sexta-feira, 22 de agosto de 2008

NANÁ, PEDAÇO DE SONHO QUE CUSTÓDIO CRIOU
E ORLANDO CANTOU
.
“Quem pretende se aproximar
do próprio passado soterrado
deve agir como um homem
que escava”
Walter Benjamin
.


Condenado a escavar escombros
Escrever assombros
Desenterrar um baú repleto de ciscos
E um cinerário repleto de cinzas e sonhos

escondido no fundo na valise-memória
uma simples canção quase esquecida como quase todas aquelas canções

ouvindo um disco de 78 RPM
A agulha correndo e pulando
Feito um bobo na montanha
Day after Day
Engasgando na última frase de Naná
És sonho que se fez mulher
Orlando Silva engasgando
És dia dia em pleno amanhecer
Naná Naná
Igual a ti no mundo outra não há
Naná devia ser uma deusa mas não usava biquíni
Vem para meus braços vem sim Naná
Talvez fosse uma mulata da Lapa
Talvez nem isso talvez uma dama da noite que nem sabia ainda que era uma pobre flor gonocócica

Talvez nem tanto
Talvez Naná seja só uma canção de Custódio Mesquita
de 1940
gravada por Orlando Silva
Um escombro um cisco no olho um “tapa” na morena da Lapa
Ao som de um fox-blue tropical carioca e fagueiro
Talvez nem isso t
alvez nem tanto

toda canção se dissipa em ondas que se dirigem ao infinito que se propagam no espaço que sobrevivem no tempo que se dissipam no vento que se dirigem a um outro tempo que esse tempo não sabe

Sim, Naná, quem não a quer?
Naná és sonho, és paixão,
És lembrança que se fez mulher...
No entanto, que poderá restar de uma mulher
Que sempre será só resto de um outro tempo numa só canção?



c. moreira

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