"Quando
falo do ensaio como obra de arte, o faço em nome da ordem (portanto de um modo
quase simbólico e impróprio) e apenas a partir do sentimento de que o ensaio
possui uma forma e se distingue de todas as outras formas de arte com
definitiva força de lei. E se tento isolar o ensaio com o máximo de
radicalismo, é justamente porque o considero uma forma artística".
"Na
ciência, são os conteúdos que atuam em nós; na arte, as formas; a ciência nos
oferece fatos e suas conexões; a arte, almas e destinos".
"Existe,
pois, uma ciência da arte; mas existe ainda um tipo completamente distinto de
exteriorização dos temperamentos humanos cujo meio de expressão na maioria das
vezes é a escrita sobre a arte. Digo na maioria das vezes porque existem muitos
escritos que, embora emanem de tais sentimentos, não têm nenhum contato com a
literatura e arte; neles, encontramos as mesmas questões vitais dos escritos
denominados de crítica, só que essas questões são dirigidas diretamente à vida,
dispensando a mediação da literatura e da arte".
"É
certo que há e tem de haver uma ciência da arte. E os maiores defensores do
ensaio são justamente os que menos podem renunciar a ela: o que eles criam
também precisa ser ciência, mesmo que sua visão da vida haja transcendido o
círculo da ciência. Se por um lado, seu livre voo geralmente é tolhido pelos
fatos imutáveis da seca matéria, por outro, o ensaio costuma perder todo o seu
valor científico, na medida em que, sendo uma visão de mundo, se antecipa aos
fatos e os manipula livre e arbitrariamente. Até hoje, a forma do ensaio, segue
sem concluir o caminho que sua irmã, a poesia, já percorreu há tempos: o do
desenvolvimento rumo à autonomia a partir de uma unidade primitiva,
indiferenciada com a ciência, a moral e a arte".
"O
ensaísta fala de um quadro ou de um livro, mas o abandona em seguida. Por quê?
A meu vero, porque as ideias desse quadro e desse livro se tornaram
preponderantes nele, porque ele esqueceu completamente todo o detalhe concreto,
utilizando-o apenas como ponto de partida, como trampolim. A poesia é anterior
e maior, é mais ampla e mais importante que todas as obras poéticas: é o mais
antigo sentimento vital do crítico literário, mas ele só pôde tomar consciência
disso em nossa época"
"O
ensaio é uma forma de arte, uma configuração própria e cabal de uma vida
própria e completa. Somente agora não soaria contraditório, ambíguo e equívoco
referi-lo como obra de arte e, ao mesmo tempo, ressaltar enfaticamente suas
diferenças em relação à obra de arte; o ensaio se posiciona diante da vida com
o mesmo gesto de uma obra de arte, mas apenas o gesto, a soberania de sua
tomada de posição, pode ser o mesmo; fora isso não resta nenhum contato entre
eles"
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