quinta-feira, 24 de junho de 2021

Quinta Maldita: Centurião (Edição Espacial)



#100QM | CENTÚRIA | QUINTA MALDITA Quinta Maldita é um programa de rádio/sarau independente e está "na estrada" desde 2017. Foi idealizado pelo professor, músico e escritor Demétrio Panarotto e se torna possível a partir de uma parceria com Marcio Fontoura, da produtora Desterro Cultural, responsável pela parte técnica. No mês de junho o programa completa a sua centésima edição. Pelo Quinta Maldita já passaram inúmeros e inúmeras poetas e artistas da cena catarinense, brasileira, latino-americano e europeia. No formato sarau, a maioria das edições foram realizadas em Florianópolis-SC, mas também em Itajaí-SC, Balneário Camboriú-SC, Chapecó-SC, Rodeio-SC; e três edições em Porto Alegre-RS. No formato programa de rádio (podcast), além das edições próprias, outras tantas surgiram em parcerias com blogs, revistas e sites (brasileiros e de outros países). O Quinta tem essa pegada coletiva, já fizemos programas em que a curadoria ficou por conta de Ronald Augusto (A Voz Pública da Poesia, Porto Alegre), Silvana Guimarães (Germina - Revista de Literatura & Arte, Belo-Horizonte), Paulino Junior (em julho sai a quinta edição do Palavras Revoltas); do escritor Rodrigo Naranjo (que realizou uma leitura de Santiago - Chile); Abrasabarca (um coletivo de mulheres de Florianópolis-SC); Matheus Guménin Barreto (Ruído Manifesto - Cuiabá-MT), Deborah Garcia Boeira e Douglas Gomes Dos Santos (Sarau da Tainha, Balneário Camboriú-SC); Alice Souto e Joana Golin (do Sarau Nuvem Colona - Chapecó-SC) José Inácio Vieira de Melo (Poesia na Boca da Noite, de Jequié-BA), duas edições com o PIPA (um festival de Literatura aqui de Florianópolis que organizo em parceria com a Juliana Ben) além de outras contribuições realizadas pelos amigos Ricardo Rojas Ayrala (BA-Argentina), Jorge Vicente (InComunidade, Portugal), Helena Barbagelata (Lisboa-Portugal) e Lu Tiscoski (Florianópolis-SC). Ah, e daquilo que ganhou espaço com as edições, parece-me necessário falar das artes das capas, flyers de divulgação, uma mais linda que a outra (mereciam um texto a parte), sempre contando com um/ma artista para compor a imagem com o texto. Todas as edições estão disponíveis na internet (youtube, spotify, deezer, mixcloud...). A edição desta semana, a centésima, Quinta Maldita Centúria, ou centurião, conta com a participação de mais de 100 vozes que compõem uma narrativa. São elas (e aqui montadas em ordem alfabética pra não estragar a surpresa): Ademir Demarchi - Adriano Salvi - Afonso Nilson dos Santos - Aílton Pereira Junior - Alessandra da Costa Kasprczak - Alex Simões - Alice Souto - Allan Jones - Ana Araújo - André Arieta - André Berté - André Giusti - André Milioli - André Pinheiro - Andri Carvão - Anna Marinon - Antônia Panarotto - Armando Liguori Junior - Artur de Vargas Giorgi - Beatriz Kestering Tramontin - Caio Ricardo Bona Moreira - Camila Lourenço - Carla Grosman - Carlos Nogueira - Cassiano Vedana - Chantal Castelli - Chris Herrmann -Claudia da Fontoura Xavier - Cláudio Parreira - Cris Vazquez - Cristiane Lindner - Cristiano Moreira - Cyntia Silva - Cláudio Dutra - Demétrio Panarotto - Demetrios Galvão - Didiê Kinsey Copetti - Diego Elias - Dinovaldo Gilioli - Diogo Araújo - Dyl Pires - Eduardo Ferreira - Eduardo Sinkevisque - Edu Dieb- Eliakin Rufino - Elsa Sierra - Elisa Tonon - Ever Ribeiro - Everton Luiz Cidade - Fabio Lisboa - Gabriel Faraco - Flavia Memória - Giuseppe Mascena - Guilherme Gouvêa - Helena Barbagelata - Ibriela Bianca Sevilla - Inés Arroyo Franco Jhonatan Carraro - Joanna Golin - João Nilson Alencar - João Paulo dos Santos - José Inácio Vieira de Melo - Jottagá Souza Gones - Juan de Castro - Juan Manuel Terenzi. - Juliana Barros - Juliana Ben - Kamila Novaes - Karine Padilha - Katia Borges - Katiuscia Silvestri - Kesley Rocha - Laís Luz - Leandro Scarabelot - Lian Morales Heredia - Lorenzo Panarotto - Luis Ignacio Cárdenas - Luiz Roberto Guedes - Lu Tiscoski - Lp -Marcelo Mendes - Marcia Mendonça - Marcio Fontoura - Marcio Quadros - Marcio Silva - Marina Coelho - Micheli Hartmann - Noelia Ribeiro - Odair de Morais - Patrícia Pinheiro - Paulino Júnior - Pedro MC - Pri Lopes - Rafael Reginato - Ricardo Pedrosa Alves - Roberto Panarotto - Sidnei Cruz - Telma Sherer. - Tiago Breunig - Valeska Bittencourt - Victor Zanini - Zé Amorin QUINTA MALDITA #100 | CENTÚRIA https://youtu.be/43FnSsMOpeE Idealização: Demétrio Panarotto Edição: Marcio Fontoura Realização: Desterro Cultural - Sintoniza! Distribuição Digital: Comunave Produções 24 de junho de 2021 quintamaldita@gmail.com Ouça o Quinta Maldita no YouTube: http://bit.ly/quintamalditayt Spotify: http://bit.ly/quintamalditasf Deezer: http://bit.ly/quintamalditadz Google Podcast: http://bit.ly/quintamalditagp ou busque na sua plataforma de podcast preferida por "Quinta Maldita"

 QM# 100

Quinta Maldita Centúria
Centurião
Centésimo
miscelânea
100 blocos de resistência
incêndio no desperdício da saliva
palavras cuspidas
na cidade que berra
esgoela o corpo
que berra de volta
gritos e mais gritos
atritos de voz e corpo
quinta maldita é couro comido no coro resposta
sonoridade impulsiva
tesão derrubando paredes neurastênicas ensimesmadas no absurdo
é intuição
fruição
(não é instituição)
insônia verbalizada
afinal
poesia sem ruído é aristocracia
hoje quero
se não me entenderam
comer o verbo no sintoma da alma.

Texto de Apresentação: Demétrio Panarotto

domingo, 20 de junho de 2021

Dádiva




 Diviso-te, assim, como uma dádiva por dar ao desenho da foto um quê de luz e cor e contornos tão espontâneos. E por ser tão espontaneamente o dom de si própria para si mesma - e para o outro que diz amar - só me cabe como efeito evocá-la numa talvez vã tentativa de sugeri-la já que a descrição só faz substrair boa dose da animada fulguração de tua beleza e graça, seja nas manhãs sem maquiagem, filtro ou qualquer outro artifício, de cara lavada e sem ainda escovar os dentes, seja na tarde que nasce com os teus cabelos penteados depois do almoço ao som da TV num canal ao léu, seja ainda no anoitecer esfumando azul e cobre no idílio de duas metades, lusco-fusco, arrebol, ou já na noite profunda em que se adorna com fantasia, brilho e perfume, combinados numa engenharia calculadamente precisa e feminina. Diviso-te, assim, na foto, entre uma e outra parede de vermelho carmim, com a pele tocada por aquela luz que transpassou a janela só para iluminar você. E se sorve com volúpia ou mera elegância teu gim com tônica, limão e zimbro, enquanto lê, é para sentir nesses dias de clausura e temor o amargo misturado ao doce numa transa que fosse como o claro e escuro, o frio e calor que equilibram a vida. Nas horas vadias do nosso confinamento você vai me ensinando que ficar dentro de si, seja onde for, geralmente pode ser mais belo e interessante do que passear livre pelas ruas da cidade ou em qualquer lugar.


c.moreira 

 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

A poesia grávida de Mariana Ianelli: Todas as casas dentro da casa

 


À medida que leio os poemas e as crônicas de Mariana Ianelli, vêm-me à lembrança certas imagens do “Sermão de Nossa Senhora do Ó”, que Padre Vieira pregou em 1640, na Igreja da Ajuda, em Salvador. No texto, o prosador barroco observa que a Terra é um círculo que está contido em outro, o das esferas celestes. Estas estão contidas em Deus que, por sua vez, está contido no ventre de Maria, que o abraçou dando-lhe circunferência e a dimensão de sua divindade. Nossa Senhora está contida na Terra. E o ciclo recomeça. O círculo não para. O ventre de Maria, então, é esse imenso maior que o imenso, ou seja, o imensíssimo. Um círculo vai dentro de outro e Deus, por não ter imagem que o represente, é figurado com um O. O mesmo Ó formado pelo ventre grávido de sua mãe. O mesmo “Oh!” que é a interjeição do desejo da expectação ou da dor. A eternidade, por não ter uma imagem específica, é representada também pelo círculo, figura geométrica perfeita. O infinito é um Ó. O tempo distendido – como aquele que nascendo da pedra jogada no lago vai formando seus Ós -, é a própria fulguração do eterno. O desejo distende também o tempo, este que, por sua vez, faz crescer o desejo à medida que aumenta. Quanta angústia de espera mora no istmo de um instante? O ventre é um “O que compreendeu o imenso, assim como o O dos desejos da Senhora na expectação do parto foi outro círculo que compreendeu o eterno”, escreveu Padre Vieira.

Eternidade e desejo são duas coisas que se equivalem, são os dois Ós mágicos da vida. Cada círculo é a morada de um outro: A Terra, o Céu, o Deus, a Comunhão, e o Sagrado ventre feminino. São como as mil casas dentro da casa que prefiguram a obra de Mariana Ianelli. Na epígrafe de seu “Manuscrito do Fogo” (Ardotempo, 2019), podem ser encontrados os versos de Marize Castro: “Mil casas dentro desta casa / Cada uma com seu anátema / Oráculo / Olor.



Descubro em cada poema de Mariana algo singular e ao mesmo tempo múltiplo, algo particular e um estranho elo que faz cada texto corresponder aos outros. A literatura é esse eixo de tantas ligações. E quantas casas vão sendo construídas nesses poemas? Aos poucos, durante a leitura, vão surgindo estrelas – que ainda brilham depois de mortas, ou que às vezes brilham mais porque estão a morrer. São elas: as famílias lendárias, a mãe, a outra mãe, o sangue conjugado dos irmãos, o retorno para casa, os despojos do tempo, a lembrança da casa demolida, a mitologia da genealogia realizando a história de seus nomes, os livros póstumos, a cinza que é rastro e memória, os vestígios de alguma coisa, as cicatrizes, as ruínas, os diálogos com António Vieira, o filho, o filho pródigo, o pai, a casa que ainda pode ser amada, a Pietà, a descendência, a casa morta, o tempo perdido ou devorado, o tempo reencontrado,  o tempo cindido, os ossos da casa, a casa deserta, o futuro repleto de antigamentes. São muitos os círculos, todos morando dentro de um outro. Todos contidos no ventre da poesia de Mariana Ianelli. Uma casa dentro de outra, todas dentro dela. E ela, a poeta, onde? Dentro dela e da casa, é claro. Maria, Mariana e seus Ós. Do hebraico e do sânscrito, o nome de Maria, “senhora soberana”, dá origem à Mariana. Ana, do Hannah, “cheia de graça”. Mariana, “mulher pura e graciosa”, aquela que vem de Maria. A poesia de Mariana vive no ventre da família.  

Não se trata aqui – com Vieira - de sacralizarmos ou canonizarmos a obra da autora, longe disso. O anátema que figura em sua epígrafe, aliás, é a própria imagem da excomunhão. Contentamo-nos, no entanto, em apontar para uma dimensão religiosa que intuo nela ao ler seus livros. Viver a vida ou escrever religiosamente transcende qualquer ideia de religião ou instituição devotada à prática da fé. O religioso, em Mariana Ianelli, está na vida, no aqui e no agora, cheios de antigamente, mas também grávidos do porvir. E assim a escrita vai se constituindo como uma espécie de oração. Daí sua obra evocar em mim certos textos de Cecília Meireles, Hilda Hilst, Herberto Hélder, Clarice Lispector, Raduan Nassar, Caio Fernando Abreu, Wilson Bueno, ou a música de Erik Satie, Debussy, Brahms ou Bach. Não a comparo com eles, apenas celebro o que no meu ímpeto de leitor se agrega. Aliás, falando de tantos Ós, lembro de Pitágoras a defender que as esferas celestes tocavam uma música universal. É a base de uma verdade imemorial que vemos na poesia com suas infinitas e indefinidas correspondências. Mariana pensa por imagens, a poesia é seu jardim. 



Escrevo tudo isso para chegar a uma outra casa, seu livro de crônicas “Dia de Amar a Casa” (Ardotempo, 2020), que reúne textos que vão de 2017 a 2020, no estopim da pandemia. Enquanto lia, fiquei pensando: “E se a casa nos amasse como nós amamos a casa, como seria?”. A casa é esse livro que guarda tanta coisa e está também dentro de Mariana. E essa morada é religiosamente imensíssima. A casa dela tem seus santos, seus rituais, seus terços, seus louvores cotidianos. E ela faz da palavra poética sua eminente comunhão. Mariana é um oratório. E comemoro a descoberta de suas crônicas como uma das coisas bonitas que me aconteceram nesses dias tão tenebrosos e cruéis. Redescubro, aliás, no seu texto, aquilo que Valdir Prigol escreveu sobre a vocação do gênero: “a transformação do cotidiano em matéria potencialmente lírica”.    

A escrita de Mariana instaura em minha leitura a crise do comentário. É daquelas obras rebeldes que não se entregam fáceis aos caprichos de um comentador. E talvez seja também por isso que ela me pareça, desde já, tão fascinante. Eu leio, releio, sinto-a, e isso me basta. Não sei se quero entendê-la. Não sei resumi-la, ou criticá-la. Quero apenas conversar, vislumbrar a rosa a ser colhida em cada frase: A pele da pétala de um hibisco, o amor pela nuca ensolarada de uma amiga, o azul calmo do dia em que a avó morreu, o olhar do amante em uma fotografia de Doisneau, o miniconto de um milagre real encasulado em uma Nossa Senhora do Ó de Sabará, uma palavra-guimba mostrando que nenhum fogo é fútil, uma mulher que era uma multidão, um amor de repente deitando âncora na realidade, os pincéis escalavrados do avô, a lembrança que é um cavalo-marinho, ou uma cama no quintal debaixo das buganvílias.

Mariana aponta em uma das crônicas para a secreta claridade da avó nua em um quadro pintado pelo avô, em 1948. Penso que essa crônica me ajuda a compreender um pouco mais a obra da escritora. No retrato pictórico, a avó aparece nua, virada de costas, no primeiro plano. Vemos o torso de uma modelo despida, cujas mãos parecem esconder o sexo oculto ao espectador. Há uma certa timidez personificada pelo íntimo pudor dessas mãos sobre a genitália. É um gesto quase inútil, porque ela está ali inteira, e sua imagem entregue à expressão do pintor, entregue principalmente aos nossos olhos. Quanto mais ela se esconde, mais ela se revela. Vemo-la, ali, inteira. Com candura, Mariana toca a imagem da avó, prometendo-lhe cuidado e mão leve. É assim sua escritura. Uma mão que toca as coisas com delicadeza e afeto, ocultando e revelando num jogo de mostrar e esconder a beleza da casa, da família, dos objetos, da infância, das palavras, das alegrias, mas também angústia das dores, da indignação, da insatisfação, da saudade, da guerra, do desterro em sua própria terra. Mariana, seguindo certos passos (ou traços) do avô, compõe o texto como quem mistura tintas, esfumando, assim, com sábia imaginação, seus tons e luz e sombra, fazendo da poesia uma legítima aleluia. É com essa intensidade que ela mergulha também no presente, com os olhos abertos e em alerta aos dilemas do nosso tempo. É quando seus quadros capturam e pensam também o horror, mas nunca abrindo mão da delicadeza. Ela está também lá, na indignação. É um gesto preciso e precioso.


Caio Ricardo Bona Moreira

Imagens: Edições Ardotempo

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Quinta Maldita



Na 
Germina - Revista de Literatura e Arte
É hoje, às 19 h: #98QM | IMPROVISO | QUINTA MALDITA
Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=tmwkkHFQAoI
01. Trilha 02, Artur Fulinaíma
02. O fim, Eldimir Dyl Pires
03. A casa morta, Kamila Novaes
04. Cor, flor, fruta, fantasia, Gabriel Faraco
05. Sem título, Marianna Marimon
06. Sem título - Caio Ricardo Bona Moreira
07. Vinheta (casa assombrada)
08. Sem título, Jhonatan Carraro
09. Morir, Carla Grosman
11. Niliistas apocalípticas, Anna Amelia Marimon Marimon
10. Trilha 15, Artur Fulinaíma
12. O cachorro sem cu, de Demétrio Panarotto, lido por Victor Zanini
13. Sem título, Katiúscia Silvestri
14. Sem título, Patrícia Pinheiro
15. Salário mínimo, Luis Ignacio Cárdenas
16. Romanesca, @Fábio Lisboa
17. Variantes, Everton Luiz Cidade
18. Passando a faixa, Adriano Salvi
20. O corpo é uma multidão excitada - Antonio Oliveira (Mano)
21. Sem título - Katiúscia Silvestri
22. Sem título, Victor Zanini
23. Quebra-cabeça, de Demétrio Panarotto, lido por Jonas Martins
24. Vida de artista, Itamar Assumpção
25. Vinheta, Lorenzo Panarotto
QUINTA MALDITA #98 | IMPROVISO
Idealização: Demétrio Panarotto
Edição: Marcio Fontoura
Arte: Roberto Panarotto
Realização: Desterro Cultural - Sintoniza!
Distribuição Digital: Comunave Produções
03 de junho de 2021
quintamaldita@gmail.com
Ouça o Quinta Maldita no
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Google Podcast: http://bit.ly/quintamalditagp
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