enquanto o damasco
arma a dura pele
em seu lento madurar
um mouro de sobrancelhas grossas
e pés ásperos de sandália e argila
sob o sol sedento do deserto
tira com cuidado
acordes vibrantes
de uma viola escarlate
cujo som faz lembrar
os ares de um solista
que, neste caso, é o próprio maestro
da Orquestra Sinfônica Simon Bolívar.
No mesmo instante
a léguas dali
uma velha camponesa
com vestes coloridas
saia longa, sapato e meia
planta repolhos
em um campo aberto
que antes abrigou refugiados
perto de Kiev, no norte da Ucrânia.
Enquanto ela passa
com um estranho charme
as costas do antebraço
na testa enrugada e manchada
que um dia foi lisa e branca
como a de sua neta mais nova
e um pingo de suor lhe escapa
caindo na terra que recém lavrada
agora espera que tudo nasça,
o solista da orquestra
executa com minúcia
seu instrumento feito o mouro
das sobrancelhas do deserto
e algo e então e assim,
feito música, damasco ou repolho
brota e se espalha no ar
c.moreira
sexta-feira, 29 de março de 2013
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