quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Orquídea (da série: Fábrica de Flores)



A orquídea ophrys, com arte e engenho, faz do engano seu meio justo de ganhar a vida. A cada nova temporada, na melíflua serenata dos mantras e matagais, esta alteza que chamamos flor abre o guarda-roupa e se traveste de abelha, propagando além do visual policromado e brejeiro - com direito a asas e antenas -, o cheiro matreiro da fêmea mãe do mel. Jandaíra, mandaçaia, jataí ou manduri, quem sabe rainha. Finge, e finge tão completamente que nem ela sabe mais se é flor ou apenas uma abelha dormente. E na dormência de fêmea traduzida ou na mentira da apis mellifera transcriada, a orquídea ophrys, em decúbito ventral, mansa e docemente recebe o zangão sem fazer zum zum. O macho com seu destro garrancho de Pollock desenha velozmente e sem sucesso o quadro mais conhecido do anima mundi. Quando percebe o engano, furioso, voa para longe levando a seiva que ela sábia, santa e serena, depositou no ludibriado pobre operário. Tarde demais. 

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