Na
palestra "Que emoção!Que emoção?", proferida a jovens com mais de dez
anos, Georges Didi-Huberman, inspirado nas conferências radiofônicas de Walter Benjamin
para crianças, relembra que a emoção é um ato primitivo e fazendo referência ao
livro "A expressão das Emoções nos Homens e nos Animais", de Darwin, observa
que para este naturalista a emoção pode ser encontrada sobretudo nos animais,
nas crianças, nas mulheres, nos velhos e em povos que têm pouca relação com os
europeus. Os "selvagens" a que se refere Darwin, nesse caso, estariam
numa franca oposição aos ingleses que não choram "a não ser sob a pressão
da dor moral mais pungente". Sob a égide dessa curiosa polaridade, centrada na
existência de sujeitos que se emocionam e de sujeitos que não se emocionam,
nasce a expressão típica de que o sujeito que expõe sua emoção aos outros, como
que expondo sua própria nudez, seria patético. E tal argumento, na maior parte
das vezes, viria carregado de um certo desprezo. Emocionar-se é uma vergonha.
Invertendo a carga negativa do
choro, da emoção, bem como da exposição desse sentimento, Didi-Huberman
reconhece que aquele que se comove diante dos outros não merece desprezo:
"Ele expõe a sua fraqueza, ele expõe
o seu impoder, ou a sua impotência, ou a sua impossibilidade de
'enfrentar', de fazer boa figura, como se costuma dizer". Nesse sentido, mostrar uma emoção implica num ato de
honestidade, na recusa de um fingimento. Trata-se, portanto, de um ato de
coragem.
Se para Kant a emoção é entendida
com o "defeito da razão", para Hegel as coisas vivas têm o privilégio
da dor. Essa tragédia exuberante, como sabemos, em Nietzsche, terá seu valor
positivo restituído. Didi-Huberman lembra que o pensamento filosófico a partir
de então se modificará profundamente. O filósofo do trágico se debruçará pela
poesia, pela arte e literatura mais do que pelas verdades eternas de uma
filosofia dogmática: "Depois de Nietzsche, os filósofos comovem-se um
pouco mais (...)". E a partir de Bergson as
emoções serão entendidas como gestos ativos, gestos de paixão, movimento,
portanto, na expressão "patético" o sentido aristotélico da forma
passiva "pathos" (paixão ligada à impossibilidade de agir) daria
lugar a um gesto ativo, a emoção entendida como e-moção, moção, um movimento que consiste em colocar-nos para fora
de nós mesmos. A emoção produz, a emoção gera, nos move, se movimenta. Não é à
toa que Aby Warburg, aliás lido amplamente por Didi-Huberman e citado na
palestra, tenha se dedicado tanto a sua "pathosformel", preocupado em
pensar na historicidade das emoções, na vida das imagens postas em movimento,
programa materializado em seu Atlas Mnémosine.
Didi-Huberman
Seguindo ainda o pensamento
emocionado de Didi-Huberman,
lembremos que as emoções, pensadas como moções, movimentos, comoções, são
também transformações daqueles que estão comovidos:
Transformar-se é
passar de um estado a outro: está então bem reforçada a nossa ideia de que uma
emoção não pode se definir como um estado de pura e simples passividade. É
mesmo através das emoções que podemos, eventualmente, transformar o nosso
mundo, na condição, é certo, de que elas se transformem elas próprias em
pensamentos e ações (DIDI-HUBERMAN).
Brota daí, por exemplo, a leitura
que o teórico faz do filme O Couraçado Potemkine,
de Eisenstein, no qual em uma de suas passagens - a das mulheres que choram e
se recolhem diante do cadáver do marinheiro assassinado -, a tristeza do luto
se transforma em cólera surda para depois se transformar em discursos políticos
e cantos revolucionários, ou seja em uma "cólera exaltada". Do luto à
luta. Da lágrima da emoção à moção das armas. Se não podemos certamente fazer
política real apenas com sentimentos, ensina-nos Didi-Huberman, "também
certamente não podemos fazer boa política desqualificando as nossas emoções
(...)"(DIDI-HUBERMAN, 2015, p. 45).
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