domingo, 1 de novembro de 2020

Vejo Ana C. numa foto colorida por Rubens A.



Na vida
Bela ou mais
Ou menos
Que na foto
Como saber?
Se o que me resta
É o artifício
Sempre fabricado
Nessa ou em qualquer outra peça
Do conjunto de retratos
Quase todos
Em preto & branco
Em que na maioria
Ela aparece séria e concentrada
Em alguma outra coisa
que a lente da câmera
(Essa prótese do olhar)
Faz questão de não captar
E neste caso
como saber com precisão
O tom da pele ou a cor dos olhos
Se ela gostava mais de Bandeira ou de Baudelaire,
Se as camisas azuis lhe agradavam mais que as brancas ou pretas,
Se traduzir lhe era mais árduo que fazer os próprios poemas,
Se escrever era para ela uma forma de cifrar ou apenas voar.
Mas quem a viu
De perto
Há de confirmar
Como fez Roberto C.
Que a vislumbrou
Nos corredores da PUC
Que ela de fato
Como na foto
Era todo esplendor
E essa Lua em Touro
No Outubro de Escorpião
Me traz a lembrança
Daquela noite de 2005 ou 2006
Em que perdido no Rio
Depois de um congresso na UERJ,
Metrô e Coletivo em direção à Copacabana
(Havia descido duas estações antes),
Ia tentando me localizar por placas
Até me achar ao acaso ou ao destino
Plantado na Rua Tonelero,
Aquela que mudou o Brasil
Nos tempos de Getúlio
E onde de um dos prédios
Alguém um dia, nos fins de Outubro,
Tentou ancorar um navio no espaço.
A poesia pode ser doce ou alegre
Mas o chão é sempre duro.
Ali, na rua, foi o lugar
em que mais perto estive de ti,
além da poesia.
Onde andará agora o pensamento de Ana?

c.moreira

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