quarta-feira, 25 de março de 2015

Ulysses Teixeira, entre a poesia e a pintura, a faísca de uma outra linguagem

O poeta e pintor paranaense Ulysses Teixeira acaba de colocar no ar um blog no qual publica seus POEMAGENS, ou POEMARGENS como defino a sua linguagem, uma linguagem que tensiona os limites entre a poesia e a pintura:


https://organdipoetica.wordpress.com/

Em primeira pessoa

No último sábado, 21 de março, a Gazeta do Povo publicou em seu caderno de Cultura poemas inéditos de Cristóvão Tezza. Foi uma linda edição, ilustrada por Biel Carpenter. Na capa do caderno, o jornal publicou um pequeno texto não assinado, intitulado "Em primeira pessoa", cujas palavras observam que "o romancista pode observar o mundo do alto, como uma espécie de entidade que controla tudo", ao passo que "o poeta está no mundo, sentindo tudo". Como não lembrar da contraposição feita por Willi Bolle entre Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Para ele, o olhar de Rosa sobre o sertão é o exato oposto das vistas euclidianas do alto: é o que ele chama de "perspectiva rasteira": "Enquanto o ensaísta-engenheiro sobrevoa o sertão como num aeroplano, o romancista caminha por ele como por uma estrada-texto". Euclides da Cunha é aviador; Rosa, o sertanejo que se embrenha na mata. Nesse sentido, quem fala é o sertanejo ao passo que, Em Os Sertões, ele é falado. Sem esquecer que Grande Sertão é também poesia. Por outro lado, Augusto de Campos soube muito bem observar a poesia que se depreende do romance-ensaio de Euclides. No fundo no fundo, há poesia também em romances, como defendia Octavio Paz. O Filho Eterno, de Tezza, prova isso. Que seja bem-vindo o Cristóvão poeta.

O homem que caminhava sobre a cor

Em um dos capítulos do livro "L'homme qui marchait dans la couleur", dedicado ao trabalho de James Turrell, o historiador da arte Georges Didi-Huberman analisa o papel e os efeitos dos vitrais góticos na construção do sagrado na Idade Média. Ele pergunta o que podia ver o homem que caminhava pelas catedrais francesas ou inglesas do século XIII. Para ele, algo não muito discernível. Isso porque as figuras narrativas dos grandes vitrais góticos estão um tanto distantes, ou seja, sua compreensão visual é prejudicada pela distância. No entanto, esses mesmos vitrais estão afetados diretamente pela cor. O homem que caminha por essas igrejas verá a luz chegar e partir, atravessar a grande nave matriz, "mudar constantemente o objeto de sua carícia". Perceberá que um roxo sobrenatural cai sobre ele, rodeando seus passos até envolvê-lo todo. Então se reconhecerá como alguém que caminha sobre a cor: "Talvez recordará, ungido de roxa luminosidade, o sangue compartilhado sobre o altar, virado para o Monte Sinai, para assinalar na história dos homens a grande aliança com o Ausente". É como se essas cores pudessem muito mais do que uma figura traduzir a própria imagem de Deus.


Paixão de artista e Paciência de cientista

Nabokov, esse senhor das borboletas, em uma de suas famosas aulas para um restrito número de alunos das universidades de Wellesley e Cornell (EUA), refletiu sobre a sobre a relação entre arte e ciência no âmbito da figura do leitor: "O melhor temperamento que um leitor pode ter ou desenvolver é a combinação do artístico com o científico. O artista entusiasta, quando só, tende a ser subjetivo demais na sua atitude em relação ao livro, e assim a frieza do julgamento científico vai moderar esse ardor intuitivo. Se entretanto, um pretenso leitor é completamente destituído de paixão e paciência - uma paixão de artista e uma paciência de cientista - dificilmente apreciará a literatura maior".