terça-feira, 23 de agosto de 2016

Esquizofrenia produtiva



João Cezar de Castro Rocha, em Crítica Literária: Em busca do tempo perdido, refletindo sobre o atual estado da crítica literária brasileira, bem como desconfiando da vitória da cátedra sobre o rodapé, ou seja, do método sobre o impressionismo, ou ainda, da especialização universitária sobre o diletantismo humanista, propõe a reconstrução da história da institucionalização dos estudos literários para de, alguma forma, "colaborar na invenção do lugar contemporâneo da crítica literária - na universidade e nos meios de comunicação". Tarefa audaz. 



Depois de detectar um certo marasmo na atual crítica produzida do país e de uma ausência de querelas entre os críticos - que ao longo de nossa história sempre impulsionaram a produção literária e crítica; basta lembrar de polêmicas como aquela alimentada entre José de Alencar e Gonçalves de Magalhães, no século XIX - o professor/crítico defende a prática de uma "esquizofrenia produtiva" que preserve as diferenças entre os discursos jornalístico e acadêmico, mas que produza uma "tensão permanente" entre eles, em lugar de uma "conciliação cômoda". Com isso, Castro Rocha não defende o retorno anacrônico à crítica de rodapé, mas a criação de um novo tipo de comentário crítico: 

Comentário que, sem abrir mão das conquistas do ensino universitário, aprenda a dialogar com as preocupações típicas do público leitor, cuja maior parte não necessariamente frequentou a Faculdade de Letras. Por que não atualizar a lição de Antonio Candido e Mário Faustino, fecundando o ensaísmo acadêmico com a clareza do texto jornalístico e, ao mesmo tempo, enriquecendo a visão crítica dos cadernos culturais mediante a formação universitária?.   

Seria essa aproximação ao jornalismo um rebaixamento? Perderia qualidade crítica e/ou poética o comentário a que ele se refere? Qual o lugar do ensaio nesse processo? Questões fecundas.

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