quinta-feira, 10 de abril de 2008

A HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONTOU OU A VITÓRIA DE OSWALD DE ANDRADE NAS ELEIÇÕES DE 1950



escapulário
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia de Cada Dia
(o. de andrade)

Parte 1

Um amigo costumava dizer que a história se parece com uma anedota. Uma piada. Depois de pensar sobre isso, adotei a premissa de que só posso entender a história se reinventá-la. Levei ao extremo a ideia desse juízo que me encheu de júbilo e frenesi.O passado tem vida própria e segue sozinho. Por exemplo, se estou numa encruzilhada e decido seguir à direita, o caminho da esquerda não existe apenas como um trajeto não realizado. Eu sou dois. Eu me fragmento. Mesmo seguindo um caminho e não o outro fiz as duas travessias. A diferença é que a outra viagem não é tão palpável quanto aquela que trago comigo como um feito realizado debaixo do meu colchão. Sou mesmo desconfiado.

Parte 2
Depois das eleições é comum que os meios de informação noticiem a vitória de um e a derrota de outro, o que é sempre relativo. As vitórias não são essências e muitas vezes se parecem muito mais com uma grande sacanagem. O mesmo vale para as derrotas. Na história do outro caminho, não contada pela história, meu candidato venceu. Oswald de Andrade não tardou a desafinar o coro dos contentes e passou na prova dos nove. Depois da posse, convenceu os correligionários a defenderem um projeto antropofágico. Primeiro deveriam convencer os adversários a adotarem uma medida provisória autofágica. Só pra ver se sumiam do mapa. Deu certo. O Brasil era agora uma tribo pós-nacionalista. Para que pregar o rompimento com o FMI se poderíamos emprestar dele todo o capital necessário? Rejeitaríamos o resto. Regurgitaríamos o excesso do nacionalismo careta e pregaríamos um meta-Brasil sem muleta.Não tardou o sucesso da proposta. Alguns anos depois, Oswald foi eleito Pajé da tribo Tupiniquim. Todos usávamos óleo de urucum, colares e calças jeans. Haveria tecido melhor para bater todo dia? Jogamos fora o hino neo-romântico e todos cantávamos Trenzinho Caipira sob a batuta do maestro. Mário foi para o Ministério da Cultura, de onde só saía com o seu gravador para viagens ao interior em busca de materiais autênticos, ou para trocar palavras secretas com seu assessor dentro do banheiro, mas ninguém ligava. Nas escolas, os alunos aprendiam o tupi, mas também o português, o inglês e o francês. Era preciso conhecer para deglutir – não dá pra comer o que a gente não conhece. Ninguém nunca ouviu falar em “mensalão”.Quando consegui estabelecer uma comunicação com a outra realidade e contei o que era o Brasil desse lado, ninguém acreditou. Apontaram-me arcos e flechas: Só existia um Brasil, o deles. Minha “estória” soou como uma piada. No final, riram e prepararam um caldo com o estrangeiro. Meu “eu” daquele lado tentou me defender. Virou farofa.

Caio Ricardo Bona Moreira
publicado originalmente em
www.oescambal.blogspot.com

Nenhum comentário: