quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Uma luz no vácuo



 

Uma luz no vácuo viaja a quase trezentos milhões de metros por segundo. Alguns filósofos antigos acreditavam que sua velocidade era infinita. Outros diziam que ela era emitida pelos olhos. Galileu tentou sem sucesso medi-la. Foi só no século XIX que alguém o fez com pequeno erro em relação à medida atual. Foi com um espelho semirrefletor e uma roda dentada giratória que certo físico conseguiu medir a velocidade da luz. Às vezes, uma descoberta custa a chegar. Ela viaja muito mais devagar que o som – às vezes, mais devagar que uma bicicleta. Saber de ti não foi uma descoberta. Foi como ver uma luz se acender no escuro do quarto. Ela veio viajando do infinito a trezentos mil quilômetros por hora. Foi como piscar o olho e no abrir das pálpebras ver uma flor em botão desabrochada sobre si mesma. E tal surpresa só se traduz em encanto porque talvez quando todos os mistérios da vida forem esclarecidos a gente nem perceberá que continuamos girando com o mundo mesmo depois de termos dado uma volta em torno dele. E que na memória o que decidirmos fazer continuar existindo ainda existirá até quando quisermos. Perceberemos também que as coisas mais complexas e maravilhosas são aquelas que nos parecem mais simples. Como a minha mão na tua ou a tua na minha. Ou a forma como os pelos de seu braço se eriçam logo depois que te abraço com um certo aperto. Perceberemos com mais clareza que o calor vai transferindo sua energia para um corpo mais frio e nossos corpos vão encontrando assim um equilíbrio térmico. A ciência nos ensinou que quando dois corpos possuem duas temperaturas distintas com o tempo essa temperatura tende a se igualar e equilibrar. A mesma e outra onda vão quebrando na mesma praia há milhões de anos. A terra segue girando ao redor do sol numa rapidez muito maior do que aquela produzida em torno de seu próprio eixo. Foi assim quando abri meus olhos e te vi olhando pra mim, perdi o meu eixo e comecei então a girar em torno de você.


c.moreira

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