(Arguição à tese de doutoramento de Erion Marcos do Prado defendida no Programa de Pós-Graduação em Literatura no dia 28 de março de 2019 na Universidade Federal de Santa Catarina)
Caio Ricardo Bona Moreira
Gostaria
de começar a arguição evocando uma passagem aparentemente fortuita, mas que se
revela ao longo da tese de Erion Marcos do Prado como a centelha de uma questão
central. Já nas primeiras páginas do capítulo inicial da tese intitulada “A
Teatralização do 'eu' na Linguagem do Poema em Cecília Meireles”, o pesquisador
apresenta uma série de cinco poemas de Cecília publicados no volume que inaugura
a Revista Festa, em 1927.
Concentro-me no primeiro deles, intitulado “Casulo”, que segundo Erion, ao
insistir na relação entre a vida e a morte – temática recorrente na poesia
simbolista bem como na lírica da poeta em questão (um dos elementos que, por
sinal, aproximam ambos) -, se dispõe a tratar, entre outros assuntos, da
“condição da existência humana diante de seu destino fatídico” (2019, p. 35). Soma-se
a esse ponto de vista a observação de que há no poema um “confronto entre
humano e divino, matéria e espírito, etéreo e carnal” (2019, p. 37), ou mesmo a
evidência de um “confronto entre a fragilidade da existência e o poder da
preservação do indivíduo através da arte (...)” (idem, p. 37). Para Erion “a
metamorfose, aqui, é a transformação da matéria em espírito, e permite uma
outra forma de vida, a espiritual” (idem, p. 37). Poderíamos perguntar se esse
processo sinalizaria necessariamente para o término da existência material, ou
se não estaríamos diante de uma espécie de ritual de iniciação que marcaria a
estreia não só da Revista Festa no Modernismo
brasileiro, mas também de Cecília Meireles no periódico, já que o poema não
apenas abre uma série de cinco textos, mas também inaugura uma intensa
colaboração literária que infelizmente seria desconsiderada pela própria poeta
na revisão de sua obra. Seus poemas de Festa
ficaram de fora. Esse olhar parece corroborar com o de Leonardo D´Ávila de
Oliveira, inclusive citado por Erion, um olhar que apresenta o texto como parte
de uma “viagem interna que seria uma espécie de iniciação a um mundo que não é
mais material, e sim espiritual” (2019, p, 35). Talvez pudéssemos acrescentar,
que não é mais só material, mas também espiritual, já que a morte
em um ritual de iniciação místico-filosófica, em sociedades secretas e/ou
apenas esotéricas, seria apenas simbólica. A morte simbólica, inclusive, é
geralmente a parte mais enfatizada dessas cerimônias (SPENCER, 1995). Nas
culturas iniciáticas, tal acontecimento antecede um renascimento simbólico que
aqui, poderia ser associado a título de miragem, à morte de uma certa ideia
modernista e o renascimento simbólico – ou pervivência – de uma certa ideia de
modernidade que apontaria por sua vez para a existência de um modernismo
paralelo (continuador nas palavras de Erion) àquele outro que se consignou
autonomista pela geração de Oswald e de Mário de Andrade, a Geração de 22, o
grupo da Semana de Arte Moderna.
Se
prestarmos mais atenção nas três estrofes do poema “Casulo”, observaremos que
na primeira delas estamos diante de uma preparação para a morte, na segunda
estamos diante da morte simbólica, propriamente dita, e na terceira, da vida
póstuma, neste caso da vida pós-Iniciação. Na primeira, sugere-se uma criação
de fios tênues (formando um casulo) que envolveriam um sujeito que está a
dormir um sonho preparatório, sonho que seria uma espécie de “Iniciação das
azas / para a sabedoria dos espaços” (apud
PRADO, 2019, p. 25). Trata-se de um acontecimento do passado. A segunda estrofe
aponta para um presente ou para um pretérito recente (materializado pela
expressão “hoje romperam-se todos os casulos”). Todos morreram, de fato, menos
o sujeito tratado no poema, como se a morte para ele não acontecesse de fato,
mas apenas simbolicamente. A terceira estrofe parece apontar para um futuro, na
expectativa de uma resposta à pergunta: “Dize-me, insecto obscuro: / Com que
azas voaste / De dentro de ti mesmo?” (apud
PRADO, 2019, p. 25). O poema parece aqui sugerir novamente uma morte simbólica,
já que num processo de iniciação vivencia-se a experiência da morte sem se
morrer de fato. Trata-se de uma experiência do possível, daquilo que poderia
ter sido, e de onde se extrai algum tipo de aprendizado, de conhecimento. Uma
experiência de certa forma poética, bem como verossímil. Vale reforçar que em
rituais de iniciação variados é comum a presença da morte e do renascimento. Em
alguns rituais xamânicos temas como o do desmembramento do corpo, a redução a
um esqueleto e a subida pela Árvore Cósmica, são recorrentes (SPENCER, 1995).
No Budismo Tibetano e Mongol, segundo Gertrude Spencer, “visualizar a própria
morte pela redução ao estado de esqueleto é uma meditação favorita” (idem, p. 36). Na maçonaria, o tema da
morte é vivido pelo postulante deitado em um caixão-casulo (sobre isso, anoto o
que me contaram visto que não sou maçom). O noviço, em outros rituais de
iniciação, se torna novamente embrião a permanecer no ventre-casulo por algum
tempo. Rituais hindus envolvem a colocação de um candidato num receptáculo
dourado que tem a forma de uma vaca, ou “em um pote simbolizando seu ventre,
sendo que ele emerge de ambos como um bebê” (idem, p. 30). Assim o simbolismo do retorno ao ventre é recorrente
em muitas cerimônias de iniciação, presentificado pelo isolamento do noviço,
numa cabana-caverna-casulo. Em quase todas elas, trata-se de produzir uma
introspecção, seguida de uma segregação ou isolamento do mundo, para se atingir
a morte mística, seguida da ressurreição, da revelação (SPENCER, p.1995).
O
poema “Casulo” termina com dois versos que perguntam: “Qual foi a tua Iniciação?
/ Qual é a tua sabedoria?”, como a interrogar um interlocutor sobre
aprendizados que vieram com essa transformação, já que o Iniciado nunca mais
será o mesmo depois deste evento. Não desconsideremos que Cecília, iniciada no
Modernismo Continuador de Festa,
encantou-se sempre com misticismos e religiosidades orientais que são bastante
afins a rituais iniciáticos, o que marcou deveras sua pensamento e obra, como a
Tese bem aborda.
Insisto
um pouco mais na questão, desculpando-me pela longa digressão. Em um belo
confronto com o “Casulo”, Erion apresenta a “Elegia a uma pequena borboleta”,
que Cecília publicou posteriormente, em 1949, no livro Retrato Natural. A partir dela, observa não só a fragilidade do ser
alado (uma espécie de Albatroz baudelairiano), bem como aponta novamente para a
tópica da metamorfose. Neste caso, a morte da larva gera o nascimento da
borboleta, mas para morrer logo depois nas mãos da poeta que, com sua rude mão,
e sem habilidade para lidar com as coisas frágeis, sutis, mata o pequeno inseto,
chorando por sua forma violada. A borboleta antes viva e alada, agora está
inerte e silenciosa. Para Erion, os versos fazem parte de um questionamento
acerca da qualidade do trabalho poético que o eu-lírico realiza. Se por um lado
o poeta é aquele que mata a borboleta, por outro é aquele que a permite
perviver por meio de seu texto: “Se a poeta não consegue salvar o inseto que
voa, a única forma de conservar ainda a vida desse ser é através da arte”
(2019, p. 44). De um lado a fragilidade, a morte, a incapacidade de durar, o
efêmero, o transitório, o casulo-esquife, de outro, o movente, a movência em
si, a capacidade de se metamorfosear, de perviver, de sobreviver, mesmo que
como ruína no texto, mesmo que como imago.
A borboleta precisa ser sacrificada para sobreviver como imagem, Cristo
crucificado[1]
não é senão uma espécie de grande borboleta aberta, como apontou Didi-Huberman,
borboleta “bela, simétrica, muda como uma mariposa-caveira (2015, p. 147). Tão
barroca, tão simbolista, tão moderna, tão Cecília Meireles.
A
questão parece sinalizar aqui para um paradoxo que marca a arte desde
Baudelaire, numa tentativa perene de conciliação entre as suas duas metades. Antonio
Cícero, no poema “Guardar”, escreve que “melhor se guarda o voo de um pássaro”
do que um “pássaro sem voo” (2010, p. 29). Didi-Huberman, numa direção
semelhante, pergunta se a “borboleta integralmente conhecida seria, portanto, a
borboleta submetida ao éter, definitivamente cravada com um alfinete sobre uma
prancha de cortiça? (2015, p.14)”. O próprio historiador da arte pergunta:
Integralidade
ilusória, obviamente, porquanto lhe falta a vida. Não valerá mais uma borboleta
que passa sob nossos olhos, fugidia mas viva – movente, errante, mostrando e
ocultando alternadamente sua beleza no bater das asas -, mesmo que seja pouco
conhecida e, como tal, muito frustrante, senão inquietante? (2015, p.14).
Diante
da borboleta de Cecília talvez estejamos a vislumbrar a Passante, de As Flores do Mal, e sua efêmera beldade,
fadada a ser vista novamente senão na eternidade, beldade cujos olhos fazem o
poeta nascer outra vez, como borboleta emergindo do casulo na multidão. Aliás,
Erion Marcos do Prado, em uma das passagens da Tese, escreve que na obra de
Cecília Meireles, a vida é feita de coisas ambíguas, que misturam alegria e
melancolia, beleza e dor, como se ela também se pusesse a escrever as suas Flores do Mal (2019).
Penso
que a tópica do casulo e da borboleta, bem como suas especificidades na lírica
de Cecília, não só ajudam a fundamentar uma certa poética, bem como integram um
projeto que destoa do Modernismo autonomista, fazendo-nos lembrar do elogio das singularidades bergsonianas,
lembradas por Didi-Huberman, em Falenas,
elogio que acabava por recusar a maneira como quase toda a tradição metafísica
do Ocidente terá privilegiado a “permanência das formas fixas, facilmente pensáveis na sua idealidade, em detrimento
das formas moventes, tão difíceis de
aprender em suas durações concretas, nas suas mudanças, nos seus anacronismos e
metamorfoses” (2015, p. 16). De um lado uma intensa reflexão sobre a forma, no
modernismo de ruptura. De outro, um movimento mais aberto a forças difíceis de
serem domesticadas, pendão da própria modernidade. Talvez fosse preciso, à maneira
de Murilo Mendes, evocado por Raúl Antelo (2001), em um texto sobre o conceito
de arte pura nos modernistas brasileiros, empregar a palavra modernidade e não
modernismo, para lidar com tal força, mais próxima de Cecília Meireles do que
de Oswald de Andrade. Antelo observa que Murilo Mendes “situa a questão da
modernidade, isto é, 'as ruínas do discurso, num outro espaço que já organiza a
sua própria arqueologia' nas noções de morte do autor e desaparecimento da
obra” (2001, p. 111). Por isso penso que Erion acerta ao aproximar o poema de
Cecília Meireles mais do simbolismo (poesia moderna) do que do modernismo
paulista. Penso também que outros dois ensaios de Antelo podem nos ajudar a
pensar em tal questão, “O percurso das supersensações”, no qual a ideia de
supersensações de Clarice Lispector é analisada como a inversão pontual da
imagem modernista, pulsando como o avesso do signo, “dissonância irresolvida
dos interstícios da própria representação” (2001, p. 185), ultrapassando assim
“a experiência de ruptura modernista” e podendo ser mais cabalmente entendida
como “experiência interior” (2001, p. 185). Tais questões podem não estar especificamente
próximas de Cecília, mas não são dela totalmente avessas. O outro texto que
penso, nos ajudar a desenvolver a questão está em “Mar, máquina e mais-de-ser”,
no qual Raul desenvolve uma interessante leitura do simbolismo de Cruz e Sousa
ao pontuar no poema em prosa um processo de “irrupção da máquina como sintaxe
do novo homem”. Segundo Antelo, muito antes de dadaístas e surrealistas descobrirem
o vínculo entre imagem e mercadoria, os simbolistas captam, numa determinada
redefinição do sujeito, não só a “emergência de outra linguagem, porém,
efetivamente, a articulação da linguagem do outro” (2001, p. 197). Nas imagens
produzidas por esse simbolismo, Antelo encontra um “inconsciente ótico”, do
qual derivam noções de experiência de esgotamento e de imagem corporal que
tocam nossa sensibilidade contemporânea” (2001, p. 200). Creio que são
observações que integram textos que ampliam as dobras da mesma questão.
Didi-Huberman,
em uma passagem de Falenas, nos
convida a articular o ver e o imaginar, seguindo a rigorosa definição
baudelaireana que faz da imaginação uma faculdade que aprende as relações
íntimas e secretas entre as coisas. Articular o visível e o invisível, o
efêmero e o eterno, a imagem e a imaginação, parecem fazer parte do projeto
dessa modernidade de Festa, ou melhor
da poesia moderna de Cecília Meireles, essa máquina neo-simbolista de produzir
imagens. Sua borboleta parece não estar desvinculada da coleção de borboletas
de Walter Benjamin, em “Infância Berlinense”, da conversa de Warburg com suas
borboletas, do conjunto de borboletas que pululam no surrealismo, no voo
cinematográfico do inseto figurado por exemplo pela mulher-borboleta de Georges
Méliès, entre tantas outras. Penso que a borboleta parece funcionar bem para
ilustrar uma certa ideia de modernidade, no jogo de um paradoxo da forma e do
informe, de sua pungente aparição que tão logo prenuncia sua agonizante
desaparição.
A
meu ver, Erion percebe bem o que está em jogo na poesia de Cecília em relação a
sua concepção de poesia moderna, seu diálogo com outras tradições em especial
com o simbolismo (inclusive na sua vocação para uma vivência religiosa
múltipla), sua inadequação ao modernismo canônico, a teatralização do “eu” como
princípio constitutivo de seu poetar moderno, uma determinada concepção de
nacional em confronto com o vago e etéreo nefelibatismo, que por vezes parece
paradoxal, e por isso mesmo moderno, aspecto que pervive ao longo de sua
produção para além de Festa. Para
finalizar, gostaria de destacar algumas contribuições da Tese que hoje se
examina:
·
Erion devolve potência para alguns
poemas relativamente esquecidos de Cecília, refiro-me em especial àqueles que
integram a sua participação em Festa e que não foram reconhecidos pela própria
escritora na revisão de sua obra ao lado dos primeiros livros. O pesquisador
analisa com desenvoltura uma poeta que continua sendo um mistério para mim,
convidando-me também à leitura;
·
A
pesquisa analisa com presteza a dimensão moderna de sua poesia, posta em
diálogo minucioso com o simbolismo[2],
esmiuçado na sua vocação para a problematização do lirismo tradicionalmente
entendido como linguagem em estado de ânimo, da alma pessoal do artista,
lirismo que passa a ser compreendido a partir de uma certa noção de teatro, de
“dramatização das vozes”, o que enriquece a leitura da poesia de Cecília. Dessa
questão, destaco uma passagem em que Cecília, de certa forma, se expõe ao
risco, ao escrever em uma carta enviada a Côrtes-Rodrigues: “E entristecem-me
pensarem – quase todos – que o que escrevo é uma coisa, e eu e minha vida somos
outra” (2019, p. 205). Erion resolve a questão ao observar que “se a poeta vê
sua obra e sua vida como a mesma coisa, como fez em alguns textos que foram
tratados aqui, isso se deve ao fato de que ela inventa o vivido a partir do
poetado” (2019, p. 207). Em outra singular constatação, apontando para um jogo
entre bio e razo, Erion escreve: “quando diz que sua vida e sua obra são a
mesma coisa, Cecília quer dizer que cria vida nova através da palavra e não o
inverso. Ela não coloca em palavras um evento biográfico, ela não está
arrazoando o vivido, mas poetando um arrazoado”.
·
A tese problematiza o modernismo de 22,
tratado na Tese como uma tradição que pende para a ruptura, o dito modernismo
canônico, apontando para uma outra experiência modernista brasileira, como é o
caso do modernismo continuador (expressão usada por Erion), na qual está
inserida a revista Festa e Cecília Meireles. Um modernismo que teria inclusive
desenvolvido uma concepção diferenciada de uma ideia do nacional. Sobre a
participação de Cecília na revista Festa,
observando que tal filiação parece uma pista para entender a singularidade de
sua poesia.
Por
fim, saúdo o pesquisador e sua pesquisa, Erion Marcos do Prado e sua tese,
criador e criatura, que, feito a borboleta depois da maturação do casulo,
entrega-se às exigências de uma defesa de doutorado, numa espécie de ritual
iniciático - no entanto, sem as fantasias místicas ou constrangimentos
religiosos -, ritual que certamente lhe permitirá ascender a outros patamares
acadêmicos, a outras experiências de leitura e escrita, a outros movimentos de
saber, a outras perquirições que como as da presente tese certamente
estimularão em nós, leitores, o convite ao voo.
Referências:
ANTELO,
Raúl. Transgressão e Modernidade. Ponta
Grossa: UEPG, 2001.
CICERO,
Antonio. Antonio Cicero por Alberto
Pucheu. Rio de Janeiro: Eduerj, 2010. (Coleção Ciranda da Poesia)
CRUZ
E SOUSA, João da. Cruz e Sousa
simbolista: Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos. Organização e estudo por
Lauro Junkes. Jaraguá do Sul: Avenida, 2008.
DIDI-HUBERMAN,
Georges. Falenas. Lisboa: KKYM,
2015.
PRADO,
Erion Marcos do. A teatralização do “eu”
na linguagem do poema em Cecília Meireles. Florianópolis: UFSC, 2019.
(Tese)
SPENCER,
Gertrude. O drama da iniciação. 4 ed.
Curitiba: Ordem Rosacruz, 1995.
A Banca de Doutorado foi composta pelos professores:
Raúl Antelo
Carlos Eduardo Capela
Rita Lenira de Freitas Bittencourt
Caio Ricardo Bona Moreira
[1]
Como não
lembrar do “Cristo de bronze” (2008, p. 52), bizarro, de Cruz e Souza. Aliás,
Cruz e Sousa, em um de seus sonetos, “O Grande Momento”, escreveu sobre a
consagração do Artista, sobre a entrada de sua Alma Imprevista no seio dos
iniciados, comparando-a com a transformação da larva em borboleta: “Eis o
grande Momento prodigioso / Para entrares sereno e majestoso / num mundo
estranho d´esplendor sidéreo // Borboleta de sol, surge da lesma... / Oh vai,
entra na possa de ti mesma, / quebra os selos augustos do mistério” (2008, p.
237). Pensando na longa, pertinente, e protéica discussão de Erion sobre a
teatralização do “eu” na obra de Cecília, talvez pudéssemos pensar na
despersonalização do poeta, na morte do autor, e na re(construção) do sujeito
poético como a transição do estado de larva, no casulo, ao estado de borboleta.
Vestir a máscara desse carnaval, fantasiar-se de borboleta, é nesse sentido uma
forma moderna de fazer poesia.
[2] “Os poetas de
Festa buscavam, acima de tudo, o absoluto e o eterno, ligando o mundo material
ao mundo espiritual, tendo, segundo eles, uma visão da realidade total do ser,
encontraram no simbolismo o principal tema para a sua poesia: a existência
humana” (PRADO, 2019, p. 167).
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