quarta-feira, 25 de março de 2015

O homem que caminhava sobre a cor

Em um dos capítulos do livro "L'homme qui marchait dans la couleur", dedicado ao trabalho de James Turrell, o historiador da arte Georges Didi-Huberman analisa o papel e os efeitos dos vitrais góticos na construção do sagrado na Idade Média. Ele pergunta o que podia ver o homem que caminhava pelas catedrais francesas ou inglesas do século XIII. Para ele, algo não muito discernível. Isso porque as figuras narrativas dos grandes vitrais góticos estão um tanto distantes, ou seja, sua compreensão visual é prejudicada pela distância. No entanto, esses mesmos vitrais estão afetados diretamente pela cor. O homem que caminha por essas igrejas verá a luz chegar e partir, atravessar a grande nave matriz, "mudar constantemente o objeto de sua carícia". Perceberá que um roxo sobrenatural cai sobre ele, rodeando seus passos até envolvê-lo todo. Então se reconhecerá como alguém que caminha sobre a cor: "Talvez recordará, ungido de roxa luminosidade, o sangue compartilhado sobre o altar, virado para o Monte Sinai, para assinalar na história dos homens a grande aliança com o Ausente". É como se essas cores pudessem muito mais do que uma figura traduzir a própria imagem de Deus.


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