quarta-feira, 20 de abril de 2016

Romeu Balster (da série: Origens da Poesia em Porto União da Vitória)

Poema de Romeu Balster publicado no jornal União, em 08 de agosto de 1920. O periódico circulava em Porto União. Quem teria sido Iêdda? Teria existido? O poema é dedicado a um tal Ranulpho. Seria o pai do anjinho? A influência da "art nouveau" do início do século passado aparece nos detalhes decorativos que acompanham o poema. A poesia aparecia com frequência nos jornais de nossas cidades já naquele tempo.



Romeu Balster nasceu em Paranáguá em 1884 e faleceu em União da Vitória em 1932. Fez o curso de Humanidades em Itu, São Paulo, dedicando-se mais tarde à carreira jornalística. Em Porto União, na década de 20 fundou o jornal União. É autor do famoso "Brasilíadas", longo poema satírico que parodia os Lusíadas de Camões. são 54 composições em forma de oitavas com decassílabos. O livro foi publicado em 1926 com o pseudônimo Mephisto.  





Capa do livro Brasilíadas, desenhada por Alceu Chichorro. 


Poema que abre o livro Brasilíadas, num franco e parodístico diálogo com os Lusíadas

Em 1926, Filippo Tommazo Marinetti vem ao Brasil divulgar o futurismo italiano e proferir algumas conferências. Enquanto muitos intelectuais saúdam e ciceroneiam o vanguardista, outros veem no gesto de louvor um ato condenável pela relação de proximidade do escritor com o fascismo.  Romeu Balter, com o pseudônimo Mephisto, publica no jornal O Dia, em 14 de maio, o poema "Ao grande embrulhador". Ao se apropriar ironicamente de uma linguagem próxima às inovações futuristas, o poeta desqualifica Marinetti: "Não vejo razão de festas, / Ao Marinetti, o Brasil, / Conta escritores bastas / aos mil... // Quanto aos poetas, / patetas / Que não sabem o ABC / Ora esta é boa / À toa / por toda parte se vê... // Quanto aos pintores, / Senhores, / Marinettissimamente / No claro escuro / de um muro / quanta gente? // Nos ramos todos da Arte / Nós brasileiros podemos / Mandá-lo ir àquela parte / Pois melhor que ele já temos". O poeta forja o neologismo "marinettissimamente" para caracterizar o modo os artistas procuravam produzir a sua obra, pautados por um estilo que visava ao invés da politização da arte a estetização da política. Considerando, lucidamente, o italiano como um embuste, Romeu Balster encerra o poema concluindo que no Brasil existiam poetas melhores, aproximando-se assim de uma linhagem de escritores que viu com desconfiança a presença de Marinetti entre nós, como é o caso de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, em São Paulo. O ativismo poético e político de Balster demonstram que o escritor estava informado sobre os acontecimentos literários que transcendiam o âmbito provinciano paranaense, o que, aliado ao seu virtuosismo poético, rendeu-lhe um poema que, "marinettissimamente" irônico, rechaçava Marinetti.       

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