Adolfo
Casais Monteiro, nos anos 60 - década que se confirmou como demasiadamente
estruturalista -, evocou, em Clareza e Mistério da Crítica, a parcialidade e a paixão como traços fundamentais do
pensamento crítico, entendido como dom.
A paixão é indicada como uma força que se opõe ao frio raciocínio, não
significando, portanto, cegueira ou demência (1961). Como leitor da tradição
romântica alemã, Casais Monteiro observa que a crítica participa do próprio
movimento criador da literatura, chegando a argumentar que ela não está na
dependência da obra anteriormente criada, mas que “apenas continua, a prolonga,
e, assim, não se distingue dela por oposição”. Dessa forma, delega à crítica um trabalho que
suplanta o mero julgamento, compreendendo que cabe a ela não necessariamente
rotular uma obra, um autor, mas “atualizá-los permanentemente, conservá-los
vivos”. Como a poesia,
estaria no campo das intensidades não meramente judicativas ou paradigmáticas. É
desse vislumbre que surge seu argumento provocador, dirigido a uma comunidade
específica: “(...) velai o rosto, ó cientistas da crítica! – o bom crítico é...
o artista da crítica”.
As reticências com as quais o autor pontua as frases, que bem poderiam ser
lidas como dois versos decassílabos, sugerem não apenas um ar de mistério,
capaz de suscitar no leitor a expectativa da resposta, mas também uma ideia de
união, isso porque os três pontos não têm, aqui, o propósito de divórcio.
O bom
crítico, para ele, não é apenas o artista, mas o “artista da crítica”. Logo,
não defende que a crítica não deva ser exercida por críticos, no entanto tais
críticos devem dispor da paixão e da imaginação, como princípios
constitutivos do ato de criticar. Imaginação, criatividade e pensamento crítico
seriam, assim, elementos fundamentais na atividade que envolve tanto uma esfera
quanto a outra.
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