Mesmo quando seu interesse se repete no motivo dos pinheiros, ele consegue fazer-se diferente. Como nos diria o poeta Manoel de Barros, “repetir é um dom do estilo”: “repetir, repetir, até ficar diferente”. Repetição e diferença fazem parte de seu cardápio imagético. Basta observarmos como o tratamento espatulado das cores pastéis em alguns de seus quadros aproxima parte de sua pintura do impressionismo francês. É o que vemos, por exemplo, no quadro intitulado “O Casebre”, que integra a exposição. Se por um lado repete o tema, como seu pai já fazia com presteza e inigualável talento, por outro varia no procedimento, as tonalidades e luzes são diferentes, fazendo de sua pintura um objeto singular que é digno de atenção.
Não seria fortuito observar que no trabalho de Roberto Bona as variações formais sobre um mesmo motivo, com o passar do tempo, foram dando espaço também para a variação temática. Prova disso são as experimentações constantes que o artista vem desenvolvendo nos últimos meses e que podem ser percebidas não só nas marinhas e nos bambus, como também nos criativos exercícios de releitura da obra de outros pintores.
Na exposição, depois de contemplar a maioria dos trabalhos apresentados, meu olhar foi capturado por uma “transcriação” da “Santa Ceia dos Operários”, de Jaime Trindade. Em um primeiro momento, nada de novo. Lá estão os doze operários-apóstolos mais o “presidente do sindicato”, fartando-se de comida e bebida. No entanto, um olhar mais atento nos mostra algo no mínimo curioso. Roberto Bona inseriu, entre os alimentos, o pinhão. Em um segundo plano, dispostos atrás dos personagens e vislumbrados através da janela estão os pinheiros. O que poderia ser apenas um detalhe faz toda a diferença. O nosso artista reinventa com criatividade a obra de Jaime Trindade. Estamos diante de um procedimento de intervenção que, se por um lado fornece a uma obra já produzida um “ar” regional, por outro, dá ao pinhão e ao pinheiro ares universais. A “Santa Ceia” de Roberto Bona é sertaneja - no melhor sentido da palavra - e não menos sagrada. Seu gesto faz lembrar da Monalisa de bigodes, de Marcel Duchamp, que, ao inserir um pequeno detalhe no quadro já conhecido, tem o poder de transformar o original, fazendo da cópia algo mais produtivo do que a mera reprodução. O que demonstra que Roberto Bona é hoje um de nossos pintores mais inventivos.
(Santa Ceia dos Operários, ainda sem o pinhão e os pinheiros)
Em um momento conturbado como esse, no qual, muitas vezes, as pessoas quase perdem a sua vida por questões político-partidárias, talvez seja a hora de olharmos mais para a arte, para com ela percebermos o que realmente importa e o que realmente faz para nós sentido. Que a “Santa Ceia” seja a nossa oração.
Caio Ricardo Bona Moreira
Um comentário:
O cara com o dedo para cima tem 6 dedos , foi um erro que me passou despercebido e só depois que vendi percebi!
Obrigado pela homenagem!
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