segunda-feira, 6 de junho de 2016

Texto em homenagem a Francisco Filipak, lido na Sessão da Saudade, da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, em 2010


Boa noite a todos. Gostaria, inicialmente, de cumprimentar a presidente da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, a senhora Terezinha Wolff, cumprimentar também o excelentíssimo diretor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, o bacharel Valderley Garcia Sanches e ao cumprimentá-lo, estender a saudação às demais autoridades que aqui se encontram bem como a todos os presentes, amigos professores, diletos acadêmicos da FAFI e da ALVI, familiares do saudoso professor Francisco Filipak, comunidade em geral.
Em nome do Colegiado de Letras, quero externar a nossa satisfação em participar da Sessão da Saudade, da ALVI, em homenagem àquele que foi uma das figuras mais proeminentes desta instituição de Ensino Superior. E falar também da minha honra em ocupar hoje a cadeira que durante anos pertenceu ao professor Filipak, a de literatura. O que de um lado significa uma grande alegria, de outro, representa uma grande responsabilidade, aquela de estar à altura dos ensinamentos do sábio professor que, consciente da impossibilidade de separar a arte da ciência, foi ao mesmo tempo, professor e poeta, tendo, assim, a autoridade para falar de literatura não apenas com saber, mas também com sabor. Sabemos que professores vocacionados como Francisco Filipak são insubstituíveis, cabendo a nós, seus continuadores tentar manter acesa aquela luminária por eles acendida. Aliás, Luminária foi o nome escolhido por Filipak para a revista oficial da FAFI, lançada em 1972. No prefácio da publicação, nosso querido mestre comentava o motivo da escolha: “Luminária, como diz o seu nome, vem lançar uma luz sobre os fatos da nossa história, nossas letras, nossa cultura, nossas belezas telúricas do Vale do Iguaçu”. A revista, idealizada também por ele, continua viva e mantém o vigor das primeiras edições, sendo a prova de que uma luz forte, inteligente e permanente, está fadada a continuar irradiando eflúvios de sabedoria e investigação científica.
Por vezes, na ilusão do eterno presente, esquecemo-nos de que o que somos hoje, enquanto instituição, se deve não apenas ao nosso trabalho, mas principalmente ao trabalho de todos aqueles que, ao longo dos tempos, dedicaram, incansáveis, horas, dias, meses, anos, de força, amor e dedicação, à edificação de uma comunidade acadêmica voltada para a consolidação de uma sociedade mais justa, igualitária, inteligente e feliz, tendo como armas de trabalho, os livros, o conhecimento, e o amor pela troca de experiências. Lembro-me que tive o prazer de conhecer e ouvir o professor Francisco Filipak nas dependências da FAFIUV. Falava ele sobre a criação da revista Luminária e relembrava a famosa Antologia do Vale do Iguaçu.    
A Antologia merece um comentário à parte. Em 1976, Filipak, juntamente com o professor Nelson Antônio Sicuro, reuniram pela primeira vez, textos de um seleto grupo de escritores, oriundos da região do Vale do Iguaçu, que se dedicaram às letras regionais. Poetas, contistas, cronistas, romancistas e historiadores de municípios como União da Vitória, Rio Negro, São Mateus do Sul, Cruz Machado, Irati, Palmas, Porto União e Canoinhas figuraram no livro que recebeu o sugestivo título de Antologia do Vale do Iguaçu. O livro, fruto de um trabalho de pesquisa executado com presteza e fôlego, reuniu obras já publicadas de poetas e prosadores de renome e produções literárias até então desconhecidas. “Norteados pelo espírito de fraternidade e pelo desejo de estreitar cada vez mais os elos de amizade e colaboração entre os dois Estados irmãos”, como sugeriu Francisco Filipak na apresentação, os organizadores passaram às mãos dos leitores páginas inspiradas nos valores culturais do Vale do Iguaçu. 
Em 2010, depois de 34 anos de publicação da primeira antologia e em comemoração aos 50 anos da FAFIUV, o Colegiado de Letras decidiu retomar as pesquisas sobre a produção literária da região, entendendo que o compromisso do curso é também o de mapear, investigar e divulgar a literatura produzida no Vale do Iguaçu, um precioso bem cultural e simbólico do sul do Brasil. O projeto foi intitulado Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu. Foi uma forma que o setor de Literatura do Colegiado encontrou não só de dar continuidade à brilhante ideia de Francisco Filipak e Nelson Sicuro, mas também de homenagear esses dois professores que marcaram profundamente a história do nosso curso e da nossa Faculdade. Francisco Filipak, por meio da professora Fahena Porto Horbatiuk, tomou conhecimento do nosso trabalho, antes de partir, e entusiasmado, preparou uma série de trovas telúricas que foram incluídas na nova antologia. São poemas inéditos que demonstram a versatilidade e o conhecimento do poeta Filipak, bem como o seu amor pelo Paraná. Agradecemos carinhosamente à família Filipak, pela autorização da publicação desse precioso material.  

O nosso poeta e professor sabia que a literatura pode muito. Ela pode nos estender a mão quando estamos profundamente deprimidos, pode nos tornar ainda mais próximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. Em um mundo onde imperam a violência, a desunião e a exacerbada valorização dos bens materiais, Filipak optou pela poesia. Armas? Não. Flores. Hoje, se me pergunto por que esse íntegro professor amava a literatura, a resposta me vem espontaneamente: porque ela o ajudava a viver. Segundo Todorov, não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na adolescência, que nos preservasse das feridas que poderíamos sofrer nos encontros com pessoas reais; em lugar de excluir as experiências vividas, ela nos faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e nos permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloqüente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e imaginá-lo. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe se ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de humano. Francisco Filipak sabia onde estava pisando. Nós, do Colegiado de Letras, agradecemos ao poeta e professor, por ter, não apenas fomentado a criação do nosso curso, mas também por ter dividido conosco, o que significa somar, seus conhecimentos, sua humildade, seu prazer pelo estudo da linguagem, seu amor pela educação. Crendo na existência de esferas cósmicas superiores, projetamos nosso pensamento, desejando que nosso sentimento de saudade e gratidão seja sentido pelo querido mestre em uma outra dimensão, uma dimensão que julgamos desconhecer, mas que talvez nos permita uma comunhão, toda vez que lembrarmos do mestre, com carinho, ou mesmo quando lermos sua bela poesia.

Prof. Caio Ricardo Bona Moreira
Colegiado de Letras - UNESPAR

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