Lily Litvak, em seu livro Erotismo y Fin de Siglo, escreve sobre tópicos da poesia do final do século XIX e início do século XX. Antes de refletir sobre a questão do fetichismo, da mulher fatal, do satanismo, da decoração, entre outros elementos recorrentes nessa literatura, Litvak analisa o simbolismo das flores. Para ela, nesse momento, a poesia criou com as flores uma linguagem simbólica: "Às flores arquetípicas e tradicionais se uniram as que o fim do século redescobriu e popularizou". A decoração floral não era realista, "estilizou-se até o grau mais extremo, tratando de apresentar uma concepção anímica". Pintores adornaram seus quadros com as mais variadas flores, poetas fizeram o mesmo em seus poemas. Ora com conotações eróticas, ora religiosas, as flores coloriram a poesia do final do século XIX. O lírio foi um de seus topos mais recorrentes. Lírios brancos em mãos de mulheres mortas, lírios no peito das heroínas de Swuinburne, alegóricos lírios de Moureau, suaves de Viéle Griffin, os de Gilkin ou Paul Valery. Para Pierre Louys se converteram no sexo feminino. Valle Inclán descrevia uma mulher em termos florais: "El cuello florecía de los hombros como um lirio enfermo, los senos eran dos rosas blancas aromando un altar". Cruz e Sousa sugeriu um divino: "Desprende o fino perfume / Etereal / E vem do celeste fume / Ó lírio astral". Paulo Leminski lembra que a consciência icônica inovadora do Simbolismo não se revelava apenas na iconização do verbal, como na grafia fantasita da palavra "írio", grafada pelos poetas como "lyrio", a letra y funcionando como ícone da flor/referente: "Revela-se, ainda, na revolução que associamos às Correspondências de Baudelaire ou ao soneto das vogais de Rimbaud". Muitas coisas poderiam ser pensadas a partir daí, como o ensaio A linguagem das flores, de Bataille, o livro A metamorfose das Plantas, de Goethe, A inteligência das flores, de Maeterlinck, entre tantos outros que nos ajudam a pensar na sua potência literária.
sexta-feira, 3 de abril de 2015
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