Santa Maria.
Disponível em: < http://w3.ufsm.br/literaturaeautoritarismo/revista/num07/art_02.php>
Acesso em 01 de dezembro de 2019.
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