quinta-feira, 10 de abril de 2008

ONDE POSSO ENCONTRAR UM CD PIRATA DO NOEL ROSA?

Caetano Veloso, em “Samba de Paz”, uma de suas primeiras composições, dizia: “O samba vai vencer / quando o povo perceber / que é o dono da jogada”. Digam o que disserem, o samba nasceu entre umbandas, capoeiras e batuques no prato, e batuques na palma da mão. O samba é do povo – assim como a praça. Mas quem disse que o povo não faz poesia?Foi nas casas das “tias” baianas da Praça Onze que o samba ganhou o compasso certo. “Pelo Telefone”, de autoria discutida, mas assinada por Ernesto dos Santos, o Donga, foi o marco inicial do gênero, mesmo que outros sambas menores o tenham antecedido.

Conta-se que a Tia Ciata teve parceria na composição. Aquela mesma Tia Ciata que virou personagem de “Macunaíma”, do Andrade. Mesmo sem nenhum registro da voz de Donga, sabemos exatamente como as músicas eram cantadas. O samba tem essa capacidade incrível de passar de roda em roda como um vírus contagioso e letal. Só mata de alegria, a não ser aqueles do ti-cu-tu-co-no-cutuco, que, de faca e prato na mão, marcam o ritmo frenético do morro, mas depois acabam brigando por causa de uma mulata dengosa que mantinha um caso amoroso com ambos.Não podemos ouvir a voz de Donga, mas podemos visualizar a animação (alma do samba) que regava os batuques em sua casa: Pixinguinha e Jacob do Bandolim só para citar alguns.

O samba-maxixe “Pelo Telefone” talvez seja o primeiro samba engajado da nossa história, empenhado não somente em ser arte de festa, já que a origem do samba como arte só pode ser observada como “arte de festa”, longe dos manuais esteticistas e museus caducos, mas principalmente em criticar corrupção policial que rondava o Rio de Janeiro do início do século XX.Os apaixonados por categorizações e gêneros adorariam classificar: Samba-choro, samba-canção, partido alto, samba de breque, samba exaltação, samba de roda, samba enredo, pagode, e por aí vai. Com a explosão do rádio, o samba desce o morro e penetra sem pedir licença nos lares burgueses, classe A e B, meu pai comprou um rádio, seu pai não tem. Mansamente vem chegando: Francisco Alves, Orlando Silva, Noel Rosa, etc. São lançados os famosos discos de 78 RPM, hoje dificilmente encontrados em sebos e lojas especializadas em antiguidades, êta passado quase presente-remoto-e-careta. Os ouvintes da Rádio Nacional (inclusive os daqui de Porto União – cofrinho do mundo) encomendavam os discos e esperavam ansiosamente para “fazer funcionar a vitrola”.

Cada disco comportava, na maioria das vezes, apenas duas pérolas, uma de cada lado do disco. E falavam para os vizinhos: “Você já ouviu “Linda Flor (Ai, Ioiô)?”, coisa linda: ai ioiô, eu nasci pra sofrer, fui olhar pra você, meus óinho fechou!”. Cada lançamento era uma festa. Hoje, a coisa só não é mais fácil, porque só poderia ficar mais difícil. Milhões e milhões de CDs piratas encontrados em cada esquina. Os títulos são sempre os mesmos: “Bruno e Marrone, Zezé de Camargo e Luciano, Sandy e Júnior. Por que não copiam um CD do Jards Macalé? Nunca vi um CD do Jards Macalé numa banca de CD pirata. E do Cartola? É urgente, onde está a antologia do Noel Rosa pirateada? Quem vai levar?

Caio Ricardo Bona Moreira
publicado originalmente em
www.oescambal.blogspot.com

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