Caio Ricardo Bona Moreira
Ao som de Glenn
Gould
"Em um tempo no qual o senso harmonicamente comum, bem como a ausência de um saber potente parece reger e conduzir a vida, muito aquém das multiplicidades rizomáticas - avessas a qualquer tipo de fundamentalismo -, valorizar a dissonância é uma forma não só de resistência, mas mesmo de sobrevivência do pensar. Fugir da consonância é, assim, um ato de coragem e lucidez"
Gostaria
de saudar o professor Daniel de Oliveira Gomes e sua pesquisa, evocando
amorosamente o livro Perto do Coração
Selvagem, de Clarice Lispector, no qual o pensamento é pensado como música
se criando: “A música era da categoria do pensamento, ambos vibravam no mesmo
movimento e espécie. Da mesma qualidade do pensamento tão íntimo que ao
ouvi-la, este se revelava” (1997, p.54). Evoco também a prosa de Água Viva, na qual Clarice compara a
escrita automática de seu texto ao jazz, gênero musical pautado pelo momento e
pela improvisação: “Sei o que estou fazendo aqui: estou improvisando. Mas que
mal tem isso? improviso como no jazz improvisam música, jazz em fúria,
improviso diante da plateia” (1980, p. 23). Por fim, de Clarice também,
evoco Um sopro de vida, no qual
ela escreveu, ou melhor, cantou: “Estou ouvindo música. (...) Meu vocabulário é
triste e às vezes wagneriano-polifônico-paranoico. Escrevo muito simples e
muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte
seca e na luz fria” (1999, p.15-16). Poderíamos passear bem mais pelo
universo lispectoriano apreciando a música que se depreende de suas palavras,
tudo isso para musicar seu pensamento, ou mesmo pensar altissonantemente seus acordes verbais. Aliás, em 1973, a autora
recebeu uma carta do amigo e jornalista Alberto Dines na qual ele observa sobre
a ficção Água Viva: “Você venceu o
enredo (...) A gente vai encontrando a todo instante situações-pensamento.
(...) É menos um livro-carta e, muito mais, um livro-música. Acho que você
escreveu uma sinfonia” (DINES apud GOTLIB, 2004, p. 33). Tais imagens, a
de um “livro-música” bem como a de “situações-pensamento” parecem aqui ilustrar
com presteza a experiência que vivencio ao ler os textos de Daniel que se
constituem para mim como uma espécie de filosofia-poético-musical.
Glenn Gold
Clarice Lispector
Relembro o belo prefácio de Durval Muniz de Albuquerque Júnior escrito para o livro Dissonâncias de Foucault, de Daniel.
Nele, Albuquerque Júnior observa que ao abrirmos o livro, estamos acionando um
“objeto sonoro” (in GOMES, 2012, p.
11). Ao lermos suas dissonâncias percebemos quanta música há em seu pensamento.
Se, como nos sugere o prefaciador, há uma música em cada maneira de pensar, bem
como uma musicalidade em cada prática filosófica, isso significa que diante dos
textos de Daniel, para além do livro, estamos sempre diante de dissonâncias. O
texto introdutório observa ainda que o livro merece ser escutado mais do que
lido e se o pensamento tem uma musicalidade é porque ele é do campos da
estética. E se o professor/pesquisador está voltado para a dissonância, isso
acontece porque ele está buscando a meu ver uma sonoridade que destoe do senso
comum, o que representa um exercício ideal no que se refere ao estudo de um
filósofo como Michel Foucault. As dissonâncias do pensador francês permitem a
Daniel, nessa sinfonia, produzir, ou melhor criar e tocar, as suas próprias
dissonâncias. E não fortuitamente elas podem ser ouvidas também no texto que
agora se apresenta, “Nódulos de Foucault (das possibilidades rizomáticas de
ainda ouvi-lo)”. Em uma passagem dele, Daniel aponta para a necessidade de
Foucault ser hoje “legitimamente ouvido, em sua lição de dissonância”, isso
porque carecemos de “filosofia viva e dissonante” (GOMES, 2018, p.22).
Michel Foucault
O primeiro texto, ou melhor a primeira performance
filosófica-poético-musical, de Daniel que conheci e que me cativou de imediato
pela sua inventividade foi uma conferência sobre a leitura poética da música de
Tom Jobim (abramos um parêntese: curiosamente a poesia, que é a arte da
palavra, surge em boa parte das tradições, como canto, como música. Tomem-se
como exemplo o lirismo musical dos gregos ou aquele presente nos hinos Rig Veda,
ou mais próximas de nós, as cantigas que brotam junto com a língua portuguesa
na Península Ibérica nos séculos XII e XIII). A palestra foi proferida na UNESPAR, campus de União da Vitória, há alguns anos.
Pensando ainda na música, imagino o quanto o
pensamento-musical de Daniel contribui para fazer repercutir (e o verbo aqui
assimila todos os seus sentidos) o pensamento de Michel Foucault.
Desde que conheci Daniel, chamou-me a atenção, mais do que o
texto por ele elaborado, ou mesmo seus conteúdos e referências, a forma como
sua escrita/pensamento se dobrava e desdobrava, produzindo, por meio da fricção
de objetos muitas vezes disparatados, uma faísca capaz de devolver potência aos
objetos contemplados. Em outras palavras, como o seu texto tocava e dançava em
mim. Ou seja, para usar uma nomenclatura de Michel Foucault, encantava-me
assistir aos movimentos que se dirigiam mais para a sua ficção do que para a
sua fábula[1]
(FOUCAULT, 2001). Como não lembrar aqui do escritor argentino César Aira, que
observou no ensaio “A nova escritura” (AIRA, 2007), a característica principal
dos grandes artistas do século XX que seria a capacidade não necessariamente de
criar obras, mas de criar procedimentos para que as obras se fizessem sozinhas
ou não se fizessem. Pois bem, Daniel parece criar procedimentos de leitura para
que sua crítica se faça sozinha. Como a peça “Music of Changes”, de John Cage,
evocado por Aira no ensaio citado, a filosofia-poético-musical de Daniel se
dobra e desdobra dissonantemente como uma forma ainda possível de se emitir um
lance de dados em prol da arte e do pensamento. Poderíamos pensar no texto de
Daniel como a peça de um músico de jazz que a partir de uma linha melódica
improvisa inventando. O improviso aqui não é sinal de desleixo ou amadorismo,
pelo contrário, desdobrar com eficiência o pensamento musical a partir de um
fio condutor exige técnica e talento, esforço e sensibilidade. Nasce daí sua
forma de ensaio (musical, poético e filosófico). Lembre-se que Adorno aproximou
o gênero ensaio da lógica musical em suas Notas
de Literatura (2003). Aliás, no texto “Nódulos de Foucault”, Daniel observa
que Maria Cristina Franco Ferraz aponta para o relançamento do gesto do ensaio
em Foucault.
John Cage
Pedro de Souza, ao apresentar “Dissonâncias de Foucault”,
chamou a atenção para o fato de que para que existir a dissonância “é preciso
que haja uma linha melódica dentro e fora da qual alguém destoa” (in GOMES, 2012, p. 07). Não é à toa que
no texto de hoje, em questão, Daniel escreve que Foucault precisaria ser
legitimamente ouvido, em sua “lição da dissonância”. Daniel, assim, segue o
conselho de Pedro de Souza, para quem é preciso continuar a ouvir Foucault. O
professor/pesquisador lê assim com-Foucault
na medida também em que o trai, como veremos adiante. Em um tempo no qual o
senso harmonicamente comum, bem como a ausência de um saber potente parece
reger e conduzir a vida, muito aquém das multiplicidades rizomáticas - avessas
a qualquer tipo de fundamentalismo -, valorizar a dissonância é uma forma não
só de resistência, mas mesmo de sobrevivência do pensar[2].
Fugir da consonância é, assim, um ato de coragem e lucidez. É ainda Pedro de
Souza que chama a atenção em Daniel para uma “forma livre de ler um pensador”,
“não no conteúdo que pensa, mas no ato de pensar” (in GOMES, 2012, p. 07). É possível que essa forma seja muito
pertinente para se pensar com o filósofo, pois como escreveu Oliveira Gomes:
Se queremos absorver a profunda intimidade de Foucault temos que encarar o Fora, desde esta escrita, e isto significa manter também com ele uma certa infidelidade, como poria Alfredo Veiga-Neto, em um ensaio. Significa perceber ainda a adesão íntima de Foucault com Nietzsche; evadir do modelo de identidade representativa que o fixaria num lugar excepcional; aceitar o rizoma contemporizado em Foucault para o presente (GOMES, 2018, p. 20).
Se queremos absorver a profunda intimidade de Foucault temos que encarar o Fora, desde esta escrita, e isto significa manter também com ele uma certa infidelidade, como poria Alfredo Veiga-Neto, em um ensaio. Significa perceber ainda a adesão íntima de Foucault com Nietzsche; evadir do modelo de identidade representativa que o fixaria num lugar excepcional; aceitar o rizoma contemporizado em Foucault para o presente (GOMES, 2018, p. 20).
Manter uma relação de infidelidade não significa virar
ex-foucaultiano, porque Daniel não tem medo de conviver com a ausência de mira,
ou de viajar em um barco à deriva. O que Daniel faz é trabalhar com o saber
numa zona de perigo – aliás, lugar destinado a Foucault, como sugeriu Blanchot
(apud GOMES, 2018), assumindo o desafio
de um labirinto sem mapas e sem fins, para desenvolver assim uma perspectiva de
audição, propondo a releitura (audição), de um Foucault artista, de um Foucault
selvagem.
Maurice Blanchot
Se parte da inventividade e da competência analítica e
poética da crítica de Daniel se encontra no ato de manter com o seu objeto uma
relação também de infidelidade, isso significa que o prolongamento do
pensamento desse mesmo objeto está diretamente ligado à capacidade de
multiplicar as ideias, colocando-se a serviço da invenção. Nesse processo, a
relação entre o pesquisador/leitor e o autor/filósofo se (in)diferencia. Talvez
a metáfora da ligação orgânica entre a máquina e o operador não seja aqui
adequada, posto que o universo da produção capitalista é a todo momento
problematizado por Daniel. Seria interessante pensar com ele nos fios da
marionete que “vistos em rizoma, não remetem ao sujeito que opera o objeto, mas
sim que continua prolongando-se na forma das fibras e nervos dos braços do
operador até o indiferenciado” (idem,
p. 21). Porque a esfera do rizoma, seja em Deleuze e Guattari, ou mesmo em
Foucault, está na esfera no descentramento puro, da pura desterritorialização.
O cerne em todos os lugares e o centro em lugar nenhum.
Como não lembrar aqui de um livro seu que muito aprecio,
refiro-me ao “Saber é Poder”, publicado em 2015. Sobre esta obra, Miguel
Sanches Neto aponta para sua estrutura desmontável, como um livro que pode ser
lido aos pedaços, “embora tenha uma estrutura geral” (in GOMES, 2015, p. 09). Cada capítulo seria uma espécie de janela
que se abre “para outras paisagens intelectuais”. O trabalho de montagem – num
certo sentido rizomática - que parece pautar a confecção do livro, variando a
todo momento seus olhares e suas paisagens, mas sem perder a coerência do todo,
demonstra novamente uma espécie de trabalho musical de composição que
encontramos por exemplo no jazz, na sua vocação para a associação inventiva
entre as partes que o compõe. Tendo sempre em vista o fio condutor de uma
reflexão sobre o poder e o saber, bem como o exercício de uma ethopoiética, a partir de um
conhecimento profundo do pensamento de Foucault, Daniel passeia pelo
capitalismo norte-americano que se expande pelo mundo com seus códigos e
condutas, pela língua como fonte de poder e saber, pelas relações entre o poder
e a ciência, a política, o mercado, a educação, etc. Com o filósofo francês,
descentralizando a noção de poder, Daniel nos mostra que o poder está em toda a
parte, inclusive no saber. E na ethopoiética de Daniel, a poesia merece um lugar
de destaque. Em um dos ensaios, intitulado “Ciência ou Culto”, o autor, lendo
Edgar Morin, aponta para a necessidade de fazermos valer “cada vez mais um
diálogo entre a poesia e a ciência”, já que “a poesia, por ser um discurso que
essencialmente não se submete a uma organização política ou interesses do 'ir
adiante', apresenta-se como uma possibilidade mais revolucionária de nos
envolvermos no mundo” (GOMES, 2015, p. 166). Por ser uma reflexão que integra o
último ensaio do livro, antes das considerações finais, percebe-se o lugar
destinado por Daniel à poesia em nosso mundo contemporâneo, bem como uma das
possíveis conclusões da obra, destinada a estudantes egressos do Ensino Médio e
ingressantes no Ensino Superior.
Edgar Morin
Daniel, no texto que hoje se examina, relembra de Glenn
Glould a executar o barroco ao piano, alongando passagens, e criando uma
multiplicidade de execução e não mera interpretação de Bach. Essa imagem parece
traduzir muito melhor a relação do pesquisador ideal com o seu Foucault, talvez
Virgilio a guiar o pesquisador na selva escura da contemporaneidade. Essa ideia
está para além da mera influência, pois trata-se de um jogo que não se dá sem
conflitos e naturalmente seguir Virgilio/Foucault é também e paradoxalmente
trair o seu guia - afastado da mera idolatria -, para lê-lo com mais clareza.
Como escreveu Padre Vieira: “há de estar apartado dos olhos para se poder ver” (1993,
p. 228).
Édipo, sem o distanciamento necessário não enxergava o que o destino lhe
reservara. E quando pode enfim ver, por meio também das palavras de Tirésias,
que aliás era cego, cegou-se, começando, tragicamente, a ver melhor ou ver
mais. Édipo aqui não é o sintoma do homem vacilante, lido a contrapelo com
Foucault por Daniel, nas suas Dissonâncias,
mas apenas uma imagem suscitada por ambos que nos convida a pensar um pouco
mais na relação entre o saber do poder e no poder do saber. Talvez agora, um
pouco mais distante de nós, o pensamento de Foucault seja tão necessário e
importante, e apartado de nosso olhar, talvez possamos vê-lo melhor, ou
ouvi-lo, como sugere Daniel. Observe-se que o se questiona no texto que se
examina é o status atual da recepção da obra de Foucault, analisando faltas e
excessos para encontrar a justeza do nódulo, para além da recusa, do abandono,
ou da museificação do pensador. Contra o achatamento do pensamento chato, Daniel
lamenta o assassinato de Foucault em terras
brasillis por parte de um neoconservadorismo que reina em nosso país.
Trata-se, naturalmente, de uma (re)politização da leitura de Foucault a partir
do rizoma.
Gilles Deleuze
Gostaria
de destacar uma coerência que percorre a obra crítica de Daniel. Dos ensaios
que compõe “Saber é Poder”, passando pelos textos de “Dissonâncias de
Foucault”, uma tendência ao pensamento das multiplicidades, uma vocação para o
rizomático, para a resistência, um pendão para o estabelecimento de pontes,
relações associativas, entre sistemas culturais dos mais variados, do cinema à
pintura, da música à política. Trata-se a meu ver de ampliar as potências do
pensamento ao operar procedimentos críticos/criativos que lhe vêm certamente
também de Foucault, esse baluarte do poder/saber/inquieto, mas também de uma
matemática musical que lhe aguça uma sensibilidade diferenciada, como vimos apontando
desde o início.
A
imagem do rizoma que percorre o texto de Daniel de certa maneira parece ser a
progressão contínua e ininterrupta do rizoma que é o próprio pensamento de
Foucault. Ela parece se constituir crítica e poeticamente para tratar não apenas
das elucubrações do filósofo francês, mas também da forma como Daniel se
relaciona com seu pensamento. Esse é o ponto que insisto. Se as dissonâncias de
Foucault são sugestivas ao pensamento de Daniel é porque o seu
pensamento-música devolve potência a uma zona não domesticada da filosofia, da
história e da arte.
O
saber inquieto de Daniel, naturalmente, demonstra uma preocupação recorrente
com as questões docentes que estão diretamente integradas à atuação científica
do professor/crítico/pesquisador, cujo trabalho se volta contra uma visão
funcionalista atrelada à formação de professores acríticos transformados
inevitavelmente em peças dóceis do sistema em que se encontram inseridos.
Destaco duas passagens:
Não formamos profissionais para o mercado, ele não dita ou não deveria ditar as regras de uma universidade pública, o mercado que só pensa na perfeição superficial deve absorver a densidade humana que formamos, com ética, com potencial crítico, com deformidades inclusive. Profissionais éticos são mais relevantes que aqueles que encenam a "moral" do negócio (GOMES, 2018, p. 19).
Devíamos formar profissionais pra eles mesmos, profissionais éticos, pessoal e socialmente competentes, interessados em filosofar, em pensar, em desobedientemente tornar complexo, em antiestetizar, em rizomatizar, estereostopicamente, contraproduzir, em questionar seus próprios status e lugares de dizer, e não profissionais individualmente competentes para o mercado, para o oponente potencial das áreas de humanidades, para o inimigo de uma dada tradição da universidade pública, gratuita e de qualidade (potencializadora de perigos para o mercado) (GOMES, 2018, p. 19).
Não formamos profissionais para o mercado, ele não dita ou não deveria ditar as regras de uma universidade pública, o mercado que só pensa na perfeição superficial deve absorver a densidade humana que formamos, com ética, com potencial crítico, com deformidades inclusive. Profissionais éticos são mais relevantes que aqueles que encenam a "moral" do negócio (GOMES, 2018, p. 19).
Devíamos formar profissionais pra eles mesmos, profissionais éticos, pessoal e socialmente competentes, interessados em filosofar, em pensar, em desobedientemente tornar complexo, em antiestetizar, em rizomatizar, estereostopicamente, contraproduzir, em questionar seus próprios status e lugares de dizer, e não profissionais individualmente competentes para o mercado, para o oponente potencial das áreas de humanidades, para o inimigo de uma dada tradição da universidade pública, gratuita e de qualidade (potencializadora de perigos para o mercado) (GOMES, 2018, p. 19).
Finalizo
saudando o pensamento musical que se depreende do trabalho de Daniel de
Oliveira Gomes, lembrando não só do interesse de Foucault pela música, mas
também de Daniel, músico exemplar que faz dessa arte uma atividade de
pensamento, ao passo que faz de seu pensamento, assim como intentou Foucault,
uma arte musical que, em outras palavras, significa, acima de tudo, a
poetização da existência.
REFERÊNCIAS:
ADORNO, T. Notas de Literatura. São Paulo: Duas
Cidades; Ed. 34, 2003.
AIRA, C. Pequeno Manual de Procedimentos.
Curitiba: Arte & Letra, 2007.
FOUCAULT, M. Estética: literatura e pintura, música e cinema.
Organização e seleção de textos: Manoel Barros da Motta. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2001.
GOMES, D. de O. Dissonâncias de Foucault. São Paulo:
Lumme Editor, 2012.
____. Nódulos de Foucault (das possibilidades
rizomáticas de ainda ouvi-lo). Artigo submetido à banca para ascensão de
nível. Ponta Grossa, 2018.
____. de O. Saber é poder. Jundiaí: Paco Editorial,
2015.
GOTLIB, N. B. A
descoberta do mundo. In: Cadernos de
Literatura Brasileira. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2004.
LISPECTOR, C. Água Viva. 5 ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1980.
____. Perto do Coração Selvagem. Rio de
Janeiro: Rocco, 1997.
____. Um sopro de vida (Pulsações). Rio de
janeiro: Rocco, 1999.
VIEIRA, A. Sermões
Texto apresentado na Banca para Professor Titular na UEPG, em Ponta Grossa (PR), em julho de 2018, na qual o professor Daniel de Oliveira Gomes ascendeu de nível, a quem agradeço pela oportunidade e parabenizo pela trajetória acadêmica
[1] Relembremos do prefácio de Albuquerque Júnior para as
Dissonâncias de Foucault/Daniel. Para ele, um texto de Michel Foucault causa
impacto “não apenas pelas coisas que diz, mas pela forma de dizer”. O filósofo
é um pensador que impressiona, “não apenas pelo que diz, mas pela forma como o
diz”. O que lemos nesse livro, segundo o prefaciador não é o pensamento de
Foucault, “são e não são suas ideias retornadas através da voz, da escritura,
da sonoridade produzida pelos ensaios de Daniel de Oliveira Gomes” (in GOMES, 2012, p. 11-19).
[2] Lembremos que, em um diálogo
entre Foucault e P. Boulez intitulado “A música contemporânea e o público”,
publicado na C.N.A.C. Magazine em 1983, Foucault falou sobre a complexidade da
música erudita contemporânea e sua relação com os ouvintes em uma época regida
meramente pelas leis do mercado. Para ele, não é preciso dar acesso à música
rara, mas dar “uma convivência com ela menos determinada pelos hábitos e
familiaridades” (2001, p. 394). O filósofo chama a atenção para o fato da
evolução da música a partir de Debussy ou Stravinski apresentar correlações
notáveis com a da pintura. Observou também que os problemas teóricos que a
música colocou para si mesma decorrem de uma interrogação que atravessa todo o
século XX: “interrogação sobre a forma, aquela de Cézanne ou dos cubistas, a de
Schönberg, e também a dos formalistas russos ou a da Escola de Praga” (2001, p.
391). Penso que a
preocupação com uma música de pensamento em Foucault parece se expandir também
para o pensamento musical de Daniel.
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