quarta-feira, 27 de abril de 2016

O velho Guaráu ou o poeta sapateiro (da série: Origens da poesia em Porto União da Vitória)


Porto União da Vitória - 1912 - Foto: Claro Janson

Curiosamente, ao ler os Apontamentos Históricos de União da Vitória (1768-1933), de Cleto da Silva, em um pequeno parágrafo, aparentemente fortuito, cuja leitura distraída poderia obliterar o fato descrito, encontramos uma informação que pode iluminar uma reflexão sobre os pioneiros da poesia em Porto União da Vitória. Em meados do século XIX, quando a cidade era uma pequena vila, um dos primeiros moradores, chamado Antonio Joaquim Castilho, mais conhecido como o velho Guaráu, era um exímio tocador e ponteador de viola. Segundo o historiador dos Apontamentos, o sujeito sabia fazer uma “porfia em regra”, bem como “não se descuidava de fazer sapatos 'grosseiros' e chinelas, pois tinha o ofício de sapateiro”. Ora, fazer porfia com a viola significa duelar em forma de versos, à moda do repente, que é uma das manifestações mais expressivas da literatura oral popular. Se estivéssemos buscando o nosso primeiro poeta, o que de fato não é nossa preocupação, talvez o encontrássemos nas porfias do velho Guaráu. Dos poemas escritos um de nossos primeiros registros pode ser encontrado também nos Apontamentos de Cleto da Silva. Trata-se de uma passagem assinada por F. de Castro em um documento referente à demarcação de limites entre o Brasil e a República Argentina datado de 8 de Novembro de 1889, momento em que o Império agonizava enquanto a República se preparava para nascer. Uma semana depois da assinatura do documento pelos componentes da comissão, proclamava-se a República no Brasil. Os versos de F. de Castro parecem prefigurar os acontecimentos iminentes: “O progresso é uma força que não para / Está no alto mar, está no Sahara / Em toda parte está / Gravitando co´os os céos / vôa co´os ventos / E dilatando a esfera dos pensamentos / A luz também lhes dá” (apud SILVA, 2006, p. 55). 

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