Flora Süssekind, em um de seus "Papeis Colados", ao procurar determinar em que período
se deu o início da “crítica moderna” no Brasil, observa:
(...) em sintonia com as primeiras gerações de formandos das faculdades de Filosofias, criadas nos anos 1930, percebe-se em meados da década de 1940 tensão cada vez mais evidente entre um modelo crítico pautado na imagem do homem de letras, do bacharel, e cuja reflexão, sob a forma de resenhas, tinha como veículo privilegiado o jornal; e um outro modelo, ligado à especialização acadêmica, o crítico universitário, cujas formas de expressão dominantes seriam o livro e a cátedra (2003).
(...) em sintonia com as primeiras gerações de formandos das faculdades de Filosofias, criadas nos anos 1930, percebe-se em meados da década de 1940 tensão cada vez mais evidente entre um modelo crítico pautado na imagem do homem de letras, do bacharel, e cuja reflexão, sob a forma de resenhas, tinha como veículo privilegiado o jornal; e um outro modelo, ligado à especialização acadêmica, o crítico universitário, cujas formas de expressão dominantes seriam o livro e a cátedra (2003).
Até
os anos 50, a “crítica de rodapé” – ou seja, aquela produzida sob forma de
resenhas, ensaios e impressões, que predominava na esfera jornalística –
triunfou na esfera cultural. Tratava-se de uma crítica ligada à
não-especialização. Segundo Süssekind (2003), ela oscilava entre a crônica e o
noticiário puro e simples, cultivava a eloquência e visava a se adaptar às
exigências e ao ritmo industrial da imprensa. Intelectuais como Agripino Grieco,
Álvaro Lins, Wilson Martins e Otto Maria Carpeaux - herdeiros dos
impressionistas do século XIX - foram
alguns de seus representantes. Eram eles os “homens de letras”, os praticantes
de um impressionismo, de um autodidatismo que se contrapunha a uma geração de
críticos formados pelas faculdades de Filosofia do Rio de Janeiro e de São
Paulo, criadas na década de 30. Estes, por sua vez, estariam interessados na
especialização, na crítica ao personalismo, na pesquisa acadêmica que envolvia
os estudos literários. Sob o ponto de vista de Süssekind, do embate entre esses
dois modelos distintos, modernizam-se os estudos literários no Brasil. Para os
representantes do modelo acadêmico, os impressionistas seriam apenas “amadores”,
não estando qualificados para produzir crítica. Segundo Süssekind, a palavra de
ordem parecia ser a caça aos amadores:
Essa desqualificação do crítico amador lembra bastante a perseguição ao “charlatão” a partir de 1882, quando da criação das faculdades de Medicina no Brasil. É em oposição à figura deste médico sem diploma, ilegal, a que se denomina “charlatão”, que os “formados regularmente” afirmam publicamente a própria importância. E definidos como “verdadeiros médicos” aumentam sua área de influência na sociedade brasileira do século passado (2003).
Essa desqualificação do crítico amador lembra bastante a perseguição ao “charlatão” a partir de 1882, quando da criação das faculdades de Medicina no Brasil. É em oposição à figura deste médico sem diploma, ilegal, a que se denomina “charlatão”, que os “formados regularmente” afirmam publicamente a própria importância. E definidos como “verdadeiros médicos” aumentam sua área de influência na sociedade brasileira do século passado (2003).
Ainda
no final do século XIX, vemos proliferar o modelo impressionista.
No entanto, ao invés de perceber nela apenas o devaneio crítico, ou o mero
trabalho de um charlatão, desprovido de especialização para o trabalho, podemos
inverter o processo, e buscar nela sentidos obliterados pela tradição que lhe é
adversária.
Manifestações críticas que integram uma linhagem
que poderíamos chamar de impressionista parecem funcionar como uma primeira
tentativa entre nós - talvez ainda inconsciente -, de um pensamento que não deseja
ser apenas criativo, mas também enigmático, no sentido proposto por Benjamin
(2002), ou mesmo da negatividade de que nos fala Agamben (2007). Curiosamente,
é também a crítica que foi menosprezada por boa parte dos pesquisadores, que
muitas vezes a tratou pejorativamente como impressionista e falível, justamente
por não ser sistematizada, como foi a “nova crítica”, que encontrou em Afrânio
Coutinho um de seus adeptos mais fiéis no universo acadêmico brasileiro.
Urge relermos figuras como Álvaro Lins, Agripino Grieco, Nestor Vitor etc.
Urge relermos figuras como Álvaro Lins, Agripino Grieco, Nestor Vitor etc.
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