domingo, 9 de setembro de 2018

Poema em chamas para o Museu Nacional



Uma reforma no museu não recuperará o afresco de Pompéia, 
O trono de Adandozan, rei do Daomé, ou seu par de sandálias talhado em madeira, 
Nunca mais os cachimbos, conchas, corais, besouros, borboletas, bengalas, múmias 
ancestrais, artefatos etruscos, objetos em desuso que nem sonhava Cabral, 
todos os cacos de um mundo que ainda existia e que agora, contudo, são memórias de um
Brasil do futuro que vai ficando cada vez mais para trás, 
A cabeça de Luzia, outra vez extinta (agora e para sempre), 
o megatério ou preguiça, gigante a encantar as crianças nessa casa imperial, o esquife de
Sha-amun-en-su, e outros sarcófagos há milhares luzindo ouro e seus egitos faraônicos, 
ou o meteorito, todos os tipos de esqueletos, libélulas fossilizadas, cujo voo se misturou às
labaredas da Quinta da Boa Vista, 
variados fragmentos de um mundo de outrora, coisas de dona Teresa Cristina ou de dona
Leopoldina, plumária dos povos indígenas, pedaços de outros impérios, ecos incas ou
tikunas, seus milagres de pervivência, sua teimosia em restar, 
são milênios misturados em cinzas, sábio signo agora incinerado e destinado tragicamente
a se apagar. 
Por quanto tempo a natureza guardou o Maxakalisaurus topai?
O presidente dinossáurico em jornal declarou: "Foram perdidos duzentos anos de trabalho,
pesquisa e conhecimento". Digo: perdidos foram milênios. Eras foram queimadas. Uma
reforma no museu nada disso salvará. Uma reforma no país o Brasil salvará? 
Onde a verba para pesquisa? Onde o pataco do patrimônio, onde a cota da CAPES, onde a
água pra tanto fogo apagar? 
Trágico esse sinistro final! quantos milênios serão necessários para reconstruir o Museu
Nacional?
c.moreira

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