quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Proust, Alan Pauls, Caetano Veloso e o tempo


















Ele tem pensado muito em Proust, nas suas frases longas. Em como soam polifônicas nos períodos extensos de Alan Pauls, suas "frases habitat". Tem pensado no tempo perdido, na sua longa linha de gasto e espera. Tem pensado muito em Proust depois que leu o capítulo "Narciso em Férias", que integra o "Verdade Tropical", de Caetano Veloso - o capítulo que deu origem ao filme/documentário sobre sua prisão nos anos 60. Tem pensado muito no tempo, no tempo da quarentena, nas pessoas que o mundo está perdendo (que não poderão mais ler Proust), nas frases compridas da prosa de Caetano, na grande envergadura do texto e obra do artista baiano. Tem pensado no tempo que perde lendo e escrevendo frases de curta ou longa duração. O tempo que gasta com livros infinitos ou gigantes como Grande Sertão, Os Sertões, Paradiso, ou Rayuela. O livro é essa casa em que está preso e na qual abre a vista e o passo para a liberdade em sua infinita ou indefinida clausura. Tem pensado também nos livros que tocam nele como canções. Esse tempo gasto não lhe parece perdido, mas busca pensar e então sente que todos (inclusive ele) estão perdendo algo mais do que o tempo.

c.moreira

fonte da imagem: jornal Estado de São Paulo

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