terça-feira, 9 de dezembro de 2008

SOBRE “THE DREAMERS”, DO BERTOLUCCI


Você tem dois minutos para fazer um poema antes que a revolução exploda e tudo vá pelos ares. Há duas maneiras de fazer uma revolução:

* Trancafiar-se com dois loucos numa casa cheia de portas, vinhos de um pai poeta, discos e livros: um corredor fantasiado de biblioteca – fazer amor com a menina na cozinha enquanto o irmão dela frita um ovo e espia indiferente seu gemido de gata no cio.

* Sair para a rua e enfrentar a polícia francesa.
Na certa, a segunda opção parecerá mais válida para os camaradas. Além dos infortúnios, causará a impressão de que tua vida não foi em vão. Os pobres homens acreditam que a primeira opção não é revolucionária. Che e Fidel nunca quiseram ficar em casa ouvindo Buena Vista Social Club ou mirando el malecón. Os sonhadores acreditaram que estavam transformando o mundo em maio de 68. Mas não transformaram? Mas e o bom cinema, mesmo aquele que o mais engajado não consideraria de longe revolucionário, também não transformou o mundo? Todo bom filme é uma bomba prestes a explodir. Aí pergunto: “Que revolucionário é esse que pega em armas para transformar o mundo antes mesmo de transformar a si próprio?” Lamento dizer, mas toda ARTE, com letras maiúsculas, mesmo sem ser engajada numa causa particular (as causas são todas tão estranhas a ela) é REVOLUCIONÁRIA.
Já paraste para pensar que em “Os sonhadores”, do Bertolucci, os protestos de 68 aparecem somente no início e no fim do filme? Que revolução é essa que se opera entre sexo, drogas e livros no apartamento do casal de gêmeos siameses que abriga o jovem americano enquanto o mundo pega fogo lá fora?
Muitas coisas a falar sobre esse filme, que ainda está fazendo um eco aqui na minha cabeça (faz uma semana já que assisti ao filme):

* A câmera dança como Josephine Baker pela casa. Não, pensando bem, é a casa que dança, não desenfreada como a exótica Josephine. Dança sutil, como uma bailarina numa passagem do Lago dos Cisnes. O apartamento, um labirinto que dança, assim como a própria História. Vamos e venhamos: 1968, como disse Zuenir Ventura, foi o ano que não terminou.

* Pequenas coisas, detalhes que fazem a diferença: um cinzeiro da década de 60, o bico do seio grande e rosado de Isabelle, seu choro convulsivo depois de uma transa casual, os três corpos na banheira, a luva preta que usa quando finge ser Vênus de Milo. O contraste que se explicita em Isabelle entre o despudor da época e a pureza virginal de uma menina quase santa. A história é bem mais que um protesto.
Por que digo tudo isso? É simples: porque insistem em ler uma obra de arte como essa (The Dreamers é uma obra de arte) a partir apenas de uma perspectiva sócio-política. PORRA! Não será possível ler o mundo de outra maneira?

Um comentário:

Anônimo disse...

esse filme é fantástico!

mas faz mais de dois anos que assisti. você tem cópia disponível?