Willi
Bolle, em grandesertão.br,
considera Grande
Sertão: Veredas uma reescrita crítica de Os
Sertões, de Euclides da Cunha. Segundo o pesquisador, Guimarães Rosa
organiza a sua narração em forma de redes temáticas, uma espécie de network, no
qual o sertão é o mapa alegórico do Brasil; o sistema jagunço, a instituição
entre a lei e o crime; o pacto com o diabo, a alegoria de um falso pacto
social; a figura de Diadorim, o desafio para desvendar o dissimulado e o
desconhecido; e a fala do povo, o próprio labirinto da língua. Essa rede serve
de meio para observar e investigar a rede dos discursos sobre o país. Dessa
maneira, a leitura de Willi Bolle se inscreve numa linhagem interpretativa que
analisou no texto rosiano a experiência histórica. Mas nesse caso, uma
experiência interpretada, à luz de um modelo dialético, a partir das
experiências de linguagem. Ou seja, o problema externo é incorporado ao romance
como um elemento de composição interno (situação narrativa, linguagem, etc).
Para
Bolle, Rosa, ao contrário de Euclides da Cunha, trata o povo não como um objeto
de estudo e de teorias, mas como sujeito capaz de inventar e narrar sua própria
história. A análise de Bolle poderia ser menos sociológica, no entanto, a obra
crítica é bem fundamentada e ilumina muitos detalhes do livro de Rosa. Pequenos
detalhes como a análise do mapa que compõe uma de suas edições, criado por Poty
Lazarotto e Guimarães,são bastante interessantes.
Willi
Bolle compara o romance de Guimarães com os principais ensaios de formação, de
Euclides da Cunha a Darcy Ribeiro, passando por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque
de Holanda, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Raimundo Faoro, Antonio Candido e
Florestan Fernandes. A hipótese de Bolle é a de que por ser uma história a
partir do Mal, Grande Sertão revela mais sobre as estruturas sociais e
políticas do que o padrão dos bem-intencionados programas escolares. O discurso
do narrador luciférico do livro aguça a nossa sensibilidade para aquelas formas
do falso no espaço público, observadas por Walnice Nogueira Galvão, em texto
sobre Guimarães Rosa. A tese de Willi Bolle é que o romance de Guimarães é o
mais detalhado estudo de um dos problemas cruciais do Brasil: a falta de
entendimento entre as classes dominantes e as classes populares, o que
constitui um sério obstáculo para a verdadeira emancipação do país. Ao comparar
o Grande Sertão:
Veredas com os
referidos ensaios sociológicos e historiográficos, o pesquisador chegou à
conclusão de que esse livro é o romance de formação do Brasil. Não no sentido
convencional do bildungsroman, que está centrado no indivíduo em oposição do romance
social. É o romance de formação do país, e não de um indivíduo, na medida em
que o autor, por meio da invenção da linguagem, “refinou o medium para esse
país se pensar a si mesmo”.
Com
isso, Willi Bolle se afasta da tendência da recepção (1950 – 1990), que
privilegiou leituras existenciais, esotéricas e metafísicas, que tentaram
explicar a obra. Outra tendência da qual Bolle se afasta é aquela que, na época
da ditadura militar, aniquilou o ethos histórico. Com isso, o crítico tenta
recuperar uma leitura da história, ausente até então.
Para
Walnice Nogueira Galvão, Rosa dissimula a História para melhor desvendá-la. O
próprio escritor chegou a afirmar no prefácio do livro Tutaméia que a história quer ser
estória. Guimarães Rosa, apesar de se inscrever na linhagem
das obras de formação do Brasil, delas se fasta em vários aspectos.
Distancia-se, por exemplo da grandiloquência de Euclides da Cunha. Através da
reinvenção da linguagem, Rosa não se limita a escrever sobre o povo, como o
autor de Os Sertões,
mas faz com que as pessoas do povo sejam elas mesmas donos das palavras. O
mesmo se dá com a representação do espaço: “O olhar de Guimarães Rosa sobre o
sertão é o exato oposto das vistas euclidianas do alto: é uma perspectiva
rasteira. Enquanto o ensaísta-engenheiro sobrevoa o sertão como num aeroplano,
o romancista caminha por ele como por uma estrada texto. Ou então ele atravessa
o sertão como um rio. Com a transformação do sertão em espaço labiríntico, Rosa
recupera o desenho de um Brasil recalcado, que Euclides e os adeptos do
desenvolvimentismo, com sua mítica fé no progresso, fazem de conta que se
apagará. Para Bolle, a razão de ser histórica do discurso labiríntico de
Guimarães Rosa é constatar a visão linear e progressista da história em Euclides.
Willi
Bolle, em grandesertão.br,
considera Grande
Sertão: Veredas uma reescrita crítica de Os
Sertões, de Euclides da Cunha. Segundo o pesquisador, Guimarães Rosa
organiza a sua narração em forma de redes temáticas, uma espécie de network, no
qual o sertão é o mapa alegórico do Brasil; o sistema jagunço, a instituição
entre a lei e o crime; o pacto com o diabo, a alegoria de um falso pacto
social; a figura de Diadorim, o desafio para desvendar o dissimulado e o
desconhecido; e a fala do povo, o próprio labirinto da língua. Essa rede serve
de meio para observar e investigar a rede dos discursos sobre o país. Dessa
maneira, a leitura de Willi Bolle se inscreve numa linhagem interpretativa que
analisou no texto rosiano a experiência histórica. Mas nesse caso, uma
experiência interpretada, à luz de um modelo dialético, a partir das
experiências de linguagem. Ou seja, o problema externo é incorporado ao romance
como um elemento de composição interno (situação narrativa, linguagem, etc).
Para
Bolle, Rosa, ao contrário de Euclides da Cunha, trata o povo não como um objeto
de estudo e de teorias, mas como sujeito capaz de inventar e narrar sua própria
história. A análise de Bolle poderia ser menos sociológica, no entanto, a obra
crítica é bem fundamentada e ilumina muitos detalhes do livro de Rosa. Pequenos
detalhes como a análise do mapa que compõe uma de suas edições, criado por Poty
Lazarotto e Guimarães,são bastante interessantes.
Willi
Bolle compara o romance de Guimarães com os principais ensaios de formação, de
Euclides da Cunha a Darcy Ribeiro, passando por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque
de Holanda, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Raimundo Faoro, Antonio Candido e
Florestan Fernandes. A hipótese de Bolle é a de que por ser uma história a
partir do Mal, Grande Sertão revela mais sobre as estruturas sociais e
políticas do que o padrão dos bem-intencionados programas escolares. O discurso
do narrador luciférico do livro aguça a nossa sensibilidade para aquelas formas
do falso no espaço público, observadas por Walnice Nogueira Galvão, em texto
sobre Guimarães Rosa. A tese de Willi Bolle é que o romance de Guimarães é o
mais detalhado estudo de um dos problemas cruciais do Brasil: a falta de
entendimento entre as classes dominantes e as classes populares, o que
constitui um sério obstáculo para a verdadeira emancipação do país. Ao comparar
o Grande Sertão:
Veredas com os
referidos ensaios sociológicos e historiográficos, o pesquisador chegou à
conclusão de que esse livro é o romance de formação do Brasil. Não no sentido
convencional do bildungsroman, que está centrado no indivíduo em oposição do romance
social. É o romance de formação do país, e não de um indivíduo, na medida em
que o autor, por meio da invenção da linguagem, “refinou o medium para esse
país se pensar a si mesmo”.
Com
isso, Willi Bolle se afasta da tendência da recepção (1950 – 1990), que
privilegiou leituras existenciais, esotéricas e metafísicas, que tentaram
explicar a obra. Outra tendência da qual Bolle se afasta é aquela que, na época
da ditadura militar, aniquilou o ethos histórico. Com isso, o crítico tenta
recuperar uma leitura da história, ausente até então.
Para
Walnice Nogueira Galvão, Rosa dissimula a História para melhor desvendá-la. O
próprio escritor chegou a afirmar no prefácio do livro Tutaméia que a história quer ser
estória. Guimarães Rosa, apesar de se inscrever na linhagem
das obras de formação do Brasil, delas se fasta em vários aspectos.
Distancia-se, por exemplo da grandiloquência de Euclides da Cunha. Através da
reinvenção da linguagem, Rosa não se limita a escrever sobre o povo, como o
autor de Os Sertões,
mas faz com que as pessoas do povo sejam elas mesmas donos das palavras. O
mesmo se dá com a representação do espaço: “O olhar de Guimarães Rosa sobre o
sertão é o exato oposto das vistas euclidianas do alto: é uma perspectiva
rasteira. Enquanto o ensaísta-engenheiro sobrevoa o sertão como num aeroplano,
o romancista caminha por ele como por uma estrada texto. Ou então ele atravessa
o sertão como um rio. Com a transformação do sertão em espaço labiríntico, Rosa
recupera o desenho de um Brasil recalcado, que Euclides e os adeptos do
desenvolvimentismo, com sua mítica fé no progresso, fazem de conta que se
apagará. Para Bolle, a razão de ser histórica do discurso labiríntico de
Guimarães Rosa é constatar a visão linear e progressista da história em Euclides.
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