terça-feira, 19 de maio de 2020

13 de maio: Preto Velho

                                     

                          

Zifio, nego véio não tem ar de dotô, mas sabe de saber também. Nego véio move o mundo num vento de viu só com sua franqueza e faz de varrer todo o mal com sua reza de cristo-amém-jesus, arre. Se não sabe que fique sabendo. Nego é cantador do bom e bom de escrever suas mirongas dançando no pé. Fala pro nego, fala, zifio, o que te aflige esse coração de sofrer tamanho mundo. Fio é mais escravo do mundo do que o véio foi do cativeiro. Onde é que dói, zifio? Tem que ficar de pé e se alevantar de novo num causo de cair, que a vida faz seu tropeço pra modo de ensinar e o mundo se ir girando pra frente. Nego não faz milagre, não, mas palavra que nego fala vem do Pai lá de cima e faz curar também. Não tem palavra boa que não cure um coração aflito. O generoso de Nazaré já fazia milagre falando, não fazia? Pequenino grão de areia ou cisco, tento seguir os passos do Nazareno. Basta de fechá o olho pra modo de ver. O fio enxerga? Tem que acreditá. Dizia um dotô aí de vocês, lá das banda do sertão, que viver é muito perigoso. Tava certo, viu, nego sabe e o homem já sabia. Mas é passando pela noite escura que fica dia de novo no amanhã, e mais brilhoso do solzinho que faz a vida raiar de nova aurora, dá de ver? Se ajudá o irmão, então, fica lindo, tudo em volta se alumia. Como diz os irmão dos kardéque, fora da caridade não há salvação. Se põe de joelho, fala pro nego, mas pede pra Deus, que nego chega nos pé do pai crucificado e chora por vosmecê, que as água do mar que rola sincera do corpo lava toda mazela-chaga-e-dor de nossa pobre alma. Se o nego chorá junto com vosmecê, doi menos? Então empresto meus zóio pra junto a gente chorá. Saravá!

Imagem: Preto Velho, de Amadeu Bona

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