Ao analisar a desintegração poética do peso, cuja origem pode ser encontrada nos móbiles - essas esculturas às avessas e coloridas de nossa infância - que vemos balouçar em nossos tetos, e que desde o princípio, ao sabor de um leve vento, nos ensinam a lição: "movam-se!", ao analisar esse aparelho de abstração, Ferreira Gullar visita em um de seus Relâmpagos crítico-poéticos, a obra flutuante e fulgurante de Alexander Calder. Para o poeta-crítico, "das alegorias mitológicas às alegorias históricas, da imitação dos objetos cotidianos à desintegração impressionista; de sua reconstituição plástica à sua decomposição estrutural - a pintura se torna pintura-da-pintura: a superfície que antes era apenas o suporte material sobre o qual o pintor criava um espaço virtual torna-se com a evaporação do objeto representado, o objeto da pintura". Para ele, a escultura segue curso semelhante: Evapora o objeto representado. Assim como a crítica, faz um elogio do objeto ausente. Eis um móbile de Calder. Seduz-me esse objeto feito vapor. Esse é seu destino de nuvem. Seu percurso está traçado desde o gesto nefelibata de um poeta simbolista, passando pelas nuvens da arte discutidas por T.J. Clark, no ensaio "Modernismo, Pós-modernismo e vapor". Encanta-me o tema, desde as brumas de Cruz e Sousa, passando pelas nuvens de Oscar Bony, até as mais variadas rarefações do objeto na arte e crítica contemporâneas. Essa parece ser uma obsessão da arte do presente. Evaporar, no entanto, não significa desaparecer, diga-se de passagem, mas apenas um trans-mudar, mudar-de-si, mudar de estado, ser outro, metamorfosear-se, talvez numa nostalgia ao infinito, ou apenas numa vocação para vida líquida nos tempos atuais, já preconizada, aliás, pela filosofia.
Obs: Lembro que evaporar é o que deseja o personagem principal de Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas. Aliás, Pasavento me parece uma alusão quase óbvia ao vento que passa, Passa Vento. Não esqueçamos que a formação dos ventos é influenciada diretamente pela pressão atmosférica, radiação solar, umidade do ar e evaporação.
Obs: Lembro que evaporar é o que deseja o personagem principal de Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas. Aliás, Pasavento me parece uma alusão quase óbvia ao vento que passa, Passa Vento. Não esqueçamos que a formação dos ventos é influenciada diretamente pela pressão atmosférica, radiação solar, umidade do ar e evaporação.
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