sábado, 30 de agosto de 2008

TALVEZ FALAR FOSSE TÃO POUCO
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Petit poème en prose

Já tentei louco capturar as linhas do teu corpo num texto que só tinha motivos pra não se deixar gravar como o trajeto de um albatroz livre dos marinheiros da estalagem tal vôo só se reproduzia na pura potência de um voar além do olho que seguia sem sucesso o passeio quase tonto do albatroz rei dos mares é que no poema o pássaro era cativo assim como no texto teu corpo tecido não mais que linhas desprovidas de perfume e geografia poética tão seus
O ponto final não mais que um porto seguro incapaz de dar ao poeta navegante a calmaria de uma simples chegada
É que chegar seria assim como repartir em dois deixar em você o mar uma palavra sem gosto na beira da praia metáfora cansada essa do mar largar a metáfora seguir o enigma você não é o mar é o que nele suscita em mim encanto e pavor assim teu corpo me enigma pura palavra
As linhas de um mar e tudo o que nele se guarda não se deixam gravar só se entregam a custo de uma semântica que não mente uma sintaxe que não se mede por isso pavor e encanto

c. moreira

Um comentário:

Natália Nunes disse...

isso aqui foi muito bom, ó: teu corpo me enigma :)

corpos são entidades...